1. INTRODUÇÃO GERAL A agricultura brasileira emprega 24,5% da ...

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A agricultura brasileira emprega 24,5% da população economicamente ativa, sendo desse total 70% pertencentes à família e o restante tem ocupação fora dela ...
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1. INTRODUÇÃO GERAL

A agricultura brasileira emprega 24,5% da população economicamente ativa, sendo desse total 70% pertencentes à família e o restante tem ocupação fora dela, inclusive como assalariados (ALVES, 2001). No Estado do Pará, de acordo com Vilar e Costa (2000) citados por Matos (2005), o processo de mudança de base produtiva da agricultura familiar, através da implantação de culturas permanentes nas estruturas familiares de produção, teve inicio na década de 1980. O conceito de Agricultura Familiar (AF) é variado e compreende diferentes interpretações por pesquisadores e estudiosos. De acordo com Abramovay (1997) agricultura familiar é aquela em que a gestão, propriedade e maior parte do trabalho vêm de indivíduos que mantém entre si laços de sangue ou de casamento. Esta definição apresenta três atributos básicos e comuns à agricultura familiar: gestão, propriedade e trabalho familiar. Wanderley (1997), por sua vez, revela que agricultura familiar é aquela em que a família ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção assume o trabalho no estabelecimento produtivo. Há mais de uma década instituições regionais vêm sinalizando avanços com relação às políticas públicas direcionadas à agricultura familiar (VEIGA, 2003). Segundo o autor algumas características fazem com que a agricultura familiar se torne um modelo importante, dentre elas, a diversificação de seus produtos, integração da gestão e do trabalho, as tomadas de decisão, os serviços com insumos internos, durabilidade dos recursos naturais e, conseqüentemente, melhoria na qualidade de vida. Veiga (2003) discute, ainda, dois modelos que permitem visualizar as principais formas de produção agropecuária, quais sejam:

“Modelo Patronal”

“Modelo Familiar”

- Separação entre gestão e trabalho

- Trabalho e gestão intimamente relacionados

- Organização centralizada

-

- Ênfase na especialização e práticas agrícolas

diretamente pelos proprietários

- Trabalho assalariado predominante

- Ênfase na diversificação, durabilidade dos recursos

- Tecnologias dirigidas à eliminação das decisões de

naturais, uso de insumos internos e qualidade de vida

“Terreno” e “momento”

- Trabalho assalariado complementar

- Tecnologias voltadas, principalmente, á redução das

- Decisões imediatas, adequadas ao alto grau de

necessidades de mão-de-obra

imprevisibilidade do processo produtivo

- Dependência de insumos externos

- Tomada de decisão “in loco”, condicionada pelas

Direção

do

processo

produtivo

especificidades do processo produtivo

assegurada

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A agricultura familiar não é uma categoria social analítica recente. No entanto, sua definição, com o significado e a abrangência que lhes têm sido atribuídos nos últimos anos no Brasil, assume ares de novidade e renovação (WANDERLEY, 2001). O conceito de agricultura familiar é genérico, incorporando diversidades de situações específicas e particulares. Dessa forma, pode ser entendida como aquela em que a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo (BOLFE; SIQUEIRA; BOLFE, 2007). O modelo de agricultura familiar é responsável por quase 85% dos estabelecimentos agrícolas do Brasil (MDA, 2009), e tendo que se adaptar às exigências da agricultura moderna, essa forma de agricultura guarda ainda muito dos seus traços camponeses, por ter que enfrentar os velhos problemas e contar, na maioria dos casos, com suas próprias forças. Tão em evidência atualmente no campo político, econômico, cultural e social, a agricultura familiar manifesta a dinâmica dos novos processos sociais que perpassam o meio rural/agrícola (CARNEIRO, 1997). Segundo Tedesco (2001), sua inserção nas formas sociais capitalistas, redefinições, rupturas e continuidades, a associação entre família, terra e trabalho, exterioriza a heterogeneidade dos processos sociais englobantes, bem como a diversidade socioeconômica em sua plenitude. O agricultor familiar adota estratégias e aciona formas de racionalidades possíveis, enfrenta os desafios com as condições objetivas e os instrumentos que lhe são possíveis e ao seu alcance, dentre os quais a dimensão da historicidade que lhe é inerente e a incipiente participação nas políticas públicas (TEDESCO, 2001). A Organização das Nações Unidas (ONU) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) definem a agricultura familiar com base nas três características descritas a seguir: 1) a gerência da propriedade rural é feita pela família; 2) o trabalho é desempenhado na sua maior parte pela família; e 3) os fatores de produção pertencem à família (exceção, às vezes, a terra) e são passíveis de sucessão em caso de falecimento ou aposentadoria dos gerentes. Dessa forma, agricultores familiares são aqueles que têm na agricultura sua principal fonte de renda e cuja força de trabalho utilizada no estabelecimento venha fundamentalmente de membros da família. Os principais problemas enfrentados atualmente pelas propriedades familiares são a escassez de terra, pouca mão-de-obra e de baixa qualidade, descapitalização, falta de gerenciamento profissionalizado da propriedade, pouco ou mau uso do associativismo, precariedade na comercialização dos produtos, pequena escala de produção, falta de

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agregação de valor à produção, falta de créditos e poucas informações e tecnologias existentes para esse público. Assim, é notória a necessidade de introdução de inovações tecnológicas, gerenciais e organizacionais e, além disso, é desejável que as mesmas sejam implantadas em todos os elos da cadeia agroalimentar. É importante, portanto, que os agricultores lutem por uma política pública agrícola eficiente e eficaz, busquem novos investimentos, assistência técnica, usem adequadamente as tecnologias, melhore adequadamente a administração e gerenciamento da propriedade, indo à busca da auto-sustentabilidade. Com base no que foi exposto anteriormente não basta, somente, procurar entender, de forma genérica ou ampla, o sentido da palavra “agricultura familiar” e sim compreender suas práticas, necessidades sociais, interinstitucionais e/ou individuais. No modelo de agricultura convencional ou industrial, as práticas agrícolas rotineiras se direcionam para o efeito do desequilíbrio ecológico existente. Esse desequilíbrio promove a reprodução exagerada de insetos, fungos, ácaros e bactérias, que tendem a se tornarem prejudiciais as lavouras e criações de animais. A estratégia rotineiramente utilizada até os dias de hoje busca, portanto, a aplicação de agrotóxicos químicos sintéticos nas culturas. Ataques de insetos-praga e doenças são um dos principais fatores de perda da produção agrícola nacional, particularmente em áreas de agricultura familiar da Amazônia. No entanto, apesar do conhecimento dos principais problemas e do possível potencial de danos, os agricultores familiares freqüentemente não conseguem realizar o manejo adequado das pragas que atacam seus cultivos. O uso de inseticidas químicos sintéticos, prática cada vez mais utilizada por pequenos produtores, quando não utilizado adequadamente, provoca impactos negativos sérios, que vão desde problemas de contaminação ambiental, mortalidade de espécies não-alvos, resistência de pragas a inseticidas, surgimento de novas pragas e ressurgência de antigas pragas, até alto custo econômico para sua aquisição e aplicação (GALLO et al., 2002). O controle químico na agricultura ainda é o mais utilizado por pequenos, médios e/ou grandes produtores e consiste no emprego de agrotóxicos para controlar insetos, doenças e plantas daninhas. Tal método, mesmo quando utilizado adequadamente, causa impactos ambientais consideráveis. O maior problema constatado atualmente é a utilização de produtos químicos sintéticos de forma indiscriminada ou sem obedecer aos critérios pré-estabelecidos para o seu uso, o que tem acarretado diferentes problemas associados a desequilíbrio

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ecológico e impacto na saúde das pessoas (ALVERENGA et al., 2000). A preocupação quanto aos danos dos agrotóxicos à saúde humana recai, ainda, em potenciais efeitos dos mesmos como carcinogênicos, mutagênicos, teratogênicos, neurotóxicos, capazes de promover alterações imunológicas, reprodutivas e desregulações endócrinas. Os efeitos nos organismos terrestres e aquáticos podem levar à morte de indivíduos, podendo comprometer algumas espécies, resultando na alteração da dinâmica bioquímica natural e na mudança do funcionamento de todo o sistema afetado (SPADOTTO, 2006). Com os graves problemas do emprego indiscriminado de químicos sintéticos na agricultura, métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças estão sendo empregados para reduzir e/ou eliminar os problemas associado a esse tipo de manejo. No Brasil, a utilização de formas alternativas de controle de insetos-praga e doenças vem crescendo visando à substituição dos inseticidas altamente tóxicos ao homem e ao meio ambiente, porém, tais medidas ainda são observadas em pequenas proporções. Os defensivos alternativos como, por exemplo, os pesticidas botânicos, são produtos químicos, biológicos, orgânicos ou naturais que se caracterizam por serem praticamente não tóxicos aos seres humanos e eficientes no combate as pragas, terem baixa ou nenhuma agressividade a natureza, não favorecer a ocorrência de forma de resistência de pragas e microrganismos, serem de custo reduzido para aquisição e emprego, simplicidade quanto ao manejo e aplicação e disponibilidade para aquisição (PENTEADO, 1999). Segundo Souza (2009), citado por Lemos; Ribeiro (2008), por ser um método de controle de pragas sem o emprego de inseticidas sintéticos, a utilização de inseticidas botânicos caracteriza-se por ser sustentável para as comunidades que deles se beneficiam, além de propiciar maior conservação ambiental. Essas práticas, portanto, despontam como formas alternativas e baratas que os produtores rurais possuem ao seu alcance para evitar prejuízos na produção e eliminar riscos a saúde de quem trabalha no campo (LEMOS; RIBEIRO, 2008). Apesar dos produtos alternativos serem de baixo custo e fácil manipulação, isso não significa que os mesmos possam ser utilizados indiscriminadamente no ambiente. Seu emprego deve ser de acordo com as recomendações técnicas, pois a seletividade aos inimigos naturais deve ser preconizada sempre e o agricultor deve saber que essa seletividade é obtida de acordo com a dose a ser estabelecida para cada praga. A utilização de produtos alternativos é o primeiro passo para que os agricultores possam produzir sem o uso de agrotóxicos, e conseqüentemente, com maior valor agregado ao seu produto no mercado consumidor e

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contribuir agroecologicamente1 para a natureza (VENZON; PAULA JÚNIOR; PALLINI, 2006b). A adoção de pesticidas botânicos na prática agrícola poderá promover a obtenção de produtos fitossanitários mais saudáveis, evitando a contaminação do produtor e consumidor; manter o equilíbrio da natureza, preservando a fauna e os mananciais de água; reduzir o número de aplicações de defensivos sintéticos; aumentar a resistência da planta contra pragas e patógenos; diminuir os gastos com a condução das culturas, custos de produção e aumentar a lucratividade, além de atender a crescente procura de produtos sadios, no nível local e internacional (PENTEADO, 1999). Plantas com propriedades biocidas despontam com boa oportunidade de uso alternativo no controle das pragas e doenças em diferentes cultivos, inclusive na Amazônia brasileira (LEMOS; RIBEIRO, 2008). Estudos demonstram que são inúmeras as plantas possuidoras de poderes biocidas, que deveriam não apenas ser pesquisadas em profundidade como também introduzidas nas propriedades agrícolas como fonte alternativa no controle de pragas e doenças, especialmente em sistemas orgânicos de produção (AGUIAR-MENEZES, 2005). Os inseticidas e bactericidas derivados de produtos naturais já foram muito utilizados até a década de 1940, principalmente os alcalóides nicotina – extraídos das folhas de Nicotiana tabacum e N. rustica (Solanaceae) – associado à nomicotina e anabasina. Porém, o surgimento dos inseticidas sintéticos, desenvolvidos a partir da II Guerra Mundial, acabou substituindo por completo os agentes de naturais de controle, por serem supostamente mais potentes e de rápido impacto no organismo-alvo. A retomada no interesse pelo uso de produtos naturais nos últimos anos surgiu por vários motivos, sendo um deles a capacidade de adaptação da natureza em relação à sistemática de controle dos produtos. Outro motivo foi o avanço das ciências ecológicas, que levou o homem a refletir sobre a relação inseto-planta, respeitando mais os mecanismos naturais de adaptação (VIEIRA; MAFEZOLI; BIAVATTI, 2001). Um dos principais incentivos atuais à busca de inseticidas de origem natural tem sido a percepção da opinião pública de que esses produtos são mais seguros que os sintéticos, embora esta afirmação ainda não seja cientificamente comprovada. Em geral, inseticidas e 1

O termo agroecologia constrói-se apoiado na valorização dos recursos locais e nas práticas e métodos tradicionais de manejo produtivo dos ecossistemas, e sua evolução como ciência se dar quando são criadas condições favoráveis para o diálogo e a troca de experiências e saberes (CHAVEZ – TAFUR, 2007).

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bactericidas naturais não são persistentes no ambiente, ou seja, degrada-se com maior velocidade que os sintéticos, não deixando resíduo no alimento ou no meio ambiente. Esta tendência econômica aliada ao panorama político global tem criado oportunidades para o desenvolvimento de inseticidas e bactericidas naturais nos laboratórios de pesquisa de universidades e indústrias de todo o mundo (FAZOLIN et al., 2005). O uso eficaz de medidas alternativas de controle de pragas e doenças é, portanto, viável quando se conhecem os diferentes fatores capazes de afetar o desenvolvimento de pragas e doenças no seu ambiente natural. Dessa maneira, esta dissertação buscará gerar novos conhecimentos sobre os métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças para serem utilizados em programas de controle de pragas e doenças na agricultura familiar amazônica. Além disso, esta dissertação objetiva não apenas disponibilizar uma tecnologia alternativa para controle de insetos-praga e doenças, como também alertar para a possibilidade de estabelecimento de sistemas de produção agrícolas inovadores e pouco dependentes de insumos externos para o controle de insetos-praga e doenças, representando a consecução da sustentabilidade, não por meio de pacotes tecnológicos, mas que levem em consideração as particularidades estruturais e funcionais de cada agroecossistema existente na propriedade dos agricultores familiares. Nesta pesquisa foram testadas as hipóteses de que (1) existem plantas da flora amazônica capazes de serem empregadas de forma eficientes para o controle de insetos-praga e doenças em cultivos agrícolas praticados por agricultores familiares da Amazônia e (2) os métodos de controle alternativo de insetos-praga e doenças oferecem, aos agricultores familiares, alternativas de baixo custo e redução da contaminação ambiental e menores riscos a saúde humana. Dessa forma, esta pesquisa apresentou os seguintes objetivos específicos: a) identificar e analisar a percepção dos agricultores quanto à utilização e importância de métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças na agricultura; b) identificar os principais biocidas botânicos empregados pelos agricultores familiares no município de Igarapé-Açú, Pará; c) selecionar e testar, em laboratório, biocidas botânicos para o emprego no controle de insetos-praga e doenças na agricultura familiar; e d) selecionar e testar, em condições de semi - campo, biocidas botânicos empregados no controle de doenças de plantas na agricultura familiar.

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Esta dissertação está estruturalmente dividida em três capítulos: 1. Sistematização de experiências sobre métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças de plantas no pólo de Igarapé-Açú, Pará; 2. Teste e seleção de extratos vegetais para o controle de insetos-praga na agricultura familiar; e 3. Teste e seleção de bactericidas botânicos para o controle de doenças na agricultura.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. INSETOS-PRAGA E DOENÇAS COMO LIMITANTES PARA CULTIVOS AGRÍCOLAS

O aumento de populações de insetos-praga e doenças de plantas em determinados cultivos agrícolas nas últimas décadas tem demonstrado que as práticas adotadas na agropecuária moderna têm facilitado a proliferação desses organismos competidores com o homem. Diversos fatores são seletivos para o surgimento de insetos-praga e doenças em cultivos agrícolas, destacando-se entre eles a monocultura; compactações, crosta e lajes, que criam condições adversas à vida aeróbica (exposição aos impactos da chuva); falta de matéria orgânica no solo; aquecimento do solo pela irradiação solar direta em solos limpos por capinas ou uso de herbicidas; ventos fracos e permanentes que levam umidade e gás carbônico e o emprego de defensivos químicos sintéticos mal escolhidos ou por resistência aos mesmos (PRIMAVESI, 1994). Os danos causados às plantas por insetos são variáveis e podem atingir todos os órgãos vegetais, independente da sua idade. Dependendo da espécie e densidade populacional da praga, do estádio de desenvolvimento, estrutura vegetal atacada e da duração do ataque, poderá haver maior ou menor prejuízo quantitativo e qualitativo (GALLO et al., 2002; GULLAN; CRANSTON, 2007). Insetos são, portanto, capazes de causar danos diretos, quando atacam o produto a ser comercializados, ou indiretos, quando atacam estruturas vegetais que não serão comercializados (folhas e raízes, por exemplo), mas que alteram os processos fisiológicos, provocando reflexos negativos na produção. Além disso, podem atuar indiretamente transmitindo fitopatógenos (p.ex. vírus, bactérias e fungos) ou injetando substâncias toxicogênicas durante o processo alimentar (GALLO et al., 2002; GULLAN; CRANSTON, 2007). Os prejuízos mundiais causados por insetos-praga e doenças a agricultura são elevados e podem causar danos da ordem de 38% na produção (BENTO, 1999). Alguns países já tiveram sua economia comprometida pelo ataque de insetos-praga, como a França em 1867, com a presença do pulgão da videira Daktulosphaira vitifoliae

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(Fitch) (Hemiptera: Phylloxeridae), que dizimou os vinhedos existentes naquele país; os Estados Unidos da América em 1929, que foram atacados pela mosca-do-mediterrâneo Ceratitis capitata (Wiedmann) (Diptera: Tephritidae) e o Brasil que já conviveu com diferentes surtos de insetos-praga, como em 1939, com o vírus da “tristeza dos citros”, causando uma crise na citricultura, devido à presença do pulgão Toxoptera citricida (Kirkaldy) (Diptera: Aphididae); a cafeicultura, em 1924, pela broca Hypothenemus hampei (Ferrari) (Coleoptera: Scolytidae); a presença do bicudo-do-algodoeiro Anthonomus grandis (Boheman) (Coleoptera: Curculionidae), que limitou a produção de algodão no Nordeste do país a partir de 1983 e o minador-dos-citros, Phyllocnistis citrella (Stainton) (Lepidoptera: Gracillariidae), que em 1996 foi constatado no Brasil relacionando-se com o cancro cítrico e contribuindo para o desenvolvimento da bactéria Xanthomonas axonopodis pv. citri. Somente no Brasil, os insetos-praga têm potencial de causar prejuízos da ordem de 2,2 bilhões de dólares nas principais culturas do país (GALLO et al., 2002).

2.2. POR QUE AINDA SÃO UTILIZADOS PESTICIDAS QUIMICOS SINTÉTICOS NA AGRICULTURA ?

O Brasil, desde 2010, assumiu a posição de maior consumidor de agrotóxicos do mundo, representando 16% das vendas mundiais desses produtos, o que representa 50% do emprego em toda a Europa (Figura 1). Isso o coloca em uma posição de destaque negativo no cenário internacional como um consumidor importante de pesticidas químicos sintéticos (PELAEZ et al., 2010).

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BRASIL 16% 84% Resto do Mundo 4% Ásia 23%

16% América Latina 19%

Demais países América Latina 3%

NAFTA 22% Europa 32%

Figura 1 - Principais mercados consumidores de agrotóxicos no mundo. Fonte: Pelaez et al. (2010).

Paralelamente ao aumento do consumo de agrotóxicos no Brasil, a sociedade tem demonstrado claramente sua preocupação com questões relacionadas ao meio ambiente. Por isso, insatisfações e questionamentos quanto aos resíduos de pesticidas nos alimentos têm se tornados freqüentes mostrando a necessidade de se estabelecer métodos bióticos eficientes no controle de endemias de importância econômica e agronômica (FRONZAGLIA, 2006). A busca da sociedade por produtos biológicos que controlem insetos-praga e doenças com a mesma eficácia dos agrotóxicos sintéticos reside no fato de que esses agroquímicos não mais atendem às exigências da sociedade, pois colocam em risco os recursos naturais (p. ex., poluindo fontes não renováveis como água e solo) e comprometem a qualidade dos produtos agrícolas; a saúde do homem e a vida silvestre (MARTINEZ, 2002). A facilidade de uso, os lucros das indústrias químicas, a uniformidade e eficácia do efeito inseticida (mesmo afetando organismos benéficos) foram e continuam sendo os principais argumentos para que os agrotóxicos químicos sintéticos sejam ainda largamente adotados. Entretanto, nas últimas décadas esses químicos passaram a ser questionados quanto à segurança sobre a saúde de aplicadores e consumidores e aos impactos ambientais negativos por eles provocados. Porém, mesmo comprovado os malefícios, até hoje os agrotóxicos são amplamente produzidos e utilizados, cercados por uma aura de modernidade e efetividade

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única, e são difundidos com o aval de políticas públicas desenhadas, sobretudo para atender aos interesses comerciais das empresas produtoras (SOGLIO, 2008). A busca por novos compostos com baixo impacto ao meio ambiente é endossada, principalmente, por problemas relacionados à segurança do meio ambiente (RODRIGUES; STUART, 2008). Contudo, apesar do esforço e interesse por parte dos pesquisadores e da sociedade civil com relação à descoberta de novas alternativas de biocontrole de insetos-praga e doenças, ainda são reduzidos, particularmente no Brasil, os exemplos práticos que demonstrem a utilização em larga escala desses produtos alternativos. O uso intensivo de agrotóxico químico sintético para o controle de doenças, insetos-praga e plantas invasoras na agricultura, tem, reconhecidamente, promovido diversos problemas de ordem ambiental, como a contaminação dos alimentos, do solo, da água e dos animais; a intoxicação de agricultores; a resistência de patógenos, insetos-praga e plantas invasoras a certos princípios ativos; o surgimento de doenças iatrogênicas (aquelas provocadas pelo uso de agrotóxico); o desequilíbrio biológico, alternando a ciclagem de nutrientes e da matéria orgânica; a eliminação de organismos benéficos e a redução da biodiversidade (BETTIOL; MORANDI, 2009). A preocupação da sociedade com o impacto da agricultura no ambiente e a contaminação da cadeia alimentar com agrotóxicos químicos sintéticos está alterando o cenário agrícola, resultando em mercados de alimentos produzidos sem o uso de agroquímicos ou àqueles que garantam que os agrotóxicos foram utilizados adequadamente (BETTIOL, 2008), como é o caso dos produtos orgânicos e aqueles produzidos dentro dos princípios da Produção Integrada.

