Atividades de coleta e origem floral do polen armazenado ... - SciELO

0 downloads 0 Views 4MB Size Report
Brazil. Four colonies of Plebeia saiqui (Holmberg, 1903), of Sao Francisco de Paula, .... A temperatura media anual e de 14,5°C, sendo as ..... Ape- sar disso, esta fonte floral correspondeu a apenas 13% das coletas de p61en em setembro na ...
Atividades de coleta e origem floral do polen armazenado em colonias de Plebeia saiqui (Holmberg) (Hymenoptera, Apidae, Meliponinae) no sui do Brasil Raquel A. Pick 1, 2 Betina Blochtein

1

ABSTRACT. Collection activities and floral origin of the stored pollen in colonies of Plebeia saiqui (Holmberg) (Hymenoptera, Apidae, Meliponinae) in south Brazil. Four colonies of Plebeia saiqui (Holmberg, 1903), of Sao Francisco de Paula, were studied during the period from October/1998 to October/1999. The counting of the bees was proceeded monthly, differentiated workers that came back with and without pollen in the corbicula. Grains of pollen of pots previously marked were collected monthly and identified. The percentage of the pollen types of the samples was estimated: 20% of Asteraceae, 17% Myrtaceae, 15% type Meliaceae and 10% Euphorbiaceae. The remaining corresponds to other pollen types of small representation, besides those the were no identified. The climatic influence on the pollen collection was analyzed being used simple and multiple regressions. It was verified that in the spring and in the summer the temperature, the solar irradiation and relative humidity were significant for the pollen foraging. During autumn and winter the relative humidity had smaller influence in the pollen collection. KEY WORDS. Plebeia, stingless bees, pollen analys is, foraging , climatic influence

Os meliponfneos sao visitantes florais por excelencia, de vi do ao h a bito alimentar e a diversifica~ao morfofuncional associada a urn grande numero de especies vegetais (RAMALHO et al. 1991). Sao responsaveis por 40 a 90% da poliniza~ao das arvores nativas (KERR 1996). Os meliponfneos desempenham atividades de voo visando obter materiais para constru~ao do ninho, eliminar dejetos e principal mente para coletar alimento para a colonia. A dieta e composta de protefnas, p6len e ocasionalmente esporos de fungos, e de carboidratos obtidos do nectar (ABSY & KERR 1977; FREE & WILLIAMS

1977). Pesquisas sobre atividades de voo de representantes de Meliponinae relacionadas aos pariimetros meteorol6gicos, foram desenvolvidas com Tetragonisca angustula (Latreille, 1811) (lWAMA 1977), Plebeia emerina (Friese, 1900) (KLEINERT-GIOVANNINI 1982) e Plebeia remota (Holmberg, 1903) (IMPERATRIZ-FoNSECA et al. 1985). Em Sao Paulo foram desenvolvidos estudos sobre dieta floral de Meliponinae em T. angustula (IWAMA & MEL HEM 1979; IMPERATRIZ-FoNSECA etal. 1984; P. remota (RAMALHO et al. 1985), P. saiqui (Holmberg, 1903) (KLEINERT-GIovANNINI et al. 1987; PI RANI & CORTOPASSI-LAURINO 1994), Scaptrotrigona bipunctata (Lepeletier, 1836), Scaptrotrigona depilis (Moure, 1942), Scaptrotrigona postica 1) Faculdade de Biociencias, Pontificia Universidade Cat6lica do Rio Grande do SuI. Avenida Ipiranga 6681, 90619-900 Porto Alegre, Rio Grande do Sui, Brasil. 2) Boisista da CAPES .

