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“A revolução dos bichos”. Assim sendo, busca-se através do referencial teórico, baseado nos autores Aristóteles, Adilson Citelli, Fiorin, Orlandi entre outros, ...
UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM LÍNGUA E LITERATURA COM ÊNFASE NOS GÊNEROS DO DISCURSO

DARLAN MELO

“A REVOLUÇÃO DOS BICHOS”: O USO DA LINGUAGEM COMO MEIO DE MANIPULAÇÃO

CRICIÚMA, SETEMBRO DE 2008

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM LÍNGUA E LITERATURA COM ÊNFASE NOS GÊNEROS DO DISCURSO

DARLAN MELO

“A REVOLUÇÃO DOS BICHOS”: O USO DA LINGUAGEM COMO MEIO DE MANIPULAÇÃO

Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC, para a obtenção do título de especialista em Língua e Literatura com ênfase nos gêneros do discurso Orientadora: Prof. Rosemary de Fátima de Assis Domingos Sehnem

CRICIÚMA, SETEMBRO DE 2008

DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, que muito me ajudaram na conclusão de mais uma etapa tão importante da minha vida, a minha orientadora Rosemary, que como uma amiga, ajudou-me, orientou-me, para que eu atingisse meu objetivo na conclusão desta pesquisa. E aos professores pela compreensão nas horas que nos ausentamos de suas aulas para que pudéssemos concluir este trabalho.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus que me deu força para concretizar este trabalho. Á minha família pela paciência. O apoio de meus amigos que me ajudaram muito nos momentos difíceis da pós-graduação. À minha orientadora pela orientação e ajuda que foram de suma importância para a conclusão de nossa pesquisa. A todos aqueles que de uma forma ou de outra contribuíram para o meu crescimento como acadêmico.

EPÍGRAFE

“Os vencedores da batalha da vida são homens perseverantes que, sem se julgarem gênios se convenceram

de que

só pelo esforço e

perseverança poderiam chegar ao fim almejado.” Emerson.

RESUMO

A presente pesquisa visa fazer uma análise da linguagem usada pelo autor George Orwel na obra “A revolução dos bichos”. Assim sendo, busca-se através do referencial teórico, baseado nos autores Aristóteles, Adilson Citelli, Fiorin, Orlandi entre outros, fazer uma análise dos discursos usados pelos personagens na fábula. O objetivo da pesquisa, com essa análise, é comprovar através da ideologia, análise do discurso e linguagem que durante toda a narrativa ocorre à dominação de um grupo que faz o uso do discurso totalmente persuasivo. Procura-se, também, mostrar, através dessa análise, a eficácia contida na linguagem persuasiva, como da ideologia presente no discurso dos animais dominantes. A linguagem é um suporte da ideologia, que faz com que o ser humano utilize idéias e expressões, falas que não são suas, levando-as a acreditar que são frutos de seu próprio eu. Assim, uma grande parte dos personagens do texto de Orwell são constantemente forçados a mudanças de comportamento, isso porque procuram por idéias que possam acreditar arduamente e que possam adotá-las como verdadeiras.

Palavras-chave: linguagem, ideologia, discurso, persuasão e análise.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................... 07 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................................................... 08 2.1. O AUTOR E A OBRA.................................................................................................. 08 2.2. RESUMO DA OBRA................................................................................................... 08 2.3. A LINGUAGEM........................................................................................................... 08 2.4. A PERSUASÃO: O DISCURSO DOMINANTE......................................................... 09 3. IDEOLOGIA........................................................................................................................ 13 4. FORMAÇÕES IDEOLÓGICAS E DISCURSIVAS........................................................... 14 5. METODOLOGIA................................................................................................................ 15 6. ANÁLISE ............................................................................................................................ 16 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 22 8. REFERÊNCIAS................................................................................................................... 23