2.3. MÉTODOS ALTERNATIVOS PARA O CONTROLE DE INSETOS-PRAGA E DOENÇAS

Modelos de agriculturas alternativas surgem, também, com o intuito de minimizar os efeitos negativos do uso de defensivos e impactos no meio ambiente, além de propiciar o desenvolvimento de um modelo de agricultura que busque satisfazer as multidimensões da sustentabilidade. Dessa forma, elas adotam diferentes métodos de manejo ambiental,

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destacando dentre eles o controle biológico, a indução de resistência em plantas e a utilização de extratos vegetais (TEIXEIRA et al., 2005). A indução de resistência a doenças de plantas é a ativação de mecanismos de defesa latentes, existentes na plantas, em resposta a diferentes tratamentos, sejam eles bióticos ou abióticos (ROMEIRO; RODRIGUES, 2007). A utilização de extratos vegetais constitui-se em uma forma potencial de controle alternativo de insetos-praga e doenças em plantas. Apesar dos avanços nos últimos anos, a utilização de medidas alternativas de controle de insetos-praga e doenças requer, ainda, muito estudo, que vão desde a aplicabilidade até o conhecimento do correto modo de ação e utilização, tornando-se viáveis para os agricultores e diminuindo a dependência dos mesmos a produtos químicos sintéticos (SCHWANESTRADA; SUZUKI; ITAKO, 2008). Os métodos alternativos de controle biológicos de insetos-praga e doenças vêm adquirindo importância crescente, sendo sustentado por uma nova filosofia de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e doenças (MID) com o intuito de fazer parte de uma agricultura sustentável (CASTIGLIONI, 2004). A utilização do controle biológico vem atrelada à necessidade de emprego de um controle de pragas, sem o uso de agrotóxicos, com baixo poder residual, menos contaminantes e com baixos custos. Na agricultura sustentável, a utilização de alternativas de controle biológico é de suma importância, pois apresentam a vantagem de serem menos agressivos ao meio ambiente. Com o fortalecimento dos movimentos sociais inspirados nos paradigmas ambientalistas, tem existido maior preocupação com a melhoria da qualidade ambiental e dos padrões de produção, com conseqüente aumento na procura por práticas agropecuárias favoráveis à conservação da qualidade do meio ambiente (CAMPANHOLA; BETTIOL, 2003), fato também observado no Brasil pela crescente busca por práticas e tecnologias produtivas que não degradem o meio ambiente. Porém, com o uso generalizado dos agrotóxicos, a partir da década de 1970, nas mais diferentes condições ambientais, muitos problemas começaram a ser percebidos e diagnosticados. O aumento na conscientização popular sobre os reais riscos do uso de pesticidas químicos sintéticos provocou avanços significativos nas legislações de registro e uso desses químicos em muitos países. Assim, têm-se percebido uma tendência na busca de agrotóxicos menos problemáticos ambientalmente e que assegurem a saúde humana. Um movimento que ganhou força em diferentes países nos últimos anos é a proposição e estabelecimento de

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diferentes modelos de agriculturas alternativas e suas variantes, tais como, orgânica, biodinâmica, natural, alternativa, sustentável e ambiental. Essas possibilidades de agriculturas buscam oferecer boas alternativas para a diminuição da dependência dos agrotóxicos e contribuir para se praticar uma agricultura que seja mais adequada às novas exigências de qualidade ambiental e de vida da sociedade moderna (BETTIOL; GHINI, 2003). A preocupação da sociedade com o impacto da agricultura no ambiente e a contaminação da cadeia alimentar com a utilização de agrotóxico vem alterando o cenário agrícola, resultando na presença de segmentos de mercados ávidos por produtos diferenciados. Dessa forma, os métodos de controle alternativos de insetos-praga e doenças buscam obter vantagens das interações de ocorrência natural, buscando interações biológicas favoráveis para o meio ambiente. Uma das principais vantagens na utilização de biocidas botânicos é a sua rápida degradação pela luz solar, pois sofrem maiores influências da alta luminosidade, umidade e pluviosidade, que os degradam rapidamente devido a sua natureza orgânica. Sofrem, também, influencia do ar, umidade, chuva e enzimas desintoxicantes, baixa persistência, menor risco de desenvolvimento de resistência, e baixo ou nenhum poder residual. Ação rápida, contudo mais lenta que a dos inseticidas sintéticos, baixa a moderada toxidade quando aplicados nas dosagens recomendadas ainda são outras características desejáveis desses produtos (AGUIAR-MENEZES, 2005). Os biocidas, em geral, são mais seletivos a certos insetospraga e menos prejudiciais aos insetos benéficos; não são fitotóxicos para as plantas nas dosagens recomendadas; podem ser fabricados na propriedade rural a baixo custo, quando se dispõem de material vegetal (AGUIAR-MENEZES, 2005). Necessitam, entretanto, de sinergistas (substâncias que potencializam a ação inseticida de um determinado produto) para evitar que o inseto se recupere rapidamente, aumentando a ação inseticida do produto. Os biocidas botânicos, no entanto, apresentam baixa persistência e são rapidamente degradados, exigindo aplicações mais freqüentes; raramente têm ação sistêmica; possuem carência de pesquisas cientifica e dificuldades de registro no Brasil (CORREA, 2007). Outros entraves ainda limitam a utilização de métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças em diferentes sistemas, particularmente associados às limitações técnico-científicas; institucionais; econômicas; sociais; legais e educacionais.

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2.4. EXPERIÊNCIAS COM MÉTODOS ALTERNATIVOS PARA O CONTROLE DE INSETOS-PRAGA E DOENÇAS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

As plantas, além dos metabólitos primários, contêm grande diversidade de metabólitos secundários (alcalóides, aminoácidos não protéicos, terpenóides, compostos fenólicos etc.). O metabolismo primário está essencialmente ligado ao crescimento e reprodução, enquanto o metabolismo secundário está vocacionado, em uma larga escala, à adaptação e interação com o ambiente (AGUIAR-MENEZES, 2005). Existem relatos da utilização de produtos inorgânicos (p. ex, cinzas, iodo e arsênico) e orgânicos (p. ex., taninos, vinagre e ervas perfumada) na China, Grécia e no Egito com mais de 4.000 anos, para a proteção das culturas agrícolas. Há registros escritos sobre a utilização de espécies vegetais para o combate a insetos-praga em regiões como Ásia e Europa em um período que se estende desde o século IV a.C. até ao século XVI. Algumas dessas espécies vegetais foram mais tarde cultivadas com fins econômicos, dando origem posteriormente ao primeiro inseticida vegetal, em 1828, que foi um pó obtido a partir das flores do piretro, nome vulgar dos Chrysanthemum marschalii e C. roseum, que ficou conhecido como “Caucasian insect powder”. Sabe-se, atualmente, que os princípios ativos dessa formulação incluíam as piretrinas (MATOS, 2004). Grainge e Ahmed (1988) citados por Lemos e Ribeiro (2008) catalogaram 2.400 espécies de plantas com potencial para uso no controle de insetos-praga, mencionando as características gerais da planta, ação sobre os insetos, além de uma listagem de 800 insetos-praga controlados por derivados dessas plantas e 100 plantas com substâncias químicas reportadas no controle de doenças e nematóides parasitas do homem e animais. Os inseticidas naturais subdividem-se em inseticidas de ação direta, ou inseticidas verdadeiros, e inseticidas de ação indireta. A maioria dos inseticidas usados pertence ao primeiro grupo, no qual se enquadram as piretrinas, a rotenona e nicotina. Os inseticidas de ação indireta compreendem os repelentes, reguladores de crescimento (p. ex., ecdisonas, hormônios juvenis e hormônios anti-juvenis), inibidores da postura e antifágicos (MATOS, 2004).

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Um composto é considerado biologicamente ativo quando exerce ação especifica sobre determinado ser vivo. Tais substâncias orgânicas podem ser óleos essenciais, resinas, alcalóides, flavonóides, taninos e princípios amargos (PLETSCH, 1998). Dentre os fitocompostos, os óleos essenciais encontram maior aplicação biológica como agente antimicrobiano. É possível, inclusive, encontrar na literatura científica nacional e internacional nos últimos anos trabalhos evidenciando o potencial de diferentes extratos de plantas no controle dos mais variados tipos de patógenos de plantas, tais como, mofo-dasflores (Botrytis cinérea), míldio (Plasmopora viticula), ferrugem-da-folha (Puccinia recondita f. sp.tritici), sarna-da-macieira (Ventura inaequalis), tombamento (Rhizoctonia solan), podridão-de-escleródio (Sclerotium rolfsii), podridão radicular (Phytophthora sp.), mancha de alternária (Alternaria alternata), ferrugem (Hemileia vastatrix), antracnose (Coletotrichum gloesporioides), mancha-de-fusarium, amarelecimeto-de-fusarium, mofocinzento, mal-do-Panamá (Fusarium oxysporum f. sp. Cubense). Extratos de plantas da flora brasileira foram estudados por Schwan-Estrada; Suzuki; Itako (2008), que demonstraram ação desses compostos no controle de doenças, seja por atividade fungitóxica ou como indutora da produção de fitoalexinas. Segundo os autores as plantas com potencial de uso foram arruda Ruta graveolens, alecrim Rosmarinus officinalis, alfavaca- cravo Ocimum gratissimum, cânfora Artemisia canphorata, carqueja Baccharis trimera, capim-limão Cymbopogon citratus, citronela C. nardus, cúrcuma Curcuma longa, gengibre Zingiber officinalis, manjericão Ocimum basilicum, eucalipto Eucaliptus citriodora e alho Allium sativum. Dessa forma, produtos oriundos de plantas correspondem a uma das boas possibilidades para o controle de insetos-praga e doenças na agricultura familiar amazônica.

2.5. BIOCIDAS BOTÂNICOS – O QUE SÃO, COMO CARACTERIZÁ-LOS E POTENCIAL DE USO

Um dos principais incentivos à busca de biocidas de origem natural tem sido a percepção da opinião pública de que os produtos naturais são inerentemente mais seguros que os sintéticos (VIEIRA; MAFEZOLI; BIAVATTI, 2001). Para um biocida ser comercialmente

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viável, ele não pode ser apenas eficaz, mas deve preencher uma série de requisitos, como seletividade contra inimigos naturais (baixa toxidade ambiental), baixa toxidade a mamíferos, biodegrabilidade e ausência de fitotoxidade, apresentar baixo custo e facilidade de padronização (AGUIAR-MENEZES, 2005). O interesse em desenvolver e usar produtos botânicos para o manejo de insetospraga e doenças aumentou nos últimos anos, estimando um crescimento anual na ordem de 10 a 15%, vindo ao encontro da necessidade de buscar por métodos alternativos de menor impacto ou riscos à saúde humana e ao meio ambiente (AGUIAR-MENEZES, 2005). Inseticidas botânicos são, portanto, produtos derivados de plantas ou parte das mesmas, podendo ser até o próprio material vegetal, normalmente moído até ser reduzido a pó, ou seus produtos derivados por extração aquosa ou com solventes orgânicos, tais como álcool, éter, acetona, clorofórmio, etc. ou destilação (GOMES, 2008). As plantas inseticidas mais promissoras encontram-se nas famílias Meliaceae, Rutaceae, Asteraceae, Annonaceae, Labiatae e Canellaceae. No entanto, as informações disponíveis sobre a caracterização, o modo de ação, a toxicologia e os efeitos no ecossistema, para a maioria dos inseticidas botânicos, são ainda escassas, embora a maioria seja utilizada a mais de meio século (AGUIAR-MENEZES, 2005). Em geral, as recomendações adequadas para a aplicação dos inseticidas botânicos são as seguintes: aplicar quando os insetos-praga se encontram em seus primeiros estádios larvais ou ninfas; nas horas de pouca radiação solar e sem ameaça de chuva; calibrar o equipamento de aplicação; fazer uma amostragem da densidade populacional da praga; não misturar com inseticidas sintéticos e utilizar EPI (Equipamento de Proteção Individual) (AGUIAR-MENEZES, 2005). A autora ressalta, ainda, a importância do conhecimento do processo de elaboração dos biocidas, reconhecendo-se os aspectos relacionados ao material da planta a ser utilizada, forma de preparação, concentração, hora e época de aplicação, além de medidas preventivas durante o manuseio, de modo a proteger a saúde do operador e meio ambiente. De acordo com Lemos; Ribeiro (2008) os compostos naturais são geralmente biodegradáveis e potencialmente menos impactantes ao meio ambiente, embora alguns compostos possam ser tóxicos a peixes, insetos benéficos e/ou mamíferos. Desta forma, compostos naturais, particularmente aqueles oriundos de plantas, surgem como alternativa ao uso de inseticidas químicos sintéticos comerciais, visando à minimização de impactos

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ambientais, utilizando como matéria prima os próprios recursos naturais existente da flora Amazônica.

2.6. PLANTAS PROMISSORAS PARA O CONTROLE DE INSETOS-PRAGA E DOENÇAS DE PLANTAS

2.6.1. Nim (Azadirachta indica A. Juss)

O nim, Azadirachta indica A. Juss., é uma planta da família Meliaceae, originária da Índia e usada há séculos como medicinal, inseticida, adubo e produção de madeiras. Os primeiros estudos com a espécie foram realizados na Índia, onde foi identificado o seu principal composto ativo, a azadiractina. O conhecimento de sua composição química impulsionou pesquisas biológicas sobre a ação da azadiractina sobre insetos, fungos, bactérias e sua ação na saúde humana e alimentação animal no mundo todo com interesse crescente em vários países (MARTINEZ, 2002). O nim é uma planta que apresenta eficiência contra insetos-praga e doenças de plantas e baixa toxidade ao homem e meio ambiente, além de ser biodegradável. Tais características têm favorecido sua utilização na agricultura por apresentar rápida degradação, não apresentando riscos de poluição à água e ao solo (CUNHA et al., 2008). No Brasil, a introdução da planta como inseticida ocorreu no final da década de 1980, pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), em Londrina (MORDUE; BLACKWELL, 2002). Na busca de espécies vegetais com ação no controle de pragas e doenças, a família Meliaceae foi identificada como um dos grupos mais promissores, uma vez que muitas de suas espécies são bioativas contra insetos e toxidade geralmente baixa. Dentre as meliáceas, o nim é a espécie mais estudada até então (MARTINEZ, 2002), com ação sobre mais de 400 espécies de insetos e ácaros, causando múltiplos efeitos, como repelência, redução da alimentação, repelência de postura, interrupção do desenvolvimento e da ecdise, atraso no desenvolvimento, redução da fertilidade e fecundidade e diversas outras alterações no comportamento e na fisiologia dos insetos, que podem levar a morte. Tem apresentado, ainda,

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ação biocida contra fungos, bactérias e nematóides (FALESI; FERREIRA; CARVALHO, 2000). Segundo Martinez (2002) o nim tem sido utilizado na agricultura orgânica como um dos métodos de controle alternativo de pragas e doenças devido às seguintes características: é eficiente; possui baixa toxidade ao homem e ao meio-ambiente; é totalmente biodegradável e de rápida degradação; não apresenta riscos de poluição à água e ao solo; não causa dano significativo à microflora do solo e não influencia a mineralização do nitrogênio do solo. Utilizada como adubo, aliada à ação inibitória do nematóide, seus produtos são aprovados pelo Instituto Biodinâmico e internacionalmente aceitos pra uso em cultivos orgânicos (STEWART, 1997). Diferentes princípios ativos já foram isolados do nim, tais como, salanina, azadiractina, melianona, nimbina, melicarpina, 14- epoxiazadiradiona, azadiractol, azadirona e gedunina. Dentre esses, a azadiractina (Figura 2) é considerado o mais potente, tendo sido isolado por Butterworth; Morgan (1968) e sua configuração determinada por Ley et al. (1989, 1993). A azadiractina corresponde a uma mistura de isômeros com estrutura química muito semelhante e atividade biológica variável.

Figura 2 - Estrutura química da azadiractina, princípio ativo majoritário em plantas de nim. Fonte: Bittencourt (2006).

A azadiractina é encontrada, principalmente, nas sementes e é solúvel em água, podendo ser obtida por extração metanólica. Entretanto, outras estruturas da planta, como as folhas, também possuem presença desse princípio ativo (DARMALA; GOPINATHAN, 2001 citado por MARTINEZ, 2002). É um composto instável em meios ácidos e alcalinos, sob altas temperatura e presença de luz e umidade. Assim, recomendam-se tomar cuidado durante

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a colheita dos frutos e formas de armazenamento, fatores estes relevantes para a quantidade de azadiractina contida no produto final (DARMALA; GOPINATHAN, 2001). Penteado (2007) revelou que o nim é bioativo contra diferentes espécies de insetos-praga, destacando-se mosca branca, lagartas em geral, larvas de besouros, gafanhotos e grilos, afídeos (pulgões) e ácaros, apresentando ação sobre 413 espécies de insetos-praga, sendo que, destes 105 ocorrem no Brasil. De acordo com Martinez (2002) o extrato de nim atua sobre insetos, através de seu principal ingrediente ativo, a azadiractina, que atrasa o desenvolvimento e crescimento de larvas; reduz a fecundidade e fertilidade de adultos; inviabiliza ovos; inibe a alimentação, além de múltiplos efeitos nos processos fisiológicos de várias espécies de insetos, sendo todos esses fatores dependentes das concentrações e doses empregadas da azadiractina. Danos indiretos também podem ser ocasionados onde os processos fisiológicos são danificados de forma irreversíveis sendo estes essenciais para o desenvolvimento do inseto (MARTINEZ, 2002). Insetos que sobrevivem à ação do nim tendem a apresentar anomalias, deformações, dificuldades de alimentação, locomoção ou reprodução (MARTINEZ, 2002). O nim afeta aspectos reprodutivos diferentes dos insetos por reduzir a fecundidade, afetar processos de maturação reprodutiva, retardar o inicio do acasalamento e do período de postura, reduzir o número de ovos, além de afetar a espermatogênese e reduzir o número de cópulas em machos (MARTINEZ, 2002). Nakano (2001) citado por Martinez (2002) demonstrou que fêmeas adultas de mosca-das-frutas Ceratitis capitata (Wied.) (Diptera: Tephritidae) inibiram sua postura quando alimentadas com dieta a base de nim. A ação do nim sobre insetos ocorre por ingestão e/ou contato, sendo a ação por ingestão mais significativa (VIANA, 2006). Entretanto, a ação do nim sobre doenças de plantas vem sendo testado com diferentes partes da planta, como extratos de folhas, tortas e óleos, demonstrando resultados variáveis dependendo do produto e da concentração utilizados, mostrando-se com elevado potencial para controle de doenças de plantas (MARTINEZ, 2002). Experimentos conduzidos com hortaliças demonstraram que o óleo de nim apresentou efeito fungitóxico no inicio do ciclo da cultura, similar ao apresentado pela calda bordalesa, sendo o mesmo eficiente no controle de doenças foliares (BAPTISTA; RESENDE; OLIVEIRA, 2009). Ferreira et al. (2009) também evidenciou o efeito fungitóxico do nim sobre a fusariose do maracujazeiro amarelo (Fusarium solani), utilizando diferentes

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concentrações in vitro e in vivo. O óleo de nim, na concentração a 1%, inibiu o crescimento micelial de Cercospora petroselini, indicando o potencial desse óleo para controlar o crescimento do fungo (RABELLO et al., 2009). Martinez (2002) já havia relatado o efeito fungitóxico dos extratos e do óleo de nim inibindo o crescimento de patógenos, tanto para Fusarium oxysporum (causador da murcha da pimenta-malagueta), Sclerotinia sclerotiorum (causador da podridão do colo da mostarda), reduzindo de 81% a 98% no crescimento das colônias dos fungos. Apesar do número de pesquisas ter aumentado nos últimos anos, ainda há necessidade de estudos que elucidem os mecanismos de ação do nim e a sua ação sobre insetos-praga e doenças de plantas. O que se deve ser buscado é a geração de tecnologias de controle de insetos-praga e doenças adaptadas à agricultura familiar, onde os agricultores tornem-se independentes de insumos sintéticos e capazes de utilizarem produtos naturais da propriedade, de baixo custo e alta eficiência. O nim, no entanto, não deve ser utilizado como um substituto ao manejo de pragas e doenças, mas sim como um aliado às praticas corretas ao desenvolvimento de plantas saudáveis e tolerantes ao ataque de insetos-praga e doenças, visto que são bastante promissores para o uso em programas de Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIPD) (MARTINEZ, 2002).