Revta bras. Zoo I. 19 (1): 289 - 300,2002

Pick & Blochtein

290

(Latreille, 1807) (RAMALHO 1990). No Rio Grande do Sui ainda nao foram desenvolvidos estudos a respeito de coleta de alimentos e do p61en armazenado em ninhos de Meliponinae. Plebeia saiqui e conhecida popularmente como abelha mirim, devido ao seu pequeno tamanho (4mm). Nidifica em troncos ocos e apresenta co16nias com ate 7.000 indivfduos. Sao encontradas no Parana, Santa Catarina e Rio Grande do Sui (KLEINERT-GIOVANNINI et at. 1987; WITTMANN & HOFFMAN 1990; PI RANI & CORTOPASSI-LAURINO 1994). Plebeia saiqui e freqiientemente encontrada em Sao Francisco de Paula, Rio Grande do Sui, onde foi registrada por WILMS et at. (1997). o conhecimento das fontes de p61en utilizadas por esse meliponfneo permitira avaliar 0 comportamento das forrageiras, compreender melhor a utiliza

. ~ 70% :: 60% 8.50% 0 40% 8. 30% .- 20% I- 1)% 0%

.--

;--

,-

Il1i:'

,'"

'i;~ 1.

';~. vSf/o

.,%,

j:~
;\, I I1> :-·

.. .:.:.;,;

I

.J:

Nov

Dez

Jan

~

.

.:.~~

!'l

1998

Fev

Mar

3

II

j

~.

..

./

r+

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

1999

[] Tipo Baccharis 111 Tipo Meliaceae El Myrtaceae II Nao identificado

ID Tipo Alchornia

CTipo Moraceae

mTipo Urticales

a Tipo Rubiaceae

!ill Tipo Rutaceae II Malpighiaceae

Ell Eryngium sp.

IIlIex sp.

IIOutros

4

Asteraceae (Tipo Baccharis ) 20%

Outros 26%

Myrtaceae 17%

Euphorbiaceae (Tipo A/chomia ) 10%

Tipo Meliaceae 15%

5

Figs 3-5. (3-4) Variayao sazonal do p61en coletado ( ~ 10%) por P. saiqui: (3) Colonia E. (4) Colonia F; (5) representatividade das fontes polinicas encontradas nos potes de alimento de duas colonias de P. saiqui. ao longo do ano. Revta bras. Zool. 19 (1): 289 - 300, 2002