2.6.2. Fumo (Nicotiana tabacum)

O fumo ou tabaco (Nicotiana tabacum L.) pertence à família Solanaceae e tem como sinônimos botânicos N. chinensis Fisch. ex Lehm., N. mexicana Schltdl., N. mexicana var. rubriflora Dunal e N. pilosa Dunal. É uma planta originária da América do Sul, mais precisamente o Noroeste da Argentina e região dos Andes (AGUIAR-MENEZES, 2005). Por apresentarem metabólitos secundários com significativa toxidade, muitos trabalhos citam à utilização de solanáceas como controladores de insetos-praga, como por exemplo, o pulgão da couve Brevicoryne brassicae L. (Hemiptera: Aphididae) e doenças de plantas. O extrato de fumo é recomendado, principalmente, para o controle de alguns tipos de pulgões, percevejos e cochonilhas, assim como para combater os fungos Fusarium spp., Phoma spp., Cladosporium spp., Rhizoctonia spp. e Colletotrichum spp (MIETH et al., 2007).

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Os principais constituintes químicos do fumo são nicotina, cotinina, miosmina, nicotirina, anabasina e nicotelina. A nicotina está presente em toda a planta do tabaco, especialmente nas folhas, e representa 5% do peso da planta (SAITO; LUCCHINI, 1998). A fórmula molecular, C10H14N2 (Figura 3), foi estabelecida em 1843, e a primeira síntese em laboratório publicada em 1904 (AGUIAR-MENEZES, 2005).

Figura 3 - Estrutura química da Nicotina. Fonte (AGUIAR-MENEZES, 2005).

As primeiras referências da utilização do tabaco como protetor de plantas visando controlar insetos-praga surgiu na Europa, há cerca de 300 anos. No século XVIII foi empregado como inseticida em forma de pó, extrato aquoso e como fumegante, passando a ser um dos principais inseticidas recomendados no início do século XX, transformando-se em um dos mais populares inseticidas da época. No entanto, apesar de sua propriedade inseticida ser reconhecida há bastante tempo, pouco tem sido feito para o avanço de tecnologias com a utilização da nicotina (SAITO; LUCCHINI, 1998). A nicotina é neurotóxica e estruturalmente semelhante à acetilcolina (ACh), o principal neurotransmissor excitatório no sistema nervoso central (SNC) dos insetos. Por ser insensível a ação da enzima acetilcolinesterase, responsável pela degradação da acetilcolina, a nicotina causa hiperexcitabilidade do sistema nervoso central devido à transmissão continua e descontrolada de impulsos nervosos, causando tremores e paralisia em insetos a ela expostos (AGUIAR-MENEZES, 2005). Diferentes pesquisas já foram conduzidas objetivando comprovar a eficácia da nicotina para o controle de insetos-praga. Almeida et al. (2005) avaliou o efeito desse extrato sobre Sitophilus zeamais (Motschulsky) (Coleoptera: Curculionidae), demonstrando controle sobre a fase imatura do gorgulho superior a 95,0%. Estudo mais recente realizado por Dequech et al. (2008), com pó-de-fumo para o controle de Microtheca ochroloma Stal (Coleoptera: Chrysomelidae) em brassicáceas, comprovou controle efetivo do inseto-praga

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nas fases larvais e adultas. Rando et al. (2009) avaliou a eficiência de diferentes extratos de fumo no controle de Myzus persicae (Sulz) (Hemiptera: Aphididae) e constatou que concentrações de 10%, independente do tipo de extrato, foram eficientes no controle da praga seis horas após a exposição ao produto. A influência de extrato aquoso de fumo na qualidade sanitária e fisiológica de sementes de açoita-cavalo Luehea divaricata Mart. (Familia: Malvaceae) foi avaliada por Mieth et al.(2007), que observou que o extrato de fumo em diferentes concentrações controlou os fungos Fusarium spp. e Cladosporium spp., através da inibição do crescimento micelial dos fungos. Almeida; Camargo; Panizzi (2009) estudaram o efeito de extrato de fumo no controle de Colletotrichum acutatum, agente causal da pinta preta do morangueiro, e concluíram que os extratos obtidos a partir de fumo hidroalcoólico foram aqueles que apresentaram maior ação fungitóxica contra C. acutatum, assim como para os patógenos de pós colheita, Botrytis sp., Penicillium sp. e Rhizopus sp., sugerindo que tais extratos podem ser usados como alternativa ao controle de C. acutatum integrando as técnicas de pós-colheita, com as práticas de campo, minimizando assim, a utilização de agrotóxicos nesses agroecossistemas.

2.6.3. Manipueira (subproduto da mandioca [Manihot esculenta Crantz])

Dentre as plantas com atividade inseticida, a mandioca Manihot esculenta (Crantz) destaca-se pelo potencial de uso do seu subproduto, a manipueira ou “manipeira”, que é um líquido de coloração amarelada extraído da mandioca após ser prensada, durante a fabricação da farinha. É rica em potássio, fósforo, nitrogênio e açúcar. No entanto, é tóxica ao meio ambiente e pode comprometer a qualidade da água e destruir a vegetação se não for tratada e utilizada corretamente (SANTOS, 2008). A manipueira origina-se do sumo da mandioca azeda ou amarela e para obtê-lo, espreme-se a massa da mandioca amarga no tipiti, ou na prensa de madeira, recolhendo-se o liquido amarelado. Na composição da manipueira encontra-se o ácido cianídrico, despreendido durante o processo de ralação da mandioca, com propriedades voláteis, podendo ser fervido para o consumo (EMBRAPA, 2005). Contém um glicosídeo tóxico cianogênico

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denominado de limarina, do qual se origina o ácido cianídrico (HCN), que é bastante volátil. São esses cianetos que respondem pelas ações inseticidas, acaricidas e nematicidas da manipueira (GONZAGA et al., 2007). O potencial inseticida da manipueira sobre diferentes espécies-praga já foi constatado no Brasil. Gonzaga et al. (2008) comprovou o controle de 50% da população do pulgão-preto-dos-citros Toxoptera citricida Kirkaldy (Hemiptera: Aphididae), após 120 horas de exposição às concentrações de 10; 20; 30; 40 e 50 mg/mL de manipueira. Anteriormente, Gonzaga et al. (2007) já haviam comprovado a eficácia da manipueira sobre o pulgão-verdedos-citros Aphis spiraecola Patch (Hemiptera: Aphididae). Resultados obtidos por Mendes et al. (2007) reforçam a importância da utilização da manipueira como inseticida para o controle de Enneothrips flavens Moulton (Thysanoptera: Thripidae) na cultura do amendoim Arachis hipogea L. Pesquisas neste âmbito vêm repercutindo positivamente em diversos países, principalmente naqueles em desenvolvimento, onde há cultivo de mandioca, servindo de auxílio no controle de insetos-praga em cultivos orgânicos e na agricultura familiar (MENDES et al., 2007). A utilização da manipueira como fungicida foi testada por Freire (2001) citado por Nasu (2008), para o controle do oídio em frutos de cerigueleira Spondias purpurea L. (Anacardiaceae), sendo comprovada sua ação sobre as estruturas do patógeno, através da visualização de conídios e conióforos deformados, indicando a ocorrência de uma forte ação plasmolítica. Testes com manipueira para o controle de nematóides no Brasil, particularmente, Meloidogyne incognita (Kofoid &White) e M. javanica (Treub), têm sido realizados com sucesso (NASU et al., 2007). O efeito nematicida da manipueira industrial, no controle do nematóide parasito do tomateiro M. incognita, foi constatado por Nasu (2008), cujos resultados mostraram que tratamentos com manipueira foram mais eficazes para o controle do nematóide. Outras doenças de plantas, como Oídio (Oidium bixae Viégas), em urucum Bixa orellana L., e O. leucoconium Desm, em Roseiras, também têm sido combatidas com o emprego de manipueira, que demonstrou efeito fungicida superior a fungicidas químicos sintéticos, à base de Pyrazophos a 3%, que foi utilizado como testemunha (SANTOS, 2008). É necessário, portanto, que sejam incentivadas e reforçadas as pesquisas relacionadas ao controle de insetos-praga e doenças com essas espécies vegetais com

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potenciais biocidas, gerando conhecimentos técnico-científicos sobre o tempo de carência, seu efeito residual e reais impactos em problemas fitossanitários.

2.7. O INSETO-ALVO Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae)

A espécie Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae) infesta grãos armazenados, sendo seus adultos de corpo relativamente grande e, por isso, suas larvas são bastante utilizadas como referência de laboratório para testes com outros agentes biológicos (POTRICH et al., 2007). São insetos cosmopolitas oriundos de regiões de clima temperado do Irã e Índia, não sendo hoje praticamente encontrados em ambientes naturais (SCHICKLER, 2008). Caracteriza-se pelo alto potencial reprodutivo, de 500 a 1000 ovos por postura (BARBOSA, 2004). São insetos holometábolos, completando o ciclo em aproximadamente quatro a cinco meses, o qual poderá se estender até doze meses dependendo das condições climáticas. A fase larval passa por 5 a 7 ecdises. Após cada muda as larvas são de coloração branca e de corpo pouco quintinizado, constituindo-se assim excelente alimento para predadores mantidos em laboratório. Diferentes autores, dentre eles Parra (1998), sugerem que bioensaios para testar inseticidas botânicos sejam realizados/conduzidos utilizando-se insetos alvos naturais, ou seja, aqueles insetos que têm potencial de serem controlados em campo por tais inseticidas. Entretanto, outros pesquisadores como Fazolin et. al. (2007) consideram que, devido à dificuldade de criação de muitas dessas espécies, é comum a utilização de outros insetos que não sejam alvo principal, mas que sejam facilmente criados e manipulados em laboratório. Dentre estas espécies, destaca-se T. molitor, cujas larvas se alimentam de farinhas, fubás, farelos, rações, macarrão, grãos quebrados ou anteriormente danificados, em ambientes de armazenamento, e que são facilmente criados em laboratório. O presente trabalho teve como objetivo avaliar e testar o potencial inseticida de extratos vegetais, contra o inseto T. molitor, visando ao controle de insetos-praga em diferentes sistemas de cultivos de base familiar.

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2.8. A CULTURA DO MARACUJÁ E A BACTÉRIA Xanthomonas axonopodis pv passiflorae.

2.8.1. O maracuzareiro amarelo Passiflora edulis f. flavicarpa

O maracujazeiro (Passifloracea) é originário da América tropical e possui mais de 150 espécies utilizadas para consumo humano. As espécies mais cultivadas são o maracujáamarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa), maracujá-roxo (P. edulis) e o maracujá-doce (P. alata), sendo o maracujá-amarelo responsável por mais de 95% da produção brasileira (DANTAS; LIMA; GAIVA, 2006). Lopes (2001) citado por Ishida; halfeld-vieira (2009) revelou que doenças causadas por bactérias são responsáveis por grandes perdas na agricultura, pois são difíceis de controlar em função das altas taxas de multiplicação no campo. Desse modo, seu controle fica quase que restrito às medidas preventivas. As principais doenças do maracujazeiro no Estado do Pará são a manchabacteriana Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae (Pereira) Dye., que é de grande importância, principalmente, sob condições de temperatura e umidade favoráveis à ocorrência da doença; queima-da-teia-micélica (Thanatephorus cucumeris); antracnose (Colletotrichum gloeosporioides); vírus do endurecimento dos frutos do maracujazeiro (PWV); verrugose (Cladosporium herbarum e Sphaceloma sp.); fusariose (Fusarium solani); murcha-bacteriana (Ralstonia solanacearum) e seca dos ramos (Phomopsis sp.) (ISHIDA; HALFELD-VIEIRA, 2009).

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2.8.2. A bactéria Xanthomonas axonopodis pv passiflorae

Um dos fatores limitantes à produção agrícola é o severo ataque por bactérias, que são organismos vivos, estruturalmente simples e de pequeno tamanho e causadoras de doenças em plantas (ARANTES, 2008). São de difícil controle e capazes de provocar perdas econômicas substanciais em cultivos agrícolas. A bactéria X. axonopodis pv passiflorae é responsável por danos consideráveis a produtividade do setor agrícola da região Amazônica por causar a mancha bacteriana no maracujazeiro, que é uma cultura de importância regional. Essa doença foi inicialmente descrita no Brasil em 1967 e, atualmente, está presente nos principais estados produtores, sendo que em alguns locais é responsável por grandes prejuízos para a cultura (MARIAN; RIBEIRO, 1997). A diagnose da doença é realizada por inspeção visual das plantas afetadas, testes de exudação, isolamento e cultivo em meio de cultura, seguido de testes de patogenicidade (HALFELD-VIEIRA; NECHET, 2006). A detecção de X. axonopodis pv passiflorae poderá também ser realizada por métodos de PCR’s (Polimerase Chain Reaction), permitindo uma detecção mais rápida, fácil e precisa, quando comparados aos métodos tradicionais (ISHIDA; HALFELD-VIEIRA, 2009). Tal método permite, inclusive, a constatação precoce do patógeno, antes mesmo do surgimento dos primeiros sintomas da doença nas plantas. Os principais sintomas de ataque por X. axonopodis pv passiflorae em plantas de maracujazeiro poderão ser detectados em folhas e frutos, conforme descritos a seguir: em folhas mais internas são observadas, inicialmente, pequenas lesões, encharcadas, oleosas, translúcidas, frequentemente localizadas próximas às nervuras, com halos visíveis, às vezes acompanhadas de enegrecimento vascular a partir dos bordos. Em seguida, tornam-se marrons, deprimidas, sobretudo na face dorsal da folha, de formato variado, raramente circulares, com tamanho médio de 3 a 4 mm, podendo coalescer em grandes áreas necrosadas e causando seca total da folha (ISHIDA; HALFELD-VIEIRA, 2009). Em condições de alta umidade, ocorre ainda o avanço da infecção através dos feixes vasculares dos pecíolos e ramos, que podem apresentar caneluras longitudinais. Segue-se a desfolha, seca a partir das extremidades e grande redução da frutificação (MARIAN; RIBEIRO, 1997) (Figura 4). Nos frutos, as lesões são pardas ou esverdeadas, oleosas, circulares ou irregulares, com margens

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bem definidas, podendo coalescer. Geralmente são superficiais, podendo, no entanto, penetrar até as sementes, inutilizando o fruto para consumo. Os sinais são visualizados como exsudados, os quais, quando secos, formam uma crosta e podem se estender sobre várias lesões. Exsudação típica de pus bacteriano pode ser vista quando feixes vasculares infectados são comprimidos (MARIAN; RIBEIRO, 1997).

Figura 4 - Sintomas da mancha bacteriana causada por Xanthomonas axonopodis pv passiflorae em folhas de maracujazeiro.

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CAPÍTULO I SISTEMATIZAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS SOBRE MÉTODOS ALTERNATIVOS DE CONTROLE DE INSETOSINSETOS-PRAGA E DOENÇAS DE PLANTAS NO PÓLO DE IGARAPÉIGARAPÉ-AÇU, PARÁ

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RESUMO

O processo de sistematização das experiências objetivou identificar os métodos de controle alternativo de insetos-praga e doenças adotados por agricultores familiares do município de Igarapé-Açu, PA. A coleta dos dados foi realizada em junho de 2009 com aplicação de questionários estruturados e elaborados na forma de tópicos e tabelas. As entrevistas foram realizadas com 47 agricultores de sete comunidades distintas, buscando identificar, sob a perspectiva do agricultor, quais os aspectos mais relevantes para adoção de métodos de inovações tecnológicas propostas pela empresa de pesquisa parceira. Após a análise dos dados foi possível constatar que 89% dos agricultores familiares de Igarapé-Açu acreditaram ser viável a adoção de métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças como estratégia para o controle de problemas fitossanitários. Os principais inseticidas botânicos utilizados por agricultores familiares de Igarapé-Açu foram: fumo (Nicotiana tabacum), nim (Azadirachta indica) e manipueira. Agricultores que utilizaram métodos alternativos de controle de pragas e doenças em seus cultivos os fizeram pelos seguintes motivos: a) disponibilidade da matéria prima na propriedade; b) redução de custos; e c) produtos alternativos possuírem baixo ou nenhum poder residual e, conseqüentemente, apresentarem menor impacto ambiental e a saúde humana. Entretanto, 68% dos agricultores entrevistados ainda utilizavam inseticidas químicos sintéticos em função dos mesmos apresentarem impacto de choque contra as pragas. É possível concluir, portanto, que o processo de adoção da inovação tecnológica (emprego de métodos alternativos de controle de pragas e doenças) não acontece de forma imediata no município de Igarapé-Açu, sendo, portanto, um processo gradual em que cada agricultor opta em adotar ou não as formas de intervenções propostas. Por esse motivo, nem todos os agricultores familiares do município de Igarapé-Açu, que participaram de ações conjuntas com a empresa de pesquisa, empregam métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças em suas propriedades.

Palavras-chave: Controle alternativo, nordeste paraense, sistematização,.

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ABSTRACT

The systemization process from the experiences aimed to identify alternative methods for controlling pests and plant diseases adopted by family farmers from municipality of IgarapéAçu, Pará. The data were collected in June of 2009 with application of structured questionnaires elaborated with topics and tables. The interviews were accomplished with 47 farmers of seven different communities, looking for to identify, under the farmer's perspective, which the most relevant aspects for adoption of technological innovation methods proposed by research partner's company. After the data analysis was verified that 89% of the family farmers from Igarapé-Açu believed to be viable to use alternative methods for controlling pests and plant diseases, as strategy for the adoption of phytosanitary measures. The main botanical insecticides used by family farmers of Igarapé-Açu were: tobacco (Nicotiana tabacum), neem (Azadirachta indica), and “manipueira” (a cassava byproduct). Farmers used alternative methods for controlling pests and plant diseases in their cultivations by the following reasons: i. readiness of raw material in their areas; ii. reduction of costs; iii. alternative insecticides have low or none residual effect and, consequently, they promote smaller environmental impact, and in the human health. However, 68% of the farmers interviewed still used synthetic chemical insecticides because these insecticides present a shock impact against the pests. It is possible to conclude, therefore, that the processes of technological innovation adoption (use of alternative methods for controlling pests and diseases) do not occur in an immediate way in the municipality of Igarapé-Açu, being, therefore, a gradual process in that each farmer chooses in adopting or not these proposed interventions. For that reason, some family farmers from Igarapé-Açu that participated jointly of actions with the research company, do not yet adopt alternative methods for controlling pests and diseases in their properties.

Keyword: Alternative control, northeastern of Pará, systemization.