296

Pick & Blochtein

A analise floral do p6len armazenado nas colonias, revelou diferen~as marcantes quando comparadas com amostras coletadas em areas urbanas. Em Sao Paulo, estudos sobre os recursos polfnicos de P. saiqui, destacaram como fontes importantes de alimento, as seguintes famflias: Balsaminaceae, Euphorbiaceae, Moraceae, Myrtaceae e Arecaceae (KLEINERT -GIOY ANNINI et al. 1987; IMPERATRIZ-FoNSECA etal. 1989; PIRANI & CORTOPASSI-LAURINO 1994). Convem mencionar que em ambientes urbanos freqilentemente se cultiva especies ex6ticas usadas como plantas ornamentais, como e 0 caso de Archontophoenix cunninghamiana H . Wend!. (Palmae) e Impatiens sultani Hook. S. (Balsaminaceae). Ambas florescem 0 ana todo, disponibilizando p6len e nectar permanentemente (IMPERATRIZ-FoNSECA et al. 1989; PI RANI & CORTOPASSI-LAURINO 1994). Diferen~as na dieta de P. saiqui podem ser atribufdas as influencias da temperatura, umidade e pH do solo, que afetam 0 valor nutritivo do p6len. Consequentemente, 0 p6len de uma especie pode diferir quimicamente quando coletado em locais diferentes (TODD & BRETHERICK 1942). Alem disso, a quantidade de p6len e de nectar varia entre as especies, em uma mesma especie e ate mesmo entre flores de urn mesmo indivfduo (RANTA & LUNDBERG 1981). Estas variaveis podem ter sido determinantes para a escolha das fontes de p6len de P. saiqui, na regiao de estudo. A operarias coletaram principalmente graos de p6len de Myrtaceae e dos tipos Alchornea (Euphorbiaceae), Meliaceae e Baccharis (Asteraceae) (Fig. 5). o tipo Baccharis (Asteraceae) esteve presente em quase todas amostras e apresentou percentual relevante no espectro polfnico total para ambas colonias. Nessa areaencontram-se dezenove especies de Baccharis, que florescem quase todo ano, exceto nos meses de junho e julho. Alem disso, 0 perfodo de flora~ao pode variar de tres semanas a tres meses, dependendo da especie. Baccharis spp. disponibilizam recursos alimentares par longos perfodos, com floradas abundantes, sobrepostas e atrativas tanto para coleta de p6len como de nectar, e por isso, sao importantes para manuten~ao de col6nias de P. saiqui ao longo do ana (Birgit Hartes-Marques comunica~ao pessoal). Entretanto, apesar desta fonte floral apresentar ampla distribui~ao sazonal, nem sempre foi intensamente explorada pelas abelhas. De outubro a dezembro, florescem dez especies de Baccharis coincidindo com 0 perfodo de maior diversidade de recurs os florais (Birgit Hartes-Marques comunica~ao pessoal). Diante disso, verifica-se que P. saiqui, passa a explorar maior numero de especies vegetais, seja para procurar recursos mais atrativos ou para evitar a competi~ao com outros insetos, uma vez que as flores de Baccharis spp. sao freqilentemente visitadas por representantes de Coleoptera, Diptera e Vespoidea. Dentre as especies de Apidae, em especial as abelhas sem ferrao, sao consideradas importantes agentes polinizadores de Baccharis spp. RAMALHO et al. (1990) ressaltam que flores de Asteraceae sao consideradas as mais consistentes fontes de p6len e nectar do sui do Brasil, destacando-se como importantes recursos florais em vegeta~ao aberta, freqilentemente resultante da a~ao antr6pica, como ocorreu em parte da regiao de estudo. Outra planta pioneira abundante na Floresta com Araucaria, e a Mimosa scabrella (Leguminosae). Oferece nectar e p6len em abundancia nos meses de Revta bras. Zool. 19 (1): 289 - 300,2002

297

Atividades de coleta e origem floral do polen ...

setembro e outubro, sendo muito procurada por insetos, principal mente P. saqui e Apis melli/era Linnaeus, 1758 (Birgit Hartes-Marques comunicac;:ao pessoal). Apesar disso, esta fonte floral correspondeu a apenas 13% das coletas de p61en em setembro na colonia E (Fig. 3). Em contrapartida, durante 0 inverno a oferta de alimento torna-se escassa e consequentemente a atividade forrageadora reduzida. Alem disso, essa epoca coincide com 0 perfodo de diapausa de P. saiqui, ou seja, perfodo caracterizado por uma parada temponiria na atividade reprodutiva da colonia (NECHOLS et al. 1999). FEWELL & WINSTON (1992), estudando Apis mellifera, verificaram que 0 forrageamento de p61en e estimulado pela presenc;:a de cria na colonia, entretanto a ausencia de imaturos nao cessa a coleta de p6len. As colonias de P. saiqui aprovisionaram poucos potes de p6len durante 0 inverno. Apesar dos recursos alimentares serem escassos e as condic;:6es meteoro16gicas nem sempre favoniveis acoleta de alimento, p6lens do tipo Meliaceae foram representativos nas amostras de maio e junho (Figs 3 e 4). Segundo RAMALHO et al. (1985), fontes com representatividade polfnica de ate 10% podem ser consideradas recurs os de pouca atratividade, e devem corresponder a fontes potenciais ou secundarias. Estas, provavelmente complementariam as necessidades das colonias, bern como auxiliariam na manutenc;:ao do equillbrio nutricional da dieta (Tab. VI). Tabela VI. Fontes polfnicas identificadas em potes de alimento P. saiqui, durante 0 perfodo de novembro/1998 a outubro/1999, em Sao Francisco de Paula, Rio Grande do SuI. Polen com representatividade