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1. INTRODUÇÃO

A sistematização é um processo para organizar informações resultantes de um determinado projeto de campo, analisá-las de forma minuciosa e aprender lições a partir delas (CHAVEZ-TAFUR, 2007). É, portanto, um instrumento que permite olhar analítica e criticamente para o vivido e experimentado. Dessa forma, a sistematização dificilmente segue um roteiro padrão e é ajustada e dimensionada segundo as especificidades de cada realidade (CHAVEZ-TAFUR, 2007). Francke; Morgan (1995) revelaram, ainda, ser a sistematização de experiências um processo de reconstrução e reflexão analítica sobre uma prática que foi vivida pessoalmente (ou sobre determinados aspectos dela), mediante a qual interpretamos o que sucedeu para compreendê-la. De acordo com Eckert (2009) o processo de sistematização busca: i) organizar e analisar minuciosamente as informações para melhor entendimento; ii) tirar conclusões que ajudem a produzir novos conhecimentos; e iii) apresentar resultados de forma clara e objetiva. Percebe, portanto, que a sistematização é uma prática que ganha relevância junto às entidades que atuam como assistência técnica, extensão rural e pesquisa, por contribuir na valorização de saberes e dos processos locais, sendo uma importante ferramenta para registros, reflexões e divulgações de desenvolvimento local, extraindo lições e colaborando para a replicabilidade das experiências. Segundo Berdegué; Campo; Escobar (2002) citado por Eckert (2009) a sistematização de experiências é um processo metodológico baseado na idéia de organizar elementos (práticas, conhecimentos, idéias, dados, dentre outros), que se encontravam dispersos e desordenados. Pode, portanto, envolver mais de uma experiência referindo-se a diversas famílias, comunidades, regiões, diferentes estados ou até mesmo países, das quais se podem tirar lições dos processos envolvidos sob diferentes olhares (ECKERT, 2009). Resumidamente, pode-se dizer que sistematizar possibilita uma compreensão mais profunda das experiências realizadas, permitindo entender o porquê dos acontecimentos em suas diferentes etapas, permitindo refletir e questionar sobre a própria prática e ter um olhar diferenciado do seu entorno, das pessoas, sensibilidades, permite compreender que a realidade é aquilo que nosso método de observação nos permite perceber (CHAVI, 2001). A região Nordeste do Estado do Pará, onde se encontra o município de IgarapéAçu, é uma das áreas mais antigas de exploração agrícola do Estado do Pará (MATOS, 2005),

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sendo sua paisagem agrícola constituída por comunidades agrícolas vegetais incluindo florestas e vegetação secundária em diversos estágios de sucessão (por exemplo, capoeira de diferentes idades) e pequenas áreas cultivadas, principalmente, com culturas de ciclo curto, como feijão caupi, milho, arroz, mandioca, melancia e maracujá. Porém, em Igarapé-Açu encontram-se, também, outros agroecossistemas como palma de óleo ou dendê (Elaeis guineensis), pimenta-do-reino (Piper nigrum L.), pastagens e sistemas agroflorestais (MATOS, 2005). Estudos têm revelado que alguns agricultores da região de Igarapé-Açu desconhecem informações capazes de solucionar seus problemas exigindo dos mesmos, orientações técnicas constantes (MATOS, 2005). Em geral, os agricultores do município transferem aos técnicos da EMBRAPA a possibilidade destes ser o elemento que elucidará os problemas que enfrentam no cotidiano, o que aumenta a responsabilidade das instituições de pesquisa para desenvolverem pesquisas e estudos entre esses agricultores. Um dos principais problemas encontrados pelos agricultores familiares de Igarapé-Açu diz respeito à cultura do maracujazeiro (Passiflora edulis, Passifloraceae), particularmente relacionado a questões fitossanitárias da cultura. Faltam aos agricultores familiares locais informações técnicas específicas, conhecimentos sobre o combate às viroses e formas adequadas de utilização e aplicação de produtos químicos sintéticos para combater insetos-praga e doenças. A presente pesquisa focou seus estudos nas experiências de parceria já existentes entre a Embrapa Amazônia Oriental e os agricultores familiares do município de Igarapé-Açu, enquanto espaço de diálogo entre agricultores familiares (suas famílias) e técnicos. Desta forma, o processo de sistematização das experiências buscou identificar quais os métodos de controle alternativos de insetos-praga e doenças adotados por agricultores familiares do pólo de Igarapé-Açu, PA, independente dos mesmos participarem ou não de ações conjuntas desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Oriental, visando compreender quais as estratégias por eles realizadas para adoção e continuação do uso de métodos alternativos de controle de pragas em seus agroecossistemas.

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2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. O CAMINHO SEGUIDO

Esta pesquisa entrevistou agricultores familiares do município de Igarapé-Açu visando analisar, qualitativamente, as transformações ocorridas nas propriedades e identificar a importância e colaboração da Empresa de Pesquisa (EMBRAPA) para que ocorressem tais modificações. Segundo Saldanha et al. (2004) é essencial que se considere a percepção do agricultor na adoção de tecnologias, pois isso é uma dimensão chave na compreensão da difusão de idéias buscando identificar e compreender melhor suas percepções, lógicas e estratégias. A coleta dos dados foi realizada em Junho de 2009, com aplicação de questionários previamente estruturados e elaborados na forma de tópicos e tabelas com perguntas objetivando a obtenção de informações para a sistematização das experiências. Neste trabalho foram entrevistados 47 agricultores, de 7 comunidades distintas do município de Igarapé-Açu, nordeste paraense, onde a Embrapa Amazônia Oriental realiza acompanhamento às família de agricultores, buscando identificar, sob a perspectiva do agricultor, quais os aspectos mais relevantes para a escolha dos métodos de inovações tecnológicas propostas pela Empresa de Pesquisa. Nos questionários aplicados foram tratadas questões relacionadas aos métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças nos cultivos; ao tipo de orientação fornecida pela EMBRAPA; a forma de utilização desses métodos; ao tipo de intervenção realizada pela Embrapa Amazônia Oriental para que os agricultores pudessem conhecer adotar a tecnologia; e aos resultados obtidos a partir da utilização dos métodos alternativos. Nesta pesquisa procurou-se, ainda, enfatizar o tipo de inovação técnica proposta; como ela foi adaptada e/ou adotada pelos agricultores familiares, identificando-se, por fim, outros agricultores que não foram acompanhados por técnicos e pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental, contudo, inovam em seus sistemas de cultivo por utilizar métodos de controle alternativos de pragas.

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Foram realizadas visitas in loco para a aplicação de questionário previamente estruturado (anexo 1), com questões objetivas e subjetivas, permitindo que o entrevistado pudesse expor seus pensamentos livremente sobre a temática, sem respostas pré-fixadas pelo pesquisador. Tais dados objetivaram identificar as principais características da propriedade e do agricultor, particularmente, no que se refere aos aspectos fitossanitários dos cultivos existentes em suas propriedades; uso de produtos alternativos no controle de insetos-praga e doenças e uso de agroquímicos. Contudo, a pesquisa procurou abordar, também, outros dados como aspectos socioeconômicos e ambientais de forma a contribuir para melhor compreensão das respostas. Durante as visitas in loco todas as propriedades foram georreferenciadas com o auxilio de um GPS (Global Position System) para confecção de mapa, processado através de Software Arc View 9.2 (Figura 1).

Figura 1 - Mapa apresentando as comunidades e suas respectivas propriedades estudadas nesta pesquisa.

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O foco central desta pesquisa foi o agricultor familiar, a sua tomada de decisão em utilizar ou não os métodos alternativos no controle de insetos-praga e doenças, analisando-se “os porquês” da utilização dos agroquímicos químicos sintéticos nas propriedades. Portanto, os agricultores foram os principais “atores2” da sistematização, pois esse processo contou, diretamente, com suas participações para conhecer, caracterizar e sistematizar as experiências sobre os métodos alternativos de controle de insetos-pragas e doenças (MACPD) adotadas pelos mesmos.

2.2. DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

As ações de pesquisa deste estudo foram realizadas em dois momentos distintos a seguir descritos: a) realização de reuniões com técnicos da Embrapa Amazônia Oriental, o presidente da Associação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais da comunidade de Novo Brasil, na cidade de Igarapé-Açu e Agentes de Campo Local (ACL), que auxiliaram na identificação dos agricultores familiares alvo dessa pesquisa; e b) O segundo momento, de coletas de dados propriamente dito, foi realizado percorrendo o município de Igarapé-Açu com o auxílio dos ACL e técnicos da Embrapa visando identificar agricultores que são acompanhados (ou não) por técnicos e pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental através de projetos em parceria e que adotam técnicas alternativas de controle e manejo de insetos-praga e doenças de plantas.

1

O termo “atores” descrito nesta dissertação refere-se aos agricultores familiares, um dos focos desta pesquisa, podendo em alguns momentos serem denominados como “agricultores parceiros”, pois tanto o agricultor como o pesquisador detém informações diferentes, mas que são complementares, o que favoreceu o estabelecimento de diálogos capazes de permitir o crescimento de ambas as partes envolvida nessa pesquisa.

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2.3. DESCRIÇÃO DAS EXPERIÊNCIAS

O município de Igarapé-Açu, local de parte dessa pesquisa, tem uma área de 756 km² e distancia 120 km da capital Belém. Delimita-se ao Norte com os municípios de Maracanã e Marapanim, ao Sul com o município de Santa Maria do Pará, a Leste com os municípios de Castanhal e São Francisco do Pará (MATOS, 2005). A precipitação pluviométrica municipal varia entre 2.300 e 2.800 mm, com maiores freqüências entre os meses de março e abril e menores entre setembro e outubro. As temperaturas máximas e mínimas médias anuais situam-se entre 31 e 33°C e 20 e 22°C, respectivamente. As temperaturas elevadas na região são explicadas pela situação geográfica de proximidade do equador e pela baixa altitude e as pequenas flutuações térmicas estão associadas com o padrão das chuvas (BASTOS; PACHECO, 2000). As análises dos dados obtidos nesta pesquisa consistiram na descrição e sistematização das experiências vivenciadas pelos agricultores entrevistados, através de tabulações em planilhas Microsoft Excel e Minitab. Para um melhor entendimento procurouse sistematizar os dados e avaliar o processo pelo qual os agricultores familiares adotaram certas tecnologias, por qual processo passaram, que mudanças ocorreram. Os dados coletados nas entrevistas foram tabulados no Software Microsoft Excel 2007 e analisados e agrupados com auxilio de um filtro de dados. Objetivando um melhor entendimento sobre adoção ou não pelos agricultores dos MACPD, foram realizadas modelagens estatísticas descritivas, através de tabelas processadas pelo programa Microsoft Excel 2007, agrupando-se quanto aos sistemas de cultivos; participantes ou não de ações junto a Embrapa Amazônia Oriental; quanto à utilização de agroquímico; dos Métodos Alternativos de Controle de Pragas e Doenças (MACPD); utilização associado do agroquímico e dos MACPD; e quanto a sua recomendação na utilização dos MACPD.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A sistematização das experiências revelou que 89% dos agricultores familiares entrevistados do município de Igarapé-Açu acreditaram ser viável a adoção de métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças como uma estratégia para o controle de problemas fitossanitários em seus cultivos agrícolas. Essa percepção dos entrevistados deveuse a alguns aspectos que os mesmos classificaram como importantes, tais como, disponibilidade para obtenção do material para preparo de biocidas botânico, facilidade de fabricação e aplicação (fácil manejo) e menor possibilidade de poluir o meio ambiente e prejudicar a saúde humana. Apesar disso, um percentual ainda alto dos entrevistados (68%), mesmo compreendendo as vantagens do emprego de métodos alternativos de controle de insetospraga e doenças, almejaram uma estratégia de controle dessas limitações bióticas que priorizasse o imediatismo, ou seja, optaram pelo uso de inseticidas químicos sintéticos por apresentarem rápida resposta no combate dos problema fitossanitário, independente de considerar seus benefícios e maléficos. Alguns agricultores (57%) entrevistados não utilizaram nenhum tipo de intervenção fitossanitária por não terem seus sistemas de cultivo atacados por insetos-praga e/ou doenças. Evidenciou-se, entre as famílias pesquisadas, que um dos fatores importantes no processo de intervenção fitossanitária alternativa foi o repasse de informações (treinamentos e/ou qualificações dos agricultores) e suas formas de reflexão em torno das tecnologias adotadas, uma vez que eles mesmos discutiam, escolheram e avaliaram as tecnologias que usariam em suas respectivas propriedades. O compartilhamento de informações entre os agricultores pesquisados no município de Igarapé-Açu ainda se dá de forma reduzida, fato que pode comprometer a adoção de tecnologias promissoras para a agricultura familiar da região. Devido a essa característica é que Rocha et al. (2005) propõe uma dinâmica de trabalho em grupo para que possa fortalecer a adoção de tecnologias e experiências, através de reuniões técnicas com maior freqüência, objetivando viabilizar a participação de mais agricultores e maior socialização do que é discutido entre as comunidades participantes de diferentes treinamentos.

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A adoção do controle alternativo de insetos-praga e doenças em propriedades familiares de Igarapé-Açu só foi viável a partir das percepções coletivas e individuais dos agricultores. Isso aconteceu pelas discussões que estimularam os grupos de agricultores a refletirem sobre o conjunto das atividades realizadas na propriedade de cada participante. Após a realização dessas atividades (Quadro 1), cada agricultor pôde avaliar o potencial de uso do controle alternativo de insetos-praga e doenças com os seus sistemas de produção, realizando ou não adaptações para a sua adoção.

Quadro 1 - Atividades realizadas no âmbito de diferentes projetos liderados pela Embrapa Amazônia Oriental junto a agricultores familiares do município de Igarapé-Açu, visando à adoção de métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças de plantas Comunidades

Ferramentas utilizadas

Objetivos

Pontos negativos

1. Formar agricultores

1. Demora nos resultados

agricultores familiares e

2. Melhorar práticas utilizadas

do processo de inovação

3. São João

Agentes de Campo Local

para controle de insetos-praga e

tecnológica,

4. Porto Seguro

(ACL)

doenças

muitos

5. Santa Luzia

2. Dias de campo

3. Adotar novas práticas agrícolas

abandonarem

6. Primavera

3.

4. Divulgar práticas já testadas

parcialmente o processo

7. Rosário

elaboração de cartilhas

pelas comunidades

2. Pouco envolvimento dos

4. Seminários e encontros

5.

pelos

agricultores, seja por não

regionais e locais

agricultores, das práticas relatadas

haver a necessidade de

6. Sensibilizar e socializar as

utilização ou por ser um

informações e os conhecimentos

tipo

gerados

tecnológica exigente em

1. Nova Olinda

1.

2. Novo Brasil

Palestras

com

Treinamentos

e

7.

promover

análise,

Acompanhar

durante

o

as

famílias

processo

de

levando

agricultores

a

total

de

ou

inovação

tempo para obtenção dos resultados

incorporação do conhecimento,

3.

visando atingir um grupo maior

agricultores

que

de agricultores

participaram

dos

8. Estimular os agricultores a

treinamentos realizaram as

continuarem

práticas

no

inovação técnica

processo

de

Nem

propriedades

todos

nas

os

suas

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A introdução de inovações tecnológicas em sistemas de produção familiares tem sido discutida pelos segmentos de pesquisa e extensão agropecuária procurando superar as limitações existentes nesses processos. Dessa forma, a crítica aos modelos lineares de transferência de tecnologia, onde o agricultor é um simples receptor de informações trazidas pelos técnicos e por centros de extensão e pesquisa, tem se fortalecido (SILVA; ROCHA, 2010). O processo de sistematização, portanto, é uma prática que abre perspectiva de uma melhor compreensão sobre as experiências, sendo esse conhecimento emancipador, apropriado pela coletividade e passível de provocar mudanças nos indivíduos que a constroem (BARNECHEA, 2002). Eckert (2009) revelou que sistematizar é abrir-se ao diálogo, colocarse na perspectiva de uma posição a ser construída, proporcionar o cruzamento de interpretações saberes e lógica entre os atores envolvidos, levando a identificação não apenas dos sucessos e acertos, mas também dos equívocos, das debilidades e contradições. Agricultores familiares têm em seu conjunto de práticas técnicas econômicas, sociais e ambientais coerentes com a sua realidade e finalidade do seu sistema de produção, uso do solo e suas necessidades essenciais, que compatibilizam como seus objetivos e o meio ambiente. Assim, valorizar o conhecimento através da interação entre saberes científicos e dos agricultores é interpretado como fator de poder, que busca a promoção da auto-suficiência e sustentabilidade. Por isso, tecnologias caras são excludentes aos agricultores familiares, contudo quando geradas dentro de sua lógica de entendimento e prática, criam-se espaços que potencializam sua participação na geração de conhecimento e saberes (SUNDERHUS, 2008). Ao discutir sobre o saber camponês Paulo Freire destaca que: [...] Dar consciência aos camponeses de sua situação, afim de que eles mesmos se esforcem por mudá-las, não consiste em falar-lhes da agricultura em geral, recomendar-lhes o emprego de adubos químicos, de máquinas agrícolas nem de formação de sindicatos. Consiste em fazê-los compreender o mecanismo da produção agrícola, que se submetem por simples tradição; fazê-los examinar e criticar os atos diários que cumprem por rotina. O que mais custa a um homem saber, de maneira clara, é sua própria vida, tal como está feita por tradição e rotina de atos inconscientes. Para vencer a tradição e rotina, melhor procedimento prático não se encontra nas idéias e reconhecimentos da tradição por aqueles que se conformam com ela, no questionamento da rotina em que vivem [...] (FREIRE, 2001, p.40).

O envolvimento dos agricultores e agricultoras em ações relacionadas às suas realidades é uma condição central para que o processo de desenvolvimento ocorra e,

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conseqüentemente, alcance bons resultados (SCALABRIN et al., 2009). Como os saberes que sustentam as práticas dos agricultores estão igualmente em mudança constante e são frutos de experiências e interações cotidianas dos indivíduos que os produzem, os processos de retificação desses saberes correm maiores riscos quando agricultores e pesquisadores falam a mesma língua, podendo expressar-se em falsa familiaridade ou intucionismo (VEIGA, 2003). Dos 47 agricultores entrevistados nesta pesquisa, 87,23% deles (41 agricultores) recomendaram a utilização de métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças. Os demais agricultores não opinaram por não utilizar esse método de controle em seus cultivos agrícolas. Abaixo é possível analisar a percepção de um agricultor após o treinamento sobre métodos alternativos de controle de pragas. [...] os doutores da Embrapa nos ensinaram como controlar as pragas nas plantações utilizando o que temos no lote, os produtos feitos por nós não degrada o meio ambiente, nem poluem os rios, não matam os nossos peixes e acabam com as pragas[...] (Sr. “Velho”, agricultor, 2009).

A partir de então surgiu o questionamento sobre o que levou (ou não) agricultores familiares de Igarapé-Açu a adotarem tal tipo de intervenção fitossanitária. O que pôde ser considerado e/ou motivado para que se pudessem adotar tal tecnologia? De acordo com a ótica dos entrevistados, alguns aspectos foram decisivos para a escolha do método alternativo de controle de pragas, como a disponibilidade do produto no lote, o tempo médio para que se pudesse alcançar o resultado esperado, a metodologia de intervenção e, principalmente, a motivação do próprio agricultor em estar adotando a tecnologia aprendida em seu treinamento. Além da disponibilidade do produto botânico no lote e a fácil manipulação de preparo, alguns agricultores ainda relataram que avaliaram a relação custo/benefício dos produtos alternativos comparados com os agroquímicos sintéticos, que são prejudiciais ao meio ambiente e possuem preços mais elevados, que contribuirá para o aumento dos custos de produção. Um fator muito importante relacionado a não adoção de métodos alternativos para o controle de insetos-praga e doenças de plantas por alguns agricultores familiares de Igarapé-

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Açu foi o tempo para se obter o controle do inseto/doença alvo, conforme pode ser constatado na fala de um dos Agentes de Campo Local (ACL):

[...] eu utilizo o nim no controle de meus insetos-praga, mas nas minhas visitas aos agricultores e até mesmo com meus vizinhos e parentes, mesmo conhecendo os métodos alternativos, utilizam o químico, pois dá um resultado mais rápido e tem cultura que não dá pra esperar não, tem logo que entrar com o químico, se não tu perde é tudo [...] (Sr. “Marquinhos”, agricultor, 2009).

A adoção do modelo alternativo de controle de insetos-praga e doenças no município de Igarapé-Açu também foi influenciada pela motivação do agricultor em participar desse tipo de intervenção, pelo seu tempo disponível para se dedicar a esse tipo de trabalho e pela falta de acompanhamento mais intensivo dos técnicos junto aos agricultores experimentadores, como estimulantes do processo de inovação tecnológica proposto. É importante ressaltar que agricultores acompanhados por técnicos/extensionistas tendem a demonstrar maior envolvimento nas suas ações, pois podem tirar suas dúvidas, disseminar tecnologias, propiciar uma rede de informação e divulgação, contribuindo com desenvolvimento dos demais agricultores e importante difusor das inovações propostas. Foi possível perceber que a adoção de métodos alternativos de controle de insetospraga e doenças teve um impacto transformador no nível sócio-cultural, pois agricultores puderam ter acesso às inovações tecnológicas, aumento da consciência agroecológica e percepção de que técnicos, extensionistas e agricultores não podem viver isoladamente, sendo necessária uma pesquisa comprometida com os agricultores familiares em todos os processos de extensão, planejamento e gestão das ações e que estas trabalhem de forma compartilhada. Neste sentido, a partir dessas informações obtidas foi possível constatar que a adoção dos métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças, apesar de não adotado por todos os entrevistados, promoveu mudanças no modo de pensar dos agricultores quanto à utilização de agroquímico nos seus sistemas de cultivos e que a técnica em si, não traz mudança e sim um conjunto de fatores e ações são essenciais para se possa ter êxito no processo de disseminação de inovações tecnológicas. E, nesse momento, quem determinará

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quando e como utilizá-las são os agricultores familiares de acordo com sua realidade e objetivos. Segundo Simões (2001), o papel decisório dos agricultores vai além de apenas aceitar ou rejeitar uma tecnologia em função dos custos e retornos econômicos, passando a ser o ator principal em que suas decisões devem refletir os objetivos da família assim como as inter-relações entre as diferentes atividades em nível do sistema de produção. A partir das informações coletadas com as entrevistas foi possível categorizar quatro tipologias de agricultores familiares envolvidos no processo, são eles: a) Agricultores familiares participantes de ações conjuntas com a Embrapa Amazônia Oriental e que inovaram em seus sistemas de produção utilizando técnicas de Métodos Alternativos de Controle de Pragas e Doenças (MACPD) propostas pela EMBRAPA; b) Agricultores familiares participantes de ações conjuntas com a Embrapa Amazônia Oriental, mas que não utilizam os MACPD com a expectativa de obter controle dos insetos-praga e doenças de forma imediata nos seus cultivos. Apesar de conhecerem os MACPD utilizaram agroquímicos. Nessa categoria enquadraram-se, ainda, agricultores que acreditaram que os MACPD não são eficazes quando utilizados isoladamente ou que não utilizaram controle de pragas por não haver necessidade (ausência de infestações de insetospragas e doenças); c) Agricultores familiares que não participaram de ações conjuntas com a Embrapa Amazônia Oriental, mas que utilizam os MACPD de acordo com os seus saberes e técnicas (agricultores experimentadores). Fazem uso dos métodos alternativos de controle de pragas e doenças a partir de seus conhecimentos utilizando seus saberes tradicionais através de um processo histórico de trabalho, mostrando uma lógica a partir de resultados positivos de suas experiências; e d) Agricultores familiares que não realizam ações conjuntas com a Embrapa Amazônia Oriental e não utilizam MACPD, seja por não terem tido acesso ao conhecimento ou por não terem necessidade de utilizarem nenhum tipo de controle de pragas e doenças em seus cultivos. Nesta pesquisa os resultados serão apresentados considerando o tipo de cultivo principal de cada agricultor e a estratégia de controle adotada pelos entrevistados.

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Independente dos agricultores familiares do município de Igarapé-Açu terem participado ou não de treinamentos realizados pela Embrapa Amazônia Oriental, os principais inseticidas botânicos utilizados em seus cultivos foram: tabaco (Nicotiana tabacum); nim (Azadirachta indica); tucupi (extraído a partir do processamento da Manihot esculenta Crantz); mistura de alho (Allium sativum) + Álcool + Sabão neutro, e; pimenta-do-reino (Piper nigrum). No entanto, agricultores que participaram dos treinamentos realizados pela Embrapa Amazônia Oriental ainda utilizaram extratos de repolho (Brassica oleracea). Considerando esses resultados é possível perceber que o treinamento, por si só, não foi um critério diferenciador para os agricultores testar outras plantas potencialmente promissoras para o combate de pragas. Entre os agricultores entrevistados e que cultivam frutíferas em suas áreas não houve uma relação direta entre a utilização de insumos (químicos ou alternativos) e a sua participação nos programas de qualificação promovidos pela EMBRAPA (Quadro 2). Isso pode ser justificável pelo fato de a adoção de inovações tecnológicas não acontecer de imediato, pois parte-se de um processo gradual, onde o agricultor opta ou não em adotar as formas de intervenções propostas, adequando ao seu estilo, suas lógicas, praticas e ações (PLOEG et al., 2000).

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Quadro 2 - Realidade de agricultores familiares de Igarapé-Açu, PA, produtores de frutíferas, quanto à utilização de agroquímicos sintéticos, métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças (MACPD), uso simultâneo de agroquímico sintético x produto natural para o controle de insetos-praga e doenças Cultivo de Frutíferas Agroquímicos Sintéticos Participação em ações junto à Empresa Não Usa Usa de pesquisa Não Participa 6 6 Participa 12 11 Total 18 17 MACPD Participação em ações junto à Empresa de Não Usa Usa pesquisa Não Participa 10 2 Participa 11 12 Total 21 14 Uso simultâneo de agroquímico sintético x Biocida Natural Participação em ações junto à Empresa de Não Usa Usa pesquisa Não Participa 10 2 Participa 22 1 Total 32 3 Recomenda o uso de MACPD ou não sabem informar Participação em ações junto à Empresa de Não Sim pesquisa Não Participa 10 2 Participa 19 4 Total 29 6

Total 12 23 35 Total 12 23 35 Total 12 23 35 Total 12 23 35

Entre os produtores de fruteiras que participaram de ações junto à Embrapa Amazônia Oriental 47,83% deles ainda utilizam algum tipo de agroquímico na sua propriedade, particularmente, para controle de formigas (possivelmente Atta spp.) em plantios de limão (Citrus limonum), laranja (Citrus sinensis), graviola (Annona muricata) e açaí (Euterpe oleracea). Embora já tenham utilizado anteriormente os MACPD ainda utilizam os agroquímicos pela sua rápida ação. Observou-se que, dos 12 agricultores produtores de fruteiras entrevistados e que não participaram de ações conjuntas com a Embrapa, metade deles utilizaram agroquímico sintéticos para controle de insetos-praga e/ou de doenças. Foi constatado, também, que todos que usaram esse método de controle o fizeram de forma aleatória e sem o conhecimento da real ação do produto aplicado. Muitas aplicações de agroquímicos sintéticos foram, inclusive, propostas pelos vizinhos. Ficou evidenciado a não utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI) para a aplicação dos agroquímicos sintéticos, fato este preocupante visto o

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potencial de dano dos resíduos desses produtos na natureza e saúde do próprio agricultor aplicador. Dos produtores de fruteiras de Igarapé-Açu que utilizam MACPD em suas propriedades, 85,71% deles participaram dos treinamentos realizados pela Embrapa Amazônia Oriental (Tabela 2). A adoção e aplicabilidade dos MACPD por agricultores familiares entrevistados foi possível devido aos seguintes aspectos: 1) fizeram por acreditar que tais métodos são de fácil manuseio; 2) a matéria prima está disponível na propriedade; 3) os inseticidas botânicos não possuem ou têm baixo poder residual; 4) a utilização dos MACPD diminui os custos na produção; 5) são tão eficientes quanto o químico sintético no controle de insetos-praga e doenças; e 6) apresentam redução significativa na incidência de insetos-praga e doenças nas plantas afetadas. Já agricultores que não participaram das ações junto à Embrapa Amazônia Oriental, na sua maioria não há relatos da utilização desse método de controle. Dos 12 entrevistados somente 2 fizeram uso dos MACPD, apesar de não terem participado de palestras ou capacitações referente à utilização desse método de controle. Contudo, embasados em seus resultados obtidos, acreditam que diminuem a poluição ambiental e não prejudicam a saúde do trabalhador. O uso simultâneo de agroquímicos sintéticos e o MACPD é pequeno por agricultores que cultivam fruteiras, independente de terem participado ou não de ações de treinamentos. Dos 22 entrevistados somente 1 faz este tipo de associação, utilizando o nim, tabaco e Decis®. Em seu relato afirmou que faz uso desta mistura como medida preventiva e de segurança, visto que vem obtendo boas respostas. Em relação aos agricultores participantes de ações junto à Embrapa, dos 10 entrevistados 20% utilizaram o tucupi associado às inseticidas granulados para controle de formigas em seus plantios. Apesar de não estarem envolvidos, diretamente, em ações junto à Embrapa Amazônia Oriental, dois agricultores entrevistados recomendaram a utilização dos MACPD por acreditarem no seu potencial de controle de pragas. Surpreendentemente, recomendação de uso de MACPD por agricultores envolvidos nas ações de treinamentos da Embrapa Amazônia Oriental foi pouco expressiva. Esperava-se que, este grupo de agricultores por terem participado de palestras, cursos e dias de campo, pudessem descrever algumas das potencialidades dos MACPD para manter populações de pragas abaixo do nível de dano econômico.

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A horticultura foi outro sistema de cultivo praticado por um pequeno número (7 entrevistados) de agricultores do município de Igarapé-Açu. Dos agricultores entrevistados que cultivam hortaliças em suas áreas e que não participaram das ações da Embrapa Amazônia Oriental, 28,57% utilizaram agroquímicos (Quadro 3) para controlar infestações de pulgões e formigas em plantios de pepino (Cucumis sativus) e pimenta doce (Capsicum sp.). Outros agricultores participantes das ações da Embrapa Amazônia Oriental utilizam ou já utilizaram agroquímicos, como Decis® e Karate®, para controle de insetos-praga, como formigas, lagartas e cochonilhas. Quanto ao uso associado de agroquímicos sintéticos x biocidas naturais, tanto agricultores participantes como os não participantes das ações da Embrapa Amazônia Oriental relataram essa associação, utilizando-se Decis® + nim ou Tabaco + Decis® + alho + sabão + álcool. Quanto ao emprego dos MACPD somente um agricultor que não participou das ações da Embrapa Amazônia Oriental utilizou como controle preventivo de formigas o Alho + Álcool + sabão (Quadro 3). Entretanto, quatro dos agricultores entrevistados e que realizam ações junto à Embrapa Amazônia Oriental utilizaram os MACPD para controle de insetospraga em seus cultivos de couve (B. oleracea), tomate (Lycopersicum esculentum), quiabo (Abelmoschus esculentus) e pimenta malagueta (C. frutescens). Um percentual de 60% dos agricultores entrevistados que participaram das ações da Embrapa Amazônia Oriental recomendou o emprego de MACPD, por se tratar de uma alternativa como “saída” ao uso do agrotóxico. Outro motivo citado durante as entrevistas foi uma boa resposta no controle de lagartas em seus plantios, além de reduzir gastos, pois utiliza seus próprios recursos para fabricação do produto.

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Quadro 3 - Realidade de agricultores familiares de Igarapé-Açu, PA, produtores de hortaliças, quanto à utilização de agroquímicos sintéticos, métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças (MACPD), uso simultâneo de agroquímico sintético x produto natural para o controle de insetos-pragas e doenças Cultivo de Hortaliças Agroquímicos Sintéticos Participação em ações junto à Empresa de Não Usa Usa pesquisa Não Participa 0 2 Participa 2 3 Total 2 5 MACPD Participação em ações junto à Empresa de Não Usa Usa pesquisa Não Participa 1 1 Participa 1 4 Total 2 5 Uso simultâneo de agroquímico x Biocida Natural Participação em ações junto à Empresa de Não Usa Usa pesquisa Não Participa 1 1 Participa 4 1 Total 5 2 Recomenda o uso de MACPD ou não sabem informar Participação em ações junto à Empresa de Não Sim pesquisa Não Participa 2 0 Participa 2 3 Total 4 3

Total 2 5 7 Total 2 5 7 Total 2 5 7 Total 2 5 7

O Quadro 4 apresenta o perfil dos agricultores que cultivam culturas anuais no município de Igarapé-Açu. Destes, somente 33% utilizaram agroquímicos sintéticos em seus cultivos, independente de terem participado ou não de ações conjuntamente com a Embrapa Amazônia Oriental. Um dos motivos justificados pelos agricultores para o emprego desses produtos foi o fato dos cultivos locais já se encontrarem em estágio avançado de infestação por insetos-praga e/ou por doenças, conforme relato abaixo. [....] eu utilizo o químico só quando vejo que não vai ter jeito, pra não perder ou deixar piorar eu utilizo, porque nós sabemos os problemas que ele causa, eu prefiro usar o natural ou não uso nenhum não [....] (Sr. “Gordinho”, 2009. Agricultor).

A maioria dos agricultores entrevistados não utilizou os MACPD em função dos seus cultivos não serem atacados por insetos-praga e/ou doenças (Tabela 4). Entretanto, quando se fez necessário 22,22% dos agricultores entrevistados e participantes das ações

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desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Oriental utilizou esse método de controle. Dos agricultores que não foram contemplados com as ações desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Oriental somente um empregou em seus cultivos os MACPD por acreditar que os mesmos são capazes de controlar as infestações sejam por insetos-praga ou doenças. Agricultores que cultivam plantas anuais no município de Igarapé-Açu não empregaram, simultaneamente, agroquímicos sintéticos com produtos naturais para o controle de insetos-praga e doenças, independente de terem participado ou não das ações desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Oriental (Quadro 4). Acredita-se que nesses cultivos não ocorreu um ataque severo de insetos-praga ou de doenças que justificassem o emprego simultâneo desses produtos fitossanitários.

Quadro 4- Realidade de agricultores familiares de Igarapé-Açu, PA, produtores de culturas anuais, quanto à utilização de agroquímicos, métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças (MACPD), uso simultâneo de agroquímico x produto natural para o controle de insetos-praga e doenças Cultivo de Culturas Anuais Agroquímicos Sintéticos Participação em ações junto à Empresa Não Usa Usa de pesquisa Não Participa 6 3 Participa 6 3 Total 12 6 MACPD Participação em ações junto à Empresa Não Usa Usa de pesquisa Não Participa 8 1 Participa 7 2 Total 15 3 Uso simultâneo de agroquímico sintético x Natural Participação em ações junto à Empresa Não Usa Usa de pesquisa Não Participa 9 0 Participa 9 0 Total 18 0 Recomenda o uso de MACPD ou não sabem informar Participação em ações junto à Empresa Não Sim de pesquisa Não Participa 8 1 Participa 8 1 Total 16 2

Total 9 9 18 Total 9 9 18 Total 9 9 18 Total 9 9 18

Fato importante a ser considerado foi que somente dois agricultores (11,11%) recomendaram o emprego de MACPD, independentemente de terem participado ou não das

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ações desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Oriental, embora muitos apresentassem a percepção de que tais produtos são “[...] um veneno natural para o controle de insetos-praga, confirmando que os mesmos diminuem os riscos ambientais por utilizarem os recursos naturais[...]”. Nos cultivos com culturas permanentes observou-se que a maioria dos agricultores envolvidos nas ações conjuntas com a Embrapa Amazônia Oriental utiliza os MACPD e os recomendam (Quadro 5) por diminuírem os riscos ambientais e a saúde do trabalhador. Entretanto, alguns agricultores entrevistados ainda acreditam que tais métodos de controle não têm efeito quando não utilizados com freqüência, pois por serem de fácil degradação não serão persistentes no ambiente.

Quadro 5 - Realidade de agricultores familiares de Igarapé-Açu, PA, produtores de culturas perenes, quanto à utilização de agroquímicos sintéticos, métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças (MACPD), uso simultâneo de agroquímico sintético x produto natural para o controle de insetos-pragas e doenças Cultivo de Culturas Perenes Agroquímicos Sintéticos Participação em ações junto à Empresa de Não Usa Usa pesquisa Não Participa 3 6 Participa 7 6 Total 10 12 MACPD Participação em ações junto à Empresa de Não Usa Usa pesquisa Não Participa 5 4 Participa 7 6 Total 12 10 Uso simultâneo de agroquímico sintético x Natural Participação em ações junto à Empresa de Não Usa Usa pesquisa Não Participa 8 1 Participa 12 1 Total 20 2 Recomenda o uso de MACPD ou não sabem informar Participação em ações junto à Empresa de Não Sim pesquisa Não Participa 7 2 Participa 10 3 Total geral 17 5

Total 9 13 22 Total 9 13 22 Total 9 13 22 Total 9 13 22

O uso simultâneo de agroquímicos sintéticos x produto natural pelos agricultores que possuem em seus lotes cultivos permanentes foram inexpressivos quando relacionados a

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outros tipos de cultivos. Entretanto, a justificativa daqueles que utilizaram essa estratégia conjuntamente foi o fato de acreditarem que os produtos naturais para o controle de insetospraga e doenças não são eficazes efeito quando utilizados isoladamente. Embora equivocada, essa percepção ainda é comum entre alguns agricultores entrevistados no município de Igarapé-Açu. As recomendações propostas pelos agricultores familiares quanto à utilização dos MACPD, nos faz retornar às mesmas considerações abordadas e discutidas para os cultivos anteriores, levando-nos a entender que, independente do tipo de cultivo estabelecido na propriedade rural, à adoção ou não dos MACPD não depende, apenas, de pacotes fechados de tecnologias “apropriadas” aos agricultores. Na verdade, quem irá decidir sobre a adoção das inovações técnicas é o próprio agricultor (SILVA; ROCHA, 2010), considerando suas convicções e realidade. Mais da metade dos agricultores que mantém sistemas agroflorestais (SAFs) em suas propriedades não utilizaram agroquímicos sintéticos para o controle de insetos-praga e doenças (Quadro 6). Porém, quando usaram tais produtos foi por que em determinados tipos de cultivos não foi possível obter os resultados esperados utilizando os MACPD isoladamente ou pela alta infestação da cultura. O emprego simultâneo de agroquímico sintético x natural foi constatada apenas em um dos agricultores entrevistado (Quadro 6), que realizava essa atividade uma vez ao mês como medida preventiva ao ataque de formigas, pulgões e lagartas em cultivos de laranja e limão. Os MACPD são adotados pela maioria dos agricultores entrevistados participantes de ações junto à Embrapa Amazônia Oriental. Esse resultado, possivelmente, está relacionado ao tipo de cultivo adotado (SAFs) por esses agricultores, haja vista corresponder ao mesmo proposto e acompanhado por diferentes ações de pesquisa desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Oriental naquele município. Portanto, agricultores são direta e rotineiramente assistidos por pesquisadores e técnicos através de visitas, dias de campo, formações, palestras, dentre outras atividades. Acompanhamentos intensivos por pesquisadores e técnicos junto aos agricultores experimentadores aparecem como um estímulo aos processos de inovações tecnológicas.

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Quadro 6 - Realidade de agricultores familiares de Igarapé-Açu, PA, com sistemas agroflorestais (SAFs) em suas propriedades, quanto à utilização de agroquímicos sintéticos, métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças (MACPD), uso simultâneo de agroquímico x produto natural para o controle de insetos-praga e doenças Cultivo de SAF’s Agroquímicos Sintéticos Participação em ações junto à Empresa de Não Usa Usa pesquisa Não Participa 1 0 Participa 7 5 Total 8 5 MACPD Participação em ações junto à Empresa de Não Usa Usa pesquisa Não Participa 0 1 Participa 5 7 Total 5 8 Uso simultâneo de agroquímico sintético x Natural Participação em ações junto à Empresa de Não Usa Usa pesquisa Não Participa 1 0 Participa 11 1 Total geral 12 1 Recomenda o uso de MACPD ou não sabem informar Participação em ações junto à Empresa de Não Sim pesquisa Não Participa 0 1 Participa 2 10 Total geral 2 11

Total 1 12 13 Total 1 12 13 Total 1 12 13 Total 1 12 13

Os agricultores envolvidos em ações conjuntas com a Embrapa Amazônia Oriental recomendaram a adoção do uso dos MACPD, devido os mesmos terem alcançado resultados positivos no controle de insetos-praga e doenças, tais quais, o uso de nim para o controle de lagartas e formigas e fumo para o controle de doenças, como a virose no maracujazeiro. Abaixo é descrito um relato de um dos entrevistados: [...] Eu recomendo sim, por que não prejudica a minha saúde, evita as doenças nas minhas plantações e ainda utilizo os recursos da natureza. Diferente do químico que causa risco pra minha saúde [...] (Sr. Francisco, 2009. Agricultor)

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É necessário, portanto, perceber e entender que os grupos locais de agricultores têm sua própria lógica, práticas, ações, identidades, estilos de vida, seus próprios projetos e suas motivações pessoais e familiares. Assim, a introdução de inovações tecnológicas como um processo multifacetado, deve perceber e considerar os elementos, as mudanças e os estilos de vida e história de cada agricultor em frente ao processo de tomada de decisões sobre o processo que se delineia (PLOEG et al., 2000). O processo de adoção da inovação tecnológica não acontece de imediato, pois é um processo gradual em que o agricultor optará em adotar ou não as formas de intervenções propostas de acordo com a sua realidade e convicções. No entanto, as diferentes atividades de dias de campo, palestras, treinamentos e cartilhas foram fundamentais para a ampliação do conhecimento das famílias acompanhadas, contribuindo para reforçar e ampliar o conhecimento e estimular os agricultores a continuarem no processo de inovação tecnológica sobre métodos de controle alternativo de para problemas fitossanitários. A utilização dos agroquímicos sintéticos por agricultores familiares do município de Igarapé-Açu ainda é expressiva, visto que o processo de adoção de inovações tecnológicas é demorado e exigente em um maior envolvimento de técnicos e agricultores. Dentre os fatores que ainda contribuem para freqüência de uso de agroquímicos sintéticos por agricultores familiares de Igarapé-Açu estão: a) severidade de ataques de doenças e insetospraga em alguns cultivos, chegando ao nível de causarem danos econômicos; e b) baixa apropriação das técnicas de preparo e uso de MACPD, por não terem participado de palestras, formações, seminários ou dias de campo, ao qual pudessem adotar tais inovações tecnológicas. Neste estudo foi possível perceber que o fato de os agricultores participarem de ações conjuntas com a Embrapa Amazônia Oriental não justificou de imediato, a adoção integral do uso de inovações tecnológicas sobre métodos alternativos de controle de insetospraga e doenças. Entretanto, é perceptível que os MACPD propostos pela Embrapa Amazônia Oriental e adotados por alguns dos entrevistados modificaram a forma de pensar e agir de alguns agricultores. Neste sentido, a forma de percepção, adoção e adaptação de tecnologias apesar de não ter sido adotada por todos os agricultores entrevistados pode-se observar o seu caráter inovador. O trabalho só confirmou o que já fora anteriormente relatado por Simões (2002), que se não houver um encontro de linguagens entre agricultores e técnicos, todas as ações a

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serem desenvolvidas não terão êxito. Dessa forma, segundo o autor esta nova aproximação não pode ser baseada apenas em aspectos técnicos ou ambientais, mas se devem levar em consideração os processos sociais. Assim sendo, é possível perceber que, em termos de estratégia de desenvolvimento, o processo de adoção das experiências intervindas pela empresa de pesquisa foi inovador e emancipatório, pautado no diálogo técnico socialmente construído como elemento-chave à colaboração entre agricultores e pesquisadores, tanto na identificação e resolução dos problemas que afetam a sustentabilidade dos sistemas de produção, como no processo de reconhecimento das capacidades e diferenças histórico sociais de cada um, aspecto tão necessário nas ações de desenvolvimento rural.

77

4. CONCLUSÕES

i.

O processo de adoção da inovação tecnológica (emprego de métodos

alternativos de controle de insetos-praga e doenças) não acontece de forma imediata entre os agricultores do município de Igarapé-Açu, sendo, portanto, um processo gradual em que cada agricultor opta em adotar ou não as formas de intervenções propostas; ii.

Nem todos os agricultores familiares do município de Igarapé-Açu que

participaram de ações conjuntas com a Embrapa Amazônia Oriental adotam o emprego de métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças em suas propriedades; iii.

Agricultores familiares que utilizam métodos alternativos de controle de

insetos-praga e doenças em seus cultivos os fazem por terem matéria prima disponível na propriedade; redução de custos; pelos produtos alternativos possuírem baixo ou nenhum poder residual e, consequentemente, apresentarem menor impacto ambiental e a saúde humana; iv.

Nim, tabaco e pimenta-do-reino são os biocidas botânicos mais utilizados para

o controle de insetos-praga e doenças por agricultores familiares do município de IgarapéAçu, PA; e v.

Agricultores familiares de Igarapé-Açu com SAFs em suas propriedades

empregam, de forma mais frequente, métodos alternativos para o controle de insetos-praga e doenças.

78

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É fundamental considerar os saberes (acadêmico e empírico) na busca não apenas do sucesso das ações a serem desenvolvidas no meio rural, mas, principalmente, para a construção de políticas públicas que ajudem a afirmar um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia. Nesse sentido é de suma importância reconhecer os saberes dos agricultores familiares e, assim, propiciar o encontro e diálogo entre os saberes, a construção coletiva para dar respostas mais completas sobre os problemas da agricultura, do ambiente e da permanência da vida na terra. Os saberes dos agricultores não é tão somente um conhecimento empírico acumulado, mas se constitui em um instrumento de legitimação dos povos por meio de sua cultura e apropriação de valores, passados de geração a geração, saberes estes tão importantes quanto a inteligência crítica, a abertura às novidades e ao saber erudito, que são construídos pelas experiências anteriores e capacidade adaptativa, permitindo-lhes manejar sistemas altamente complexos de forma eficaz e produtiva. Por fim, é fundamental perceber que a participação dos agricultores familiares em todos os estágios da pesquisa e da ação é de grande importância para o desenvolvimento e sucesso de projetos a serem executados, independente da linha de conhecimento estudada.

79

REFERÊNCIAS

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80

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81

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82

ANEXO A

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E DESENVOLVIMENTO RURAL EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – AMAZÔNIA ORIENTAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURAS AMAZÔNICAS Roteiro para entrevista com os Agricultores Familiares do Município de Igarapé-Açu Data: ___/___/_____ 1.

IDENTIFICAÇÃO

1.1.

Nome do entrevistado______________________________________________

1.2.

Apelido: ___________________________

1.3.

Idade: _____________________________

1.4.

Qual o município que você nasceu?___________________________________

1.5.

Qual o ano de chegada na região ou no lote?____________________________

1.6.

Qual o tamanho de seu lote? ____________________ Hectares / Alqueire

2.

Quantas pessoas fazem parte de sua família?

2.2.

Todas as ajudam na atividade do lote?

3.1.

)

F( )

COMPOSIÇAÕ DA FAMILÍA:

2.1.

3.

Sexo: M (

NIVEL DE ESOLARIDADE E CURSOS DE CAPACITAÇÃO Quantos estudam?

3.2.

Você ou alguém de sua família já participaram de algum curso de capacitação?

3.3.

Você conhece ou já ouviu falar em método alternativo de controle de pragas e doenças (p.ex., controle biológico) ?

3.4.

Você já participou de algum curso sobre método alternativo de controle de pragas e doenças?

3.5.

Se já participou qual a entidade que organizou este curso?

3.6.

Você faz uso deste tipo de controle em sua propriedade ou lote?

3.7.

Você obteve boas respostas (eficiência) quanto a este tipo de controle? Por que?

3.8.

Você acredita ser capaz de controlar pragas e doenças apenas utilizando esse método de controle?

4.

RECURSOS NATURAIS:

a)

Você tem áreas em sua terra ainda coberta pela:

Floresta nativa? ___________ hectares / alqueires Capoeiras? Juquira?

_________ hectares / alqueires __________ hectares / alqueires

83

Roça?

___________ hectares / alqueires

Culturas Perenes? ___________ hectares / alqueires Floresta madura recuperada? ___________ hectares / alqueires

5.

SISTEMAS DE CULTIVOS Hortaliças (área)

O que você tem no lote de Quais os principais problemas (ataques) com insetos-praga em seus cultivos? Quais os principais ataques por doenças em seus cultivos? Você faz pulverizações com venenos em seus cultivos? Qual a freqüência? Em quais culturas? Qual o produto utilizado? Você faz uso de controle alternativo (p.ex., biológico ou inseticidas botânicos)?

Em quais culturas? Qual(is) o(s) produto(s) utilizado(s)?

Frutíferas (área)

Culturas anuais (área)

Culturas perenes (área)

SAF`s (área)

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CAPÍTULO II II TESTES E SELEÇÃO DE INSETICIDAS BOTÂNICOS PARA O CONTROLE DE INSETOSINSETOS-PRAGA NA AGRICULTURA FAMILIAR

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RESUMO

Insetos-praga provocam prejuízos elevados e significativos à agricultura mundial. Atualmente, plantas com propriedades biocidas despontam como promissoras para o controle de insetos-praga em diferentes cultivos e são importantes pelo potencial de substituirem os inseticidas sintéticos e reduzirem os impactos ambientais, além da matéria prima ser obtida na flora local. O presente trabalho testou o potencial inseticida de diferentes extratos vegetais contra imaturos de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae), em laboratório. Para cada extrato vegetal testado foram realizados bioensaios, em diferentes concentrações, com o objetivo de quantificar a dose letal (DL50) para o inseto após exposição aos biocidas utilizados, em superfície contaminada (papel filtro) e aplicação tópica. Larvas de T. molitor de 4º ínstar (peso médio de 100,0 ± 5,0 mg), após a aplicação dos tratamentos, foram individualizadas em placas de Petri (9,0 x 1,5 cm) e mantidas em câmaras climatizadas, tipo BOD, à temperatura de 25 ± 2oC, umidade relativa de 70 ± 10% e fotofase de 12 horas. A mortalidade dos insetos, em ambas as condições, foi assegurada dez dias após a exposição aos inseticidas botânicos. Extratos aquosos e alcoólicos de fumo, nim e manipueira, aplicados em papel filtro (superfície contaminada) não provocaram mortalidade significativa em imaturos de T. molitor após dez dias de exposição em laboratório. Extratos aquosos e alcoólicos de fumo, a 10%, nim alcoólico, a 10%, e manipueira acima de 40%, quando aplicados topicamente provocaram mortalidade superior a 50% em imaturos de T. molitor após dez dias de exposição. A utilização de extratos vegetais por agricultores familiares do nordeste paraense mostrou-se como uma alternativa viável para o controle de insetos-praga, quando aplicados diretamente sobre os mesmos.

Palavras-chave: Agricultura familiar, inseticidas botânicos, insetos-praga, Tenebrio molitor.

86

ABSTRACT

High and significant damages are promoted by pests in agriculture around the world. Nowadays, plants with biocide properties are promising for controlling pest in different crops, and are important because they could substitute the synthetic insecticides and reduce the environmental impacts, besides the raw matter may be obtained in the local flora. This research tested the insecticide potential of different botanical extracts against Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae) larvae, in laboratory conditions. Bioassays were accomplished for each botanical extract tested, in different concentrations, aiming to quantifying the insect lethal dose (LD50) after exhibition to all botanical extracts, in polluted surface and topical applications. Then, T. molitor 4th instar larvae (mean weight of 100.0 ± 5.0 mg) were individualized in Petri dishes (9.0 x 1.5 cm) and maintained in acclimatized chamber, type B.O.D., at 25 ± 2oC, RH of 70 ± 10%, and 12 hours of photofase. In both conditions, the mortality of T. molitor 4th instar larvae was insured ten days after the exhibition to botanical insecticides. When applied in paper filter (polluted surface), aqueous and alcoholic extracts of tobacco, neem and “manipueira” did not cause significant mortality in T. molitor 4th instar larvae after ten days of exhibition. However, when exposed in topical application, aqueous and alcoholic extracts of tobacco (10%); alcoholic extract of neem (10%), and extract of “manipueira” (≥ 40%), promoted mortality superior to 50% in T. molitor 4th instar larvae after ten days of exhibition. The use of botanical extracts by family farmers of the northeast region of Pará seems to be a viable alternative for controlling pests, specially, when sprayed directly on the pest body.

Keyword: Family farm, pests, botanical insecticides, Tenebrio molitor.

87

1. INTRODUÇÃO

Os danos causados por insetos-praga e doenças à agricultura mundial são elevados e podem causar prejuízos da ordem de 38% (BENTO, 1999) do que é produzido. O aumento dos problemas com pragas nas últimas décadas demonstra, portanto, que as práticas adotadas na agropecuária moderna têm facilitado a proliferação desses organismos competidores com o homem. Mesmo já comprovado os malefícios do emprego exagerado de agrotóxicos químicos sintéticos na agricultura, até hoje eles são amplamente produzidos e utilizados, cercados por uma aura de modernidade e efetividade única (SOGLIO, 2008). O Brasil, desde 2010, assumiu o status de maior consumidor de agrotóxicos do mundo, representando 16% das vendas mundiais desses produtos (PELAEZ et al., 2010). Simultaneamente ao aumento do consumo de agrotóxicos no Brasil, a sociedade tem demonstrado, claramente, sua preocupação com questões relacionadas ao meio ambiente. Por isso, insatisfações quanto aos resíduos de pesticidas nos alimentos têm sido frequentes e mostram a necessidade de se estabelecer métodos de controle bióticos eficientes no controle de insetos-praga (FRONZAGLIA, 2006). A utilização de extratos vegetais constitui-se em uma forma potencial de controle alternativo de insetos-praga e doenças em plantas. Apesar dos avanços nos últimos anos, a utilização dessas medidas de controle requer, ainda, muito estudo, que vão desde a aplicabilidade até o conhecimento do seu correto modo de ação e utilização para o controle, tornando-se viáveis para os agricultores e diminuindo a dependência dos mesmos (SCHWAN-ESTRADA; SUZUKI; ITAKO, 2008). O interesse em desenvolver e usar extratos botânicos para o manejo de insetospraga e doenças aumentou nos últimos anos, estimando um crescimento anual na ordem de 10 a 15%, vindo ao encontro da necessidade de buscar por métodos alternativos de menor impacto ou riscos à saúde humana e ao meio ambiente (MENEZES, 2005). Inseticidas botânicos são, portanto, produtos derivados de plantas ou parte das mesmas, podendo ser até o próprio material vegetal, normalmente moído até ser reduzido a pó, ou seus produtos derivados por extração aquosa ou com solventes orgânicos, tais como álcool, éter, acetona, clorofórmio etc., ou destilação (GOMES, 2008).

88

As plantas com potencial inseticida mais promissora são encontradas nas famílias Meliaceae, Rutaceae, Asteraceae, Annonaceae, Labiatae e Canellaceae. No entanto, as informações disponíveis sobre a caracterização, o modo de ação, a toxicologia e os efeitos no ecossistema, para a maioria dos inseticidas botânicos, são ainda escassas, embora a maioria seja utilizada há mais de meio século (MENEZES, 2005). De acordo com Lemos; Ribeiro (2008), os compostos naturais são geralmente biodegradáveis e potencialmente menos impactante ao meio ambiente, contudo alguns compostos podem ser tóxicos a peixes, insetos benéficos e/ou mamíferos. Dessa forma, inseticidas botânicos despontam como alternativa ao uso de inseticidas sintéticos comerciais, visando à minimização de impactos ambientais, utilizando como matéria prima os próprios recursos naturais existente da flora amazônica. O nim, Azadirachta indica A. de Jussieu, é uma planta da família Meliaceae, originária da Índia e usada há séculos como medicinal, inseticida, adubo e para a produção de madeiras (MARTINEZ, 2002). Caracteriza-se por apresentar eficiência e baixa toxidade ao homem e meio ambiente, além de ser biodegradável. Tem como princípio ativo majoritário a azadiractina, que favorece sua utilização na agricultura por apresentar rápida degradação e baixos riscos de poluição à água e ao solo (CUNHA, 2008). Na busca por espécies vegetais bioativas para o controle de insetos-praga e doenças, a família Meliaceae foi identificada como uma das mais promissoras, uma vez que grande parte de suas espécies tem compostos com ação contra insetos e toxidade geralmente baixa. Dentre as meliáceas, o nim é a espécie mais estudada até então (MARTINEZ, 2002), com ação sobre mais de 400 espécies de insetos e ácaros, causando múltiplos efeitos, como repelência; redução da alimentação; repelência de postura; interrupção do desenvolvimento e da ecdise; atraso no desenvolvimento; redução da fertilidade e fecundidade e diversas outras alterações no comportamento e na fisiologia dos insetos, que podem levar a morte. Ainda tem ação contra outros organismos, como fungos, bactérias e nematóides (FALESI; FERREIRA; CARVALHO, 2000). O fumo ou tabaco (Nicotiana tabacum L.) pertence à família Solanaceae e é originária da América do Sul, mais precisamente o Noroeste da Argentina e região dos Andes (MENEZES - AGUIAR, 2005). Por apresentar metabólitos secundários com significativa toxidade, muitos trabalhos citam à utilização de solanáceas como controladores de insetospraga (MIETH, 2007). Os principais constituintes químicos do fumo são nicotina, cotinina, miosmina, nicotirina, anabasina e nicotelina, sendo que, a nicotina está presente em toda a

89

planta do tabaco, principalmente nas folhas, correspondendo a 5% em peso da planta (SAITO; LUCCHINI, 1998). Entre as plantas com atividade inseticida, a mandioca Manihot esculenta (Cranz) (Euphorbiaceae) destaca-se pelo potencial de uso do seu subproduto, a manipueira ou “manipeira”, que é um líquido de coloração amarelada extraído da mandioca após ser prensada, durante a fabricação da farinha (SANTOS, 2008). Na sua composição encontra-se o ácido cianídrico, despreendido durante o processo de ralação, com propriedades voláteis (EMBRAPA, 2005). Contém um glicosídeo tóxico cianogênico denominado de limarina, do qual se origina o ácido cianídrico (HCN). São esses cianetos que respondem pelas ações inseticidas, acaricidas e nematicidas (GONZAGA, 2007), sendo o potencial inseticida da manipueira, sobre diferentes espécies-praga, já constatado no Brasil (GONZAGA, 2007 e 2008; MENDES, 2007). É necessário, portanto, que sejam intensificadas pesquisas sobre controle de insetos-praga com extratos botânicos, gerando conhecimentos técnico-científicos sobre o tempo de carência, seu efeito residual e reais impactos em problemas fitossanitários. Assim sendo, o presente trabalho objetivou testar o potencial inseticida de extratos vegetais de fumo, nim e manipueira, contra imaturos de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae), em laboratório, visando ao controle de insetos-praga em diferentes sistemas de cultivos de base familiar no Pará.

90

2. METODOLOGIA

Após o processo de sistematização das experiências (CAPITULO I) foram identificados os principais produtos de origem vegetal utilizados pelos agricultores de Igarapé-Açú, PA, para o controle de insetos-praga e doenças de plantas, levando em consideração seus saberes e sua apropriação do conhecimento sob a metodologia de aplicabilidade do produto. Os produtos de origem vegetal mais frequentemente utilizados pelos agricultores familiares de Igarapé-Açu foram testados em laboratório para o controle de insetos-praga e doenças (CAPITULO III).

2.1. OBTENÇÃO E PREPARO DOS EXTRATOS VEGETAIS

O tucupi utilizado nesta pesquisa foi adquirido em feiras livres de Belém, Pará, o qual foi extraído artesanalmente em propriedades de agricultores familiares ribeirinhos, na ilha de Boa Vista, localizado às margens do rio Guamá, de onde o produto é vendido para feirantes da capital. Diferenciando-se dos outros extratos, a manipueira não necessitou de nenhum tratamento prévio, sendo que, sua utilização nesta pesquisa foi realizada em um período inferior a 48 horas após a obtenção do produto, visto que, seus compostos são rapidamente perdidos, refletindo negativamente nas suas ações inseticidas e bactericidas. O tabaco, de forma similar ao tucupi, foi obtido em feiras livres da capital paraense e teve sua origem e processo de fabricação desconhecidos. Contudo, é sabido que seu processo de fabricação é totalmente artesanal. Para obtenção do extrato de fumo utilizado nesta pesquisa, adaptou-se a metodologia proposta por Rando et al. (2009), utilizando-se 50 g do fumo em corda triturado (Figura 1) para cada litro de água destilada. Em seguida, a mistura permaneceu em imersão por um período de 24 horas protegida da incidência de luz e calor, evitando desta maneira a volatilização do produto e perdas das propriedades inseticidas. O mesmo tratamento foi realizado utilizando-se álcool etílico para a composição do extrato alcoólico.

91

Figura 1 - Fumo em corda triturado e pronto para ser utilizado na preparação dos extratos aquoso e etanólico. O material vegetal de nim utilizado nesta pesquisa foi obtido nas dependências da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, Pará. Utilizando-se metodologia adaptada de Viana (2006) (Figura 2), folhas de nim foram coletadas juntamente com os talos e, em seguida, realizada assepsia com prévia imersão em álcool etílico, a 70%, por dois minutos, solução de NaClO a 2%, por 10 minutos, e, após imersão rápida em água destilada, colocado em papel toalhas para absorção do excesso de umidade. Posteriormente, o material permaneceu por um período de 24 horas, em estufa com circulação de ar forçado, a 40°C, para secagem das folhas (Figura 3). Coleta do Material vegetativo

Assepsia do Material

Secagem em Estufa

Processamento do Material (Pó)

Preparo dos Extratos

Extrato Aquoso

Extrato Alcoólico

Figura 2 - Técnica de obtenção de extratos aquoso e alcoólicos de folhas de nim.

92

Figura 3 - Detalhes do processo de secagem de folhas de nim em estufa antes da preparação dos extratos. Para o preparo dos extratos aquoso e alcoólico de nim foram utilizados 150 g do pó das folhas (Figura 4) por litro de água (aquoso) ou álcool (alcoólico). Em seguida, o material foi mantido sob agitação constante, para homogeneizar a mistura, ficando posteriormente em repouso durante 24 horas antes do uso. Após este período o extrato foi filtrado utilizando-se tecido tipo organza ou voil, evitando que resíduos de partículas ficassem na calda do extrato e entupissem os bicos das micropipetas.

Figura 4 - Pó da folha de nim utilizado no preparo dos extratos aquoso e alcoólico.

Após o preparo, os extratos foram armazenados em frascos plásticos envoltos em papel alumínio (Figura 5), ao abrigo da luz e calor, pois segundo Darmala; Gopinathan (2002) a azadiractina é sensível a altas temperaturas e luminosidade.

93

Figura 5 - Detalhes do armazenamento dos extratos aquoso e alcoólico de nim.

2.2. BIOENSAIOS

Todos os bioensaios desse estudo foram desenvolvidos no Laboratório de Entomologia da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, Pará, utilizando-se T. molitor como inseto-modelo, os quais foram oriundos de criação mantida nesse laboratório. Para cada extrato vegetal foram realizados bioensaios, em diferentes concentrações, com o objetivo de quantificar a dose letal (DL50) para o inseto após exposição aos biocidas utilizados, tanto através da superfície contaminada como por aplicação tópica. Os insetos, após a aplicação dos tratamentos, foram mantidos em câmaras climatizadas, tipo BOD (Figura 6), à temperatura de 25 ± 2oC, umidade relativa de 60 ± 10% e fotofase de 12 horas. As doses utilizadas nos bioensaios foram selecionadas após testes preliminares, desde aquela de menor até maior limite de resposta biológica, para cada inseticida botânico. O tratamento controle (com água destilada) foi utilizado para corrigir os dados de mortalidade natural, utilizando-se a fórmula de Abbott (1925). A mortalidade dos insetos estudados foi assegurada 10 dias após a exposição dos mesmos aos inseticidas testados, sendo considerados mortos os indivíduos incapazes de se locomoverem após um estímulo.

94

Figura 6 - Insetos expostos aos diferentes tratamentos com biocidas botânicos e mantidos em câmara climatizada, tipo B.O.D. Nesta atividade foram desenvolvidos dois bioensaios distintos para cada biocida botânico testado, os quais serão descritos a seguir:

2.2.1. Exposição por contato de imaturos de T. molitor em superfície contaminada (papel filtro)

Neste bioensaio, os inseticidas botânicos testados foram pulverizados em discos de papel de filtro (9,0 cm ∅) com auxílio de micropipetas com pressão e precisões de 0,5 mL. Os discos de papel pulverizados (incluindo o controle pulverizado com água) foram deixados ao ar livre, em placas de Petri (9,0 ∅ x 1,5 cm alt.) durante dez minutos, para secar (Figura 7A). Foram utilizadas larvas de T. molitor de 4º ínstar (peso médio de 100,00 ± 5,0 mg) mantidas individualizadas em placas de Petri (9,0 ∅ x 1,5 cm alt.) (Figura 7B), contendo papéis filtro impregnados com extratos vegetais em diferentes concentrações (Quadro 1).

95

B A

Figura 7 - Biocidas pulverizados em discos de papel filtro (A) antes da exposição aos insetos (B).

Quadro 1. Tratamentos e suas respectivas concentrações testadas contra imaturos de T. molitor por superfície contaminada e aplicação tópica. Extratos Botânicos Testados

Concentrações (%)

Água destilada (Testemunha)

-

Nim aquoso

5

Nim aquoso

10

Nim aquoso

100

Nim alcoólico

5

Nim alcoólico

10

Nim alcoólico

100

Tabaco (fumo) aquoso

5

Tabaco (fumo) aquoso

10

Tabaco (fumo) aquoso

100

Tabaco (fumo)alcoólico

5

Tabaco (fumo) alcoólico

10

Tabaco (fumo) alcoólico

100

Manipueira (tucupi)

5

Manipueira (tucupi)

40

Manipueira (tucupi)

50

Manipueira (tucupi)

60

Manipueira (tucupi)

70

Manipueira (tucupi)

80

Manipueira (tucupi)

90

Manipueira (tucupi)

100

96

Foram utilizadas dez repetições para cada um dos extratos vegetais e dose testados, em delineamento inteiramente casualizado, totalizando de 210 larvas de T. molitor no experimento. Os insetos, após a aplicação dos tratamentos, foram mantidos em câmaras climatizadas, tipo B.O.D., à temperatura de 25 ± 2oC, umidade relativa de 60 ± 10% e fotofase de 12 horas. A mortalidade dos insetos foi assegurada dez dias após a exposição dos mesmos aos inseticidas testados, sendo considerados mortos os indivíduos incapazes de se locomoverem após um estímulo. As curvas de mortalidade em função da dose foram estimadas utilizando o programa Sigma Plot 11.

2.2.2. Exposição de imaturos de T. molitor por aplicação tópica

Este bioensaio consistiu na aplicação tópica de 0,5 mL das concentrações dos extratos para cada um dos inseticidas testados (Tabela 1), além de um tratamento pulverizado apenas com água destilada, que serviu como testemunha. A aplicação foi realizada na região protorácica de cada larva de T. molitor, com auxílio de uma micropipeta graduada. As larvas foram individualizadas em placas de Petri, sendo mantida e avaliada diariamente ao longo de 10 dias, para se quantificar a mortalidade cumulativa ao longo do tempo, de forma similar ao descrito acima. Os insetos testados foram mantidos em câmaras climatizadas, tipo B.O.D, à temperatura de 25 ± 1ºC, umidade relativa de 70 ± 5% e fotofase de 12 horas. O delineamento experimental, o número de tratamento e repetições foram similares ao descrito para o estudo de superfície contaminada.

97

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. EXPOSIÇÃO POR CONTATO DE IMATUROS DE T. MOLITOR EM SUPERFÍCIE CONTAMINADA (PAPEL FILTRO)

Imaturos de T. molitor não tiveram a sua mortalidade afetada, após 10 dias de exposição, por extratos de fumo, nim e manipueira, quando expostos a superfície contaminada (papel filtro) em laboratório, independentemente das concentrações testadas de cada extrato (Figuras 8, 9 e10). Desses inseticidas botânicos, apenas a manipueira, na concentração de 50%, provocou mortalidade de 50% de imaturos de T. molitor (Figura 10), quando aplicados em papel filtro, sendo esse percentual de mortalidade ainda considerado baixo.

100

Mortalidade cumulativa (%)

90

Testemunha Extrato aquoso (5% ) Extrato aquoso (10%) Extrato aquosos (100% ) Extrato alcoólico (5% ) Extrato alcoólico (10% ) Extrato alcoólico (100% )

80 70 60 50 40 30 20 10 0 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Dias após a aplicação

Figura 8 - Mortalidade cumulativa de imaturos de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae) expostos a extratos aquosos e alcoólicos de fumo em superfície contaminada. Os resultados obtidos nesta pesquisa para extratos de fumo aplicados em superfície contaminada diferem dos estudos realizados por Dequech et al. (2008), que obteve mortalidade de 100% em imaturos de Microtheca ochroloma Stal (Coleoptera: Chrysomelidae), em laboratório, quando expostos a extrato aquoso de pó-fumo a 10%. Sendo

98

necessário que novas pesquisas sejam realizadas com T. molitor e extratos de fumo a fim de verificar a sua eficácia e sua verdadeira concentração letal ao inseto. A eficiência de extrato de fumo contra os imaturos do pulgão Brevicoryne brassicae (L.) (Hemiptera: Aphididae) em folhas de couve Brassica oleraceae foi constatada por Lovatto; Gotze; Thomé (2004), que verificou ação repelente do produto em concentrações maiores que 5%. Resultados similares foram obtidos por Grabicoski (2006) utilizando o mesmo extrato e inseto-alvo. Rando (2009) comprovou a eficácia de extratos de fumo, a 10%, para o controle de afídeos adultos de Myzus persicae (Sulz.) (Hemiptera: Aphididae), após 72 horas da pulverização. O efeito inseticida de extratos de fumo foi constatado nas fases imatura e adulta da praga Sitophilus zeamais Motschulsky (Coleoptera: Curculionidae) (ALMEIDA, 2005), comprovando o potencial de uso desse composto para controle de pragas em grãos armazenados. A partir dos nossos resultados é possível sugerir que o fumo tenha uma maior ação de contato quando pulverizado diretamente sobre os insetos-alvo, particularmente insetos de pequenas dimensões e corpo menos esclerotizado.

100

Mortalidade cumulativa (%)

90

T e stem u n h a E xtr a to a q u o so (5 % ) E xtr a to a q u o so (1 0 % ) E xtr a to a q u o so (1 0 0 % ) E xtr a to a lc o ó lic o (5 % ) E xtr a to a lc o ó lic o (1 0 % ) E xtr a to a lc o ó lic o (1 0 0 % )

80 70 60 50 40 30 20 10 0 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

D ia s a p ó s a a p lica çã o

Figura 9 - Mortalidade cumulativa de imaturos de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae) expostos a extratos aquosos e alcoólicos de nim em superfície contaminada. A baixa eficácia do nim em provocar mortalidade em imaturos de T. molitor em laboratório, quando expostos a superfície contaminada, possivelmente poderá está relacionada à alta capacidade de volatilização dos compostos tóxicos dessa espécie vegetal inseticida, particularmente a azadiractina.

99

Há indícios de que extrato de manipueira, na concentração de 50%, provocou maior mortalidade de imaturos de T. molitor após 10 dias de exposição em superfície contaminada, diferindo dos demais tratamentos (Figura 10).

100 Testemunha 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 5%

Mortalidade cumulativa (%)

90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

D ias após a aplicação

Figura 10 - Mortalidade cumulativa de imaturos de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae) expostos a extrato de manipueira em superfície contaminada.

3.2. EXPOSIÇÃO POR APLICAÇÃO TÓPICA EM IMATUROS DE T. molitor

Extrato alcoólico de fumo na concentração de 100% foi altamente tóxico aos imaturos de T. molitor pulverizados topicamente. Todos os insetos expostos a esse extrato vegetal nessa concentração morreram em intervalo de 24 horas (Figura 11). Extrato aquoso e alcoólico de fumo, a 10%, provocaram mortalidade de 50% dos insetos 10 dias após exposição. Diferentes pesquisas já comprovaram a eficácia do emprego de fumo para combater insetos-praga. Dequech et al. (2009) constataram que extrato de fumo, a 10%, afetou a sobrevivência e oviposição de Plutella xylostella (L.) (Lepidoptera: Plutellidae) a partir do primeiro dia de exposição, em laboratório. Resultados similares foram obtidos por Medeiros et al. (2005), que evidenciaram efeito deterrente superior a 95% do extrato de fumo sobre P. xylostella em laboratório. A percentagem de repelência foi proporcional ao aumentou da concentração do extrato, fato também verificado neste trabalho contra imaturos de T.

100

molitor. Pesquisas recentes realizadas por Rando (2009) comprovaram o efeito inseticida de extratos de fumo, a 10%, empregados no controle de M. persicae seis horas após a aplicação, comprovando o efeito inseticida do fumo.

100

Mortalidade cumulativa (%)

90 Testemunha Extrato aquoso (5%) Extrato aquoso (10%) Extrato aquosos (100%) Extrato alcoólico (5%) Extrato alcoólico (10%) Extrato alcoólico (100%)

80 70 60 50 40 30 20 10 0 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Dias após a aplicação

Figura 11 - Mortalidade cumulativa de imaturos de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae) expostos topicamente a extratos aquosos e alcoólicos de fumo. Na literatura estão disponíveis diferentes publicações referentes ao emprego de extratos de fumo para combate a insetos. Porém, a maioria delas não contempla informações precisas e objetivas para o agricultor sobre o modo de preparo, concentrações, fase de desenvolvimento do inseto susceptível e formas corretas de aplicações. A nicotina (C10H14N2), alcalóide do tabaco, é um produto fortemente de contato, respiratório e tóxico por ingestão, sendo mais eficientes contra afídeos e cochonilhas (Hemiptera) (MAIRESSE, 2005). No entanto, nessa pesquisa imaturos de T. molitor (Coleoptera) foram bastante susceptíveis quando expostos topicamente, indicando o forte potencial de choque desse extrato por contato. Os compostos químicos presentes em extratos de fumo podem ser tóxicos para mamíferos, tornando a utilização de concentrações maiores e de forma freqüente um problema considerável na aplicação de extratos dessa planta para o controle alternativo de pragas (LOVATTO; GOTZE; THOMÉ, 2004). Como nossos resultados referem-se a testes em laboratório e utilizado um inseto-modelo, recomenda-se que trabalhos futuros ainda sejam conduzidos visando determinar as concentrações ideais para o controle de cada inseto-alvo no

101

campo e os seus reais impactos em organismos não-alvo, como polinizadores e inimigos naturais. A partir da geração de tais conhecimentos, estratégias adequadas para o uso de extratos de fumo no campo por agricultores familiares já poderão se pensadas e aprimoradas visando ao máximo efeito inseticida contra insetos-praga. Extratos aquosos de nim nas concentrações de 5, 10 e 100% pulverizados topicamente em imaturos de T. molitor provocaram, respectivamente, mortalidade de 40, 50 e 50% (Figura 12). Entretanto, os extratos alcoólicos de nim nas concentrações de 10 e 100% provocaram, respectivamente, mortalidade de 60 e 90% em imaturos de T. molitor após dez dias de exposição em laboratório. Nim alcoólico a 100% já provocou 80% de mortalidade de imaturos de T. molitor, 24 horas após a sua pulverização (Figura 12), demonstrando um forte potencial de choque contra imaturos dessa espécie. Nossos resultados comprovam que soluções alcoólicas de nim, a partir de 10%, foram eficazes em causar mortalidade dos insetos, principalmente após o 5º dia de exposição ao produto (Figura 12). A razão de ser registrar maior toxidade em soluções alcoólicas de nim está diretamente relacionada ao fato de que os liminóides presentes no nim são altamente solúveis em soluções alcoólicas e poucos solúveis em água (MOURÃO, 2004). Até o momento, pelo menos nove liminóides extraídos do nim demonstraram habilidade para inibir o crescimento e desenvolvimento dos insetos. Novos liminóides estão sendo descobertos, porém, azadiractina, salanina, meliantriol e nimbina são os mais conhecidos (MARTINEZ, 2002). A azadiractina e seus derivados presentes no nim geralmente provocam efeitos repelentes e antialimentar (MARTINEZ, 2002), que refletirão em possível mortalidade dos insetos a eles expostos. Porém, no nosso estudo tais efeitos não foram quantificados ao longo dos dez dias de avaliação. Outra ação do nim é sobre órgãos ou moléculas, particularmente, interferindo no sistema nervoso central (SNC) e no sistema endócrino dos insetos, inibindo a biossíntese do hormônio protoracicotrópico (PTTH), que regula o hormônio da ecdise e impossibilita a troca do tegumento (MENEZES-AGUIAR, 2005). Embora não tenha sido o objetivo desta pesquisa, constatou-se que após os 10 dias de exposição, imaturos de T. molitor expostos ao nim apresentaram dificuldades de passar da fase larval para a fase pupal, ficando as pupas deformadas, fato que pode sugerir um possível efeito endócrino do nim também em imaturos de T. molitor. Somente estudos posteriores poderão confirmar ou não esta hipótese.

102

T e st e m u n h a E x tr a t o a q u o so (5 % ) E x tr a t o a q u o so (1 0 % ) E x tr a t o a q u o so (1 0 0 % ) E x tr a t o a lc o ó lic o ( 5 % ) E x tr a t o a lc o ó lic o ( 1 0 % ) E x tr a t o a lc o ó lic o ( 1 0 0 % )

100

Mortalidade cumulativa (%)

90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

D ia s a p ó s a a p lic a ç ã o

Figura 12 - Mortalidade cumulativa de imaturos de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae) expostos a extratos aquosos e alcoólicos de nim aplicados topicamente. Diferentes pesquisas já comprovaram a eficiência de extratos de nim sobre insetos. Prates; Viana; Waquil (2003) obteve 100% de mortalidade da lagarta do cartucho do milho Spodoptera frugiperda (J. E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae) quando exposta a dose de 10.000 mg.mL-1 deste extrato. Similarmente, Viana (2006) observou redução na alimentação e no desenvolvimento e elevação da mortalidade de S. frugiperda quando exposta ao nim. Riba et al. (2003) citado por Costa et al. (2004) observaram que doses de azadirachtina aplicadas em ninfas de 5º ínstar de Nezara viridula (L.) (Hemiptera: Pentatomidae) não afetaram a duração do estádio, porém, causou mortalidade, interferiu no processo de metamorfose da fase imatura para adulta e comprometeu a fecundidade de fêmeas. Mognato (2000) demonstrou a capacidade de extratos de folhas de nim prolongar a duração dos estágios larval e pupal de Crysomya megacephala (Fabricius) e Lucila cuprina (Wiedemann) (Diptera: Calliphoridae). Nossos resultados registraram mortalidade superior a 50% em imaturos de T. molitor tratados topicamente com extratos aquosos de manipueira (Figura 13) em concentrações superiores a 40%. Decorridos 120 horas da pulverização foi observada

103

diferença significativa na mortalidade dos insetos expostos aos extratos, nas concentrações a 100, 70, 60 e 40%, quando comparado à testemunha (Figura 13).

Testem un ha 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 5%

100

Mortalidade cumulativa (%)

90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

D ias após a aplicação

Figura 13 - Mortalidade cumulativa de imaturos de Tenebrio molitor L. (Coleoptera: Tenebrionidae) expostos a extrato de manipueira aplicado topicamente. O potencial biocida da manipueira está associado aos seus constituintes, principalmente, limarina que é um glicosídeo tóxico cianogênico, do qual se origina o ácido cianídrico (HCN) (PONTE, 1999 citado por GONZAGA et al., 2007). Essa reação, também conhecida como cianogênese, forma glicose que através de ações enzimáticas transforma-se em ácido cianídrico (HCN) e cianeto livre (CN), sendo estes os constituintes tóxicos da manipueira (NASU, 2008). Resultados obtidos neste trabalho foram semelhantes àquele de Gonzaga (2009), que obteve êxito ao utilizar extratos de manipueira para controle de T. citricida. Estudos realizados em casa de vegetação por Gonzaga et al. (2007) confirmaram o potencial biocida da manipueira sobre os pulgões A. spiraecola e T. citricida. Tal produto botânico além de matar os insetos provocou ação repelente nos mesmos. Mais recentemente, essa autora comprovou a ação biocida da manipueira em diferentes espécies de insetos coletados em Sistemas Agroflorestais (SAF’s). Em campo, Gonzaga (2009) avaliou e comprovou o efeito inseticida da manipueira sobre diferentes pragas do abacaxizeiro. Derivados da mandioca, portanto, poderão ser vistos como fontes promissoras para o controle de insetos-praga em diferentes cultivos agrícolas, particularmente aqueles

104

conduzidos por pequenos agricultores familiares da Amazônia brasileira, cuja cultura é fortemente presente nos seus distintos sistemas de cultivos. No entanto, pesquisas ainda serão necessárias para se identificar as concentrações ideais para cada inseto-alvo, bem como o seu impacto em organismos benéficos. Metabólitos secundários de plantas atuam, eficazmente, sobre os insetos de diversas formas, podendo penetrar no organismo por ingestão, através do aparelho digestivo, por contato, atravessando o tegumento e pelas vias respiratórias (MAIRESSE, 2005). Nossos resultados revelam que imaturos de T. molitor são mais sensíveis a extratos de fumo, nim e manipueira quando expostos topicamente a esses produtos.

105

4. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

i.

Extratos aquosos e alcoólicos de fumo, nim e manipueira, aplicados em papel

filtro (superfície contaminada) não provocam mortalidade em imaturos de T. molitor após dez dias de exposição em laboratório; ii.

Extratos aquosos e alcoólicos de fumo a 10%, nim alcoólico a 10% e

manipueira acima de 40%, aplicados topicamente, provocam mortalidade superior a 50% em imaturos de T. molitor após dez dias de exposição em laboratório; e iii.

A utilização de extratos vegetais por agricultores familiares do Nordeste

Paraense mostrou-se como uma alternativa viável para o controle de insetos-praga e doenças. Contudo, enfatizamos que tais métodos seja uma técnica associado a outras praticas, tais quais rotação de culturas e utilização de variedades resistentes ao ataque de insetos-pragas e doenças.

106

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110

CAPITULO III TESTES E SELEÇÃO DE BACTERICIDAS BOTÂNICOS PARA O CONTROLE DE DOENÇAS NA AGRICULTURA FAMILIAR

111

RESUMO

Extratos vegetais podem ser utilizados para controlar doenças de plantas e contribuir para a redução da dependência de agrotóxicos. Desta forma, métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças buscam obter vantagens das interações de ocorrência natural por serem biologicamente favoráveis. A bactéria Xanthomonas axonopodis pv passiflorae é responsável por danos consideráveis e redução na produtividade do maracujazeiro por causar a mancha bacteriana nessa cultura. Nesse sentido, três extratos vegetais (nim, Azadiractha indica Juss; tabaco, Nicotiana tabacum; e manipueira, sub-produto de Manihot esculenta Crantz) foram testados contra a mancha bacteriana do maracujazeiro X. axonopis pv. passiflorae no laboratório de Fitopatologia da Embrapa Amazônia Oriental e em casa de vegetação (semi-campo). In vitro, extratos de nim alcoólico, fumo aquoso e manipueira (1 e 10%) apresentaram efeito tóxico sobre o crescimento bacteriano de X. axonopis pv. passiflorae. In vivo, somente o extrato de nim aquoso (10%) promoveu o controle de X. axonopodis pv. passiflorae em plantas de maracujazeiro. Trabalhos posteriores deverão ser conduzidos visando determinar concentrações, poder residual e o tempo de carência do nim sobre os vegetais, visando indicar sua utilização em programas de controle alternativo de doenças de plantas para a agricultura familiar.

Palavras-chave: Controle alternativo, extratos vegetais, mancha bacteriana, Xanthomonas axonopodis pv passiflorae.

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ABSTRACT

The botanical extracts can be used to control diseases on plants and to contribute for reducting the dependence of chemical pesticides. This way, alternative methods of controlling pests and diseases look for to obtain advantages from natural interactions because they are biologically favorable. The bacterium Xanthomonas axonopodis pv passiflorae is responsible for considerable damages and reduction in the productivity of the passion fruit plant for causing the bacterial spots in this crop. Thus, three botanical extracts (neem, Azadiractha indica Juss; tobacco, Nicotiana tabacum and; “manipueira”, a sub-product of Manihot esculenta Crantz) were tested against the bacterial spots of the passion fruit plant X. axonopis pv. passiflorae at laboratory of plant diseases Embrapa Amazônia Oriental, and in greenhouse (semi-field) conditions. “In vitro” conditions, alcoholic extracts of nim, aqueous extracts of tobacco, and “manipueira” (1 and 10%) showed poisonous effect on the bacterial growth of X. axonopis pv. passiflorae. “In vivo” conditions, only the aqueous extract of nim (10%) promoted the control of X. axonopodis pv. passiflorae in passion fruit plants tested. Future researches should be conducted aiming to determine concentrations, the residual effects, and the toxicity time of nim extracts, seeking to indicate its use in programs of control alternative of plants diseases for the family farm.

Keywords: Alternative control, bacterial spot, botanical extracts, Xanthomonas axonopodis pv passiflorae.

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1. INTRODUÇÃO

A utilização de agrotóxicos ainda aparece como uma alternativa atraente (TALAMINI; STADINIK, 2004) para o controle de fitopatógenos, pois apresenta resultados em curto espaço de tempo, simplicidade no uso e requerem pouco conhecimento dos processos ecológicos básicos dos agroecossistemas. Entretanto, é importante ressaltar que a utilização de agroquímicos sintéticos além de ter um custo elevado para os agricultores, traz consigo diversos problemas de ordem ambiental, como toxidade aos seres humanos e aos animais, resistência e também a ressurgência de insetos-pragas e doenças, além de contaminação dos lençóis freáticos, dentre outros fatores decorrentes de uso intensivo (LEMOS; RIBEIRO, 2008). Pelos motivos acima citados Campanhola; Betiol (2003) destacaram que extratos vegetais vêm se destacando no controle de doenças, contribuindo para diminuir a dependência na utilização dos agrotóxicos. Dessa forma, modelos de agriculturas alternativas surgem com o intuito de minimizar os efeitos negativos do uso de defensivos e impactos no meio ambiente, além de propiciar o desenvolvimento de um modelo de agricultura que busque satisfazer todas as multidimensões da sustentabilidade. Dessa forma, elas adotam diferentes métodos de manejo ambiental, destacando entre eles o controle biológico, a indução de resistência em plantas e a utilização de extratos vegetais (TEIXEIRA et al., 2005). A indução de resistência a doenças é a ativação de mecanismos de defesa latentes, existentes na plantas, em resposta a diferentes tratamentos, sejam eles bióticos ou abióticos (ROMEIRO; RODRIGUES, 2007). A utilização de extratos vegetais constitui-se em uma forma potencial de controle alternativo de pragas e doenças em plantas. Apesar dos avanços nos últimos anos, a utilização de medidas alternativas de controle de pragas e doenças requer, ainda, muito estudo, que vão desde a aplicabilidade até o conhecimento do seu correto modo de ação e utilização para o controle de pragas e doenças de plantas, tornando-se viáveis para os agricultores e diminuindo a dependência dos mesmos (SCHWAN-ESTRADA; SUZUKI; ITAKO, 2008). De acordo com Castiglioni (2004), os métodos alternativos de controle de insetospraga e doenças vêm adquirindo importância cada vez maior, sendo sustentado por uma nova

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filosofia de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e doenças (MID) com o intuito de fazer parte de uma agricultura sustentável. A preocupação da sociedade com o impacto da agricultura no ambiente e a contaminação da cadeia alimentar com a utilização de agrotóxico vem alterando o cenário agrícola, resultando na presença de segmentos de mercados ávidos por produtos diferenciados. As principais vantagens na utilização de biocidas botânicos são sua rápida degradação pela luz solar, pois sofrem maior influência da alta luminosidade, umidade e pluviosidade, que os degradam rapidamente devido a sua natureza orgânica. Sofrem, também, influencia do ar, umidade, chuva e enzimas desintoxicantes, baixa persistência, menor risco de desenvolvimento de resistência, e baixo ou nenhum poder residual. Ação rápida, contudo mais lenta que a dos inseticidas sintéticos, baixa a moderada toxidade quando aplicados nas dosagens recomendadas ainda são outras características desejáveis desses produtos (MENEZES, 2005). Entraves ainda envolvem e limitam a utilização de métodos alternativos de controle de insetos-praga e doenças em diferentes sistemas, particularmente associados a limitações técnico-científicas; institucionais; econômicas; sociais; legais e educacionais. Doenças causadas por bactérias são responsáveis por grandes perdas na agricultura em virtude da dificuldade de controle em função de bactérias apresentarem altas taxas de multiplicação no campo (LOPES, 2001 citado por ISHIDA, 2009). Desse modo, seu controle fica quase que restrito às medidas preventivas. A mancha-bacteriana provocada por Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae (Pereira) Dye corresponde a uma das principais doenças do maracujazeiro no Estado do Pará (ISHIDA; HALFELD- VIEIRA, 2009) por provocar danos consideráveis e redução na produtividade do maracujazeiro. Essa doença foi inicialmente descrita no Brasil em 1967 e, atualmente, está presente nos principais estados produtores do Brasil, sendo que em alguns locais é responsável por grandes prejuízos para a cultura (MARIAN; RIBEIRO, 1997). A diagnose da doença é realizada por inspeção visual das plantas afetadas, testes de exudação, isolamento e cultivo em meio de cultura, seguido de testes de patogenicidade (HALFELDVIEIRA, 2006a). Os principais sintomas de ataque por X. axonopodis pv passiflorae em plantas de maracujazeiro poderão ser detectados em folhas e frutos. Nas folhas mais internas são observadas, inicialmente, pequenas lesões, encharcadas, oleosas, translúcidas, freqüentemente

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localizadas próximas às nervuras, com halos visíveis, às vezes acompanhadas de enegrecimento vascular a partir dos bordos. Em seguida, tornam-se marrons, deprimidas, sobretudo na face dorsal da folha, de formato variado, raramente circulares, com tamanho médio de 3 a 4 mm, podendo coalescer em grandes áreas necrosadas e causando seca total da folha (ISHIDA, 2009). Em condições de alta umidade, ocorre ainda o avanço da infecção através dos feixes vasculares dos pecíolos e ramos, que podem apresentar caneluras longitudinais. Segue-se a desfolha, seca a partir das extremidades e grande redução da frutificação (MARIAN; RIBEIRO, 1997). Nos frutos, as lesões são pardas ou esverdeadas, oleosas, circulares ou irregulares, com margens bem definidas, podendo coalescer. Geralmente são superficiais, podendo, no entanto, penetrar até as sementes, inutilizando o fruto para consumo. Os sinais são visualizados como exsudados, os quais, quando secos, formam uma crosta e podem se estender sobre várias lesões. Exsudação típica de pus bacteriano pode ser vista quando feixes vasculares infectados são comprimidos (MARIAN; RIBEIRO, 1997). Esta pesquisa objetivou testar três extratos vegetais (nim, Azadiractha indica Juss; tabaco, Nicotiana tabacum; e manipueira, sub-produto de Manihot esculenta Crantz) contra a mancha bacteriana do maracujazeiro X. axonopis pv. passiflorae em laboratório e casa de vegetação.

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2. MATERIAL E MÉTODOS

Após o processo de sistematização das experiências (CAPÍTULO I) foram identificados os principais produtos de origem vegetal utilizados pelos agricultores de Igarapé-Açu, PA, para o controle de insetos-praga e doenças de plantas, levando em consideração seus saberes e sua apropriação do conhecimento sob a metodologia de aplicabilidade dos produtos. Neste capítulo foram testados os mesmos produtos botânicos testados para o controle de insetos-praga (CAPÍTULO II), visando quantificar a eficácia dos mesmos no combate a doença. A obtenção e preparação dos extratos vegetais foram similares aos descritos anteriormente no CAPÍTULO II desta dissertação.

2.1. BIOENSAIOS

Os bioensaios foram realizados nos Laboratórios de Fitopatologia e de Análise de Solos da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, PA. Utilizou-se na pesquisa o isolado de Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae proveniente do município de Igarapé-Açu, que se encontrava preservado em folhas herborizadas e água mineral esterilizada. Para o uso experimental, o isolado foi transferido para o meio de Kado; Heskett (1970) (Figura 1A)pelo método de estrias paralelas, por 48h, a 28ºC (Figura 1B).

A

B

Figura 1 - Detalhes do meio de cultura vertidos em placas de Petri (A) com a bactéria Xanthomonas axonopodis pv. Passiflorae (B).

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2.1.1. Efeito “in vitro” de extratos vegetais sobre X. axonopodis pv. Passiflorae

O efeito direto dos diferentes extratos vegetais sobre X. axonopodis pv. passiflorae foi avaliado “in vitro”, utilizando-se como tratamento padrão Reforce + AC (0,5%), que foi adicionada ao meio 523 (Kado; Heskett, 1970) (Quadro 1), na concentração de 100 ppm.

Quadro 1 - Meio de cultura MB1 (Kado e Heskett,1970) utilizado nos bioensaios. Ingredientes

Quantidades

K2HPO4

2,0 g/L

MgSO47H2O

0,3 g/L

Sacarose

10,0 g/L

Extrato de levedura

4,0 g/L

Caseína hidrolisada

8,0 g/L

Ágar

20 g/L

H2O Destilada

1000 mL

Os constituintes do meio de cultura foram pesados em balança de precisão e mantidos sob agitação para homogeneização e, em seguida, autoclavados por 20 minutos, a 121°C e 1 atm, com o objetivo de esterelizar o meio tornando-o isento de microrganismos capazes de interferir no isolamento da bactéria estudada. Para cada extrato vegetal testado foram adicionados 1 mL (1%) e 10 mL (10%) dos extratos bruto em 99 mL e 90 mL, respectivamente. Os extratos testados foram esterilizados por filtragem, em membranas de milipore, para retirada do excesso de impurezas, sendo posteriormente acrescidos ao meio de cultura MB1, chegando-se às concentrações finais. Os meios de culturas foram depositados em placas de Petri e, após sua solidificação foram depositadas alíquotas de 3 µL da suspensão bacteriana em 2 pontos equidistantes.

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Os meios de cultura foram incubados por 48h, a 28ºC, sendo após esse período verificada a ocorrência de crescimento bacteriano. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com 5 repetições.

2.1.2. Efeito “in vivo” de extratos vegetais sobre Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae

Sementes de maracujá da cultivar “Golden Star” foram semeadas em vasos com capacidade para 3L, contendo a mistura de solo, areia e esterco (2:1:1). Quando as plantas apresentaram 3 a 4 pares de folhas (Figura 2), a aplicação dos tratamentos foi realizada via foliar, pulverizando-se as folhas com pulverizador manual, até o ponto de escorrimento (Figura 3).

Figura 2 - Plantas apresentando 3 a 4 pares de folhas em casa de vegetação.

Figura 3 - Detalhes da pulverização das folhas de maracujazeiro com os biocidas. Foram testados os mesmos extratos vegetais dos testes “in vitro” e um indutor de resistência (Reforce + AC - 5 mL p.c./1000 L de água), tendo água como testemunha. A inoculação da bactéria foi realizada dois dias após a aplicação dos tratamentos, pulverizando-

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se a face inferior das folhas com suspensão bacteriana na concentração de 109 UFC/mL(A600= 3,0) (Figura 3). As plantas foram mantidas em câmara úmida durante 24 h após a inoculação. Para a inoculação, a bactéria foi isolada e transferida para o meio de Kado; Heskett (1970) pelo método de estrias paralelas, por 48h, a 28ºC. Após o crescimento bacteriano, com o auxílio da alça de Drigalski (Espalhador) foi realizada a diluição da mesma em água de torneira (Figura 4), para se chegar à concentração desejada.

Figura 4 - Diluição das diferentes concentrações bacterianas utilizadas nos bionesaios. Para o cálculo da absorvância da solução foram ajustadas as soluções bacterianas para leituras a 600 nm de 0,3 utilizando-se um bioespectrofotômetro digital (Figura 5). Para o cálculo das concentrações das suspensões utilizou-se a seguinte fórmula: C1.V1 = C2.V2.

Figura 5 - Bioespectrofotômetro utilizado no cálculo da absorvância das soluções bactericidas. Para cada extrato testado, a avaliação da severidade da doença foi realizada a intervalos de 48 horas após a inoculação do patógeno, através da escala de Sidhv; Webster (1977) (Figura 6), totalizando seis avaliações. Com os valores obtidos, calculou-se a AACPD (Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença) (SHANER e FINNEY, 1977), análise de variância e o teste de comparação de médias. O delineamento experimental foi conduzido em blocos casualizado, com 7 tratamentos e 3 repetições (4 plantas/parcela).

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Figura 6 - Avaliação da severidade da doença.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. EFEITO IN VITRO DE EXTRATOS VEGETAIS SOBRE X. axonopodis pv. passiflorae

Extratos aquosos de folhas de nim nas concentrações de 1 e 10%; fumo a 1% e álcool a 1% não interferiram no desenvolvimento da bactéria (Figura 7B, 7D, 7F e 7J, respectivamente) quando comparado à testemunha (Figura 7A). Extratos alcoólicos de nim a 1% (Figura 7C); aquoso a 10% (Figura 7D) e o tratamento com o indutor de resistência abiótico Reforce + Ac. a 0,5% (Figura 7L) apresentaram pequena inibição sobre o desenvolvimento bacteriano. Entretanto, extratos alcoólicos de nim a 10% (Figura 7E); de fumo a 10% (Figura 7G); álcool a 10% (Figura 7K) e manipueira nas concentrações de 1% (Figura 7H) e 10% (Figura 7I), demonstraram efeito tóxico sobre o crescimento da bactéria fitopatogênica em meio de cultura, apresentando eficiência no controle in vitro sobre o número de colônias formadas de X. axonopodis pv. passiflorae (Quadro 2). Na literatura científica há vários relatos comprovando o efeito antibacteriano de diferentes extratos vegetais sobre X. axonopodis pv. passiflorae. Recentemente Barata et al. (2009) comprovou o efeito bactericida de extratos de pimenta de cheiro (Capsicum chinense) sobre o crescimento do patógeno in vitro. Similarmente, Ishida et al. (2008) constatou que extratos etanólicos de Copaifera duckei e C. reticulada reduziram o crescimento bacteriano de X. axonopodis pv. passiflorae. Entretanto, ainda são poucas as pesquisas que relacionam o controle do crescimento bacteriano de X. axonopodis pv passiflorae com o uso de tucupi, nim, fumo ou com indutores de resistência abióticos, como o Reforce + AC. Nossos resultados demonstraram que extratos de tucupi, nas concentrações de 1% e 10%, de nim alcoólico a 10%, de Fumo a 10%, álcool a 10% e o Reforce (AC) foram

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eficazes para controlar o crescimento bacteriano in vitro (Quadro 2), demonstrando serem os mesmo promissores para utilização futura em ações de controle dessa bactéria. Entretanto, estudos e avaliações complementares tornam-se necessárias para definir quais as concentrações dos extratos vegetais exercem efeito na inibição total do patógeno e qual a eficiência dos mesmos em campo.

Figura 7 - Avaliações in vitro da atividade antibacteriana de extratos vegetais de nim (A. indica), fumo (N. tabacum), tucupi (M. esculenta Crantz) e álcool puro nas concentrações 1% e 10%, mais indutor de resistência (Reforce +Ac.) na concentração 0,5% sobre X. axonopodis pv. passiflorae. Onde, (A) testemunha; (B) nim aquoso a 1%; (C) nim alcoólico a 1%; (D) nim aquosos a 10%; (E) nim alcoólico a 10%; (F) fumo aquoso a 1%; (G) fumo aquoso a 10%; (H) manipueira a 1%; (I) manipueira a 10%; (J) álcool a 1%, (K) álcool a 10% e (L) indutor de resistência (Reforce+AC) a 0,5%.

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Quadro 2 - Efeitos de extratos aquosos e alcoólicos de folhas de nim (Azadirachta indica), tabaco (Nicotiana tabacum); manipueira (Manihot esculenta Crantz); indutor de resistência (Reforce + AC) e álcool sobre o crescimento de Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae “in vitro”. Extratos Vegetais Testemunha (água destilada) Nim aquoso a 1% Nim alcoólico a 1% Nim aquoso a 10% Nim alcoólico a 10% Fumo a 1% Fumo a 10% Tucupi a 1% Tucupi a 10% Álcool a 1% Álcool a 10% Reforce + AC. 0,5%

Crescimento de Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae ** ** * * ** ** *

Onde, - = nenhum crescimento; * = pouco crescimento; ** = muito crescimento da bactéria no meio de cultura.

A diferença no comportamento de crescimento do patógeno avaliado pode estar inteiramente relacionada aos compostos presentes nos extratos vegetais, não identificados neste trabalho, mas com ações antibactericidas, uma vez que extratos brutos possuem composição complexa.

3.2. EFEITO IN VIVO EM CASA DE VEGETAÇÃO DE EXTRATOS VEGETAIS SOBRE X. axonopodis pv. passiflorae

Apenas o extrato aquoso de nim, na concentração de 10%, proporcionou redução significativa da severidade da doença X. axonopodis pv. passiflorae, com 75,66% de controle em relação à testemunha (Tabela 1).

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Tabela 1 - Efeito “in vivo” de diferentes extratos vegetais sobre Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae. Tratamentos

Concentrações (%)

AACPD*

Controle (%)

Testemunha Extrato de Nim Aquoso (10%) Extrato de Nim Alcoólico (10%) Extrato de Fumo Aquoso (10%) Tucupi (10%) Álcool Reforce +Ac.(10%)

10 10 10 10 10 0,5

139.4700 a 33.9667 b 123.0067 ab 115.3567 ab 185.8633 a 131.4300 a 114.3167 ab

75,66 11,81 17,3 5,77 18,04

* AACPD – Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença; **Média seguida por letras distintas diferem entre si ao nível de significância de 5% pelo teste de Tukey. Valor do coeficiente de variação: 26,42%.

Nas condições de casa de vegetação (in vivo) constatou-se a superioridade do extrato de nim aquoso a 10% para o controle da bacteriose, diferindo-se estatisticamente da testemunha e dos demais tratamentos (Tabela 1). Quando expostas a extrato de nim aquoso a 10% plantas de maracujazeiro, em casa de vegetação, apresentaram menor ocorrência da doença, portanto, menores danos em virtude da mesma. Tal resultado sugere que houve ação do extrato vegetal na redução do patógeno. Quando tratadas com extratos de nim alcoólico a 10%, fumo aquoso a 10% e com Reforce +Ac.(10%), plantas de maracujazeiro apresentaram pequena redução dos sintomas da bacteriose, contudo, não significativo a ponto de se obter o controle da doença. Não foi verificada diferença entre extrato de tucupi a 10% e a testemunha, mostrando maior severidade no nível de infecção do patógeno causado por X. axonopodis pv. Passiflorae nessas condições. Na literatura não há relatos sobre a ação antimicrobiana de extratos aquosos de nim sobre X. axonopodis pv. passiflorae em casa de vegetação. Entretanto, ensaios semelhantes foram conduzidos por Abbasi et al. (2003) que observaram que o óleo de nim foi eficiente no controle de X. campestris pv. vesicatoria em casa de vegetação, porém, apresentou fitotoxicidade ao tomateiro nessas condições. Existem relatos sobre alterações na atividade de enzimas e acúmulo de compostos fenólicos em plantas tratadas com óleo de nim (CARNEIRO et al., 2007), sugerindo que o produto atuaria, indiretamente, por meio da indução de resistência da planta. Nossos resultados não nos permitem conclusões a este respeito, mas estudos futuros neste sentido devem levar em consideração o fato de que os compostos ativos do nim podem ser sistêmicos em plantas. Cerca de vinte e quatro compostos com atividades biológicas podem ser extraídos

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das diferentes partes da árvore do nim, incluindo triterpenóides, compostos fenólicos, carotenóides, esteróides e cetonas. Porém, apenas quatro desses compostos apresentam alta eficiência, são eles: azadiractina, salanina, melantriol e nimbina (SOUZA, 2009). A indução de resistência em plantas a patógenos é conhecida desde o século XX, sendo que atualmente fitopatologistas já perceberam a possibilidade deste controle em enfermidades de plantas passando a serem um instrumento inteligente de controle. São, portanto, utilizados como estratégia para minimizar as agressões ao meio ambiente e os danos causados à saúde decorrente do uso indiscriminado de agroquímicos (ROMEIRO; RODRIGUES, 2007). Os mecanismos de defesa envolvidos na indução de resistência mais conhecidos são o acúmulo de proteínas relacionados com a patogênese apresentam alta atividade antimicrobiana in vitro e podem também promover a liberação de eliciadores e o induzirem a síntese de compostos fenólicos (TEIXEIRA et al., 2005). Lopes (2001) revelou que o emprego de produtos ativadores de mecanismos de defesa das plantas (“resistência adquirida”) é uma abordagem que vem sendo recentemente avaliada para o controle de fitopatógenos. Esse tipo de resistência seria sistêmica, duradoura e de amplo espectro. Portanto, com base nos resultados obtidos nesta pesquisa é possível concluir que extrato aquoso de nim, na concentração de 10%, é capaz de controlar o crescimento de X. axonopodis passiflorae em casa de vegetação, podendo esse extrato induzir a resistência em plantas de maracujazeiro amarelo contra a mancha bacteriana. No entanto, estudos futuros que desvendem os impactos desse extrato em condições de campo ainda são necessários para que se comprove a real eficiência dos mesmos em controlar a murcha bacteriana X. axonopodis passiflorae.

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4. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

• O crescimento bacteriano de X. axonopodis passiflorae, in vitro, é reduzido quando tratada com extratos de nim alcoólico, de fumo aquoso a 10% e de manipueira, a 1 e 10%; • Em casa de vegetação, o extrato de nim aquoso, a 10%, reduz a severidade da mancha bacteriana do maracujazeiro amarelo. • Cada vez mais tem sido comprovado o potencial dos métodos alternativos de controle de doenças, oferecendo alternativas para diminuir a dependência do químico e contribuir para uma agricultura mais saudável, melhorando a qualidade ambiental e a qualidade de vida da sociedade, visto que estes produtos são menos tóxicos aos seres humanos e ao meio ambiente.

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