1. INTRODUÇÃO

A linguagem, como se sabe, é uma faculdade puramente humana e não instintiva de comunicar idéias, emoções e desejos por meio de símbolos e voluntariamente produzidos. É uma das formas de interação social que pode definir, alterar, ordenar e construir todo um contexto social. Neste trabalho há uma reflexão sobre a construção do enredo da obra, acentuadamente marcada pelo poder que a linguagem tem em manipular e, desta forma, mostrar que é pela linguagem que se constrói ou não todo um universo. Há que se (re) lembrar que esse poder que a linguagem opera na vida que nos cerca passa – principalmente no caso de obras literárias – pela compreensão diferenciada do leitor. Segundo kleimann (2004, p.50) “O processo através do qual utilizamos elementos formais do texto para fazer as ligações necessárias à construção de um contexto é um processo inferencial de natureza inconsciente, sendo, então, considerado uma “estratégia cognitiva da leitura”. Assim, um “cale-se”, por exemplo, pode ser entendido das mais variadas maneiras. Para um apaixonado, pode significar algo como “agora vou te beijar, chega de conversa”, para um aluno, pode significar um “preste atenção, camarada”, e assim por diante. No caso do presente texto, é necessário entender que: a) há, então, o sujeito que lê (ele sabe em que contexto a obra foi criada? Leu a obra por imposição ou por vontade própria?), já que a compreensão de um texto se caracteriza pela leitura em um sentido mais amplo, no qual a inserção de conhecimentos prévios; e b) os personagens incluídos na trama também são diferenciados entre si: um porco age diferentemente de outro de sua espécie, por exemplo. Para explanar o assunto este trabalho apresenta-se desta forma: no capítulo 2...

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 O AUTOR E A OBRA

Soldado, livreiro, lavador de pratos, professor e jornalista, George Orwell parece ter feito de tudo um pouco. Nascido em Bengala, filho de pais ingleses, serviu na Birmânia, lutou na guerra civil Espanhola e, acima de tudo, gerou obras de fundamental importância para literatura mundial. A Revolução dos Bichos, fábula de crítica ao totalitarismo, denuncia os caminhos distorcidos do poder ilimitado. Lançado em 1945, essa obra é considerada por muitos o maior ícone que até hoje se escreveu contra a dominação exercida em nome da liberdade.

2.2 RESUMO DA OBRA

Vários bichos viviam em uma fazenda chamada de Granja Solar, na cidade de Willingdon, na Inglaterra: inconformados com a má situação em que viviam, resolvem fazer uma revolução, motivados pelo velho Major (porco), que tivera um sonho nos quais os animais seriam independentes e lutariam por seus ideais, livrando-se de Jones, dono da granja, o qual tratava os animais muito mal. No sonho de Major, os bichos seriam todos iguais e conseguiram ser autosuficientes, estava instalado ali o princípio do Animalismo. No início, os bichos têm como líder o velho Major, que acaba morrendo e deixando Bola-de-neve (porco) em seu lugar; este apesar do cargo que tinha sempre tratava os animais de forma igual, diferente de seu assistente Napoleão (porco), o qual, motivado pela ambição, acaba traindo Bola-de-Neve e ficando de líder da Granja. No início, Napoleão mostra-se justo, mas depois acaba desrespeitando os sete mandamentos das idéias animalistas. Cinco anos se passaram e Napoleão comportava-se como humano, ocupava-se da casa do Sr. Jones, bebia álcool, usava roupas e andava sobre duas pernas, empregando um regime ditatorial: dominando e inferiorizando os demais animais como seres inferiores e sem direitos. Nesta época, quando os porcos estavam reunidos na casa com humanos, era impossível distinguir quem era homem e quem era animal.

2.3. A LINGUAGEM

A linguagem é um fenômeno extremamente complexo, pode ser estudada por múltiplos pontos de vista, pois pertence a diferentes domínios, visto ser, ao mesmo tempo, individual e social, física, fisiológica e psíquica. Segundo Sapir (apud LYONS, 1987) a linguagem é um método humano e não instintivo para se comunicar idéias, emoções e desejos por meio de símbolos voluntariamente produzidos. A cada instante, ela implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: tanto é uma instituição atual como um produto do passado. A respeito da questão da linguagem, destaca-se, também, o pensamento de Orlandi

(2203), que nos conduz a ver que, ao mesmo tempo em que é constituída, a linguagem é um fator importante para o desenvolvimento mental, exercendo uma função organizadora e planejadora do pensamento. Compreende-se, assim, que a linguagem tem uma função social e comunicativa. Ao notar as funções sociais que a linguagem possui, a autora fundamenta que a partir da interação social, da qual a linguagem é expressão fundamental, o sujeito constrói sua própria identidade. Pode-se ressaltar ainda, por meio da ação, que o ser humano tem acesso ao mundo físico-social, e na mesma linha sobre a ação que o ser humano exerce sobre o mundo, pois é por meio da atividade social que esse mundo será transformado em um significado, em conhecimento e linguagem. Portanto, a linguagem está ligada ao fator que cada indivíduo possui dentro do seu processo de pensamento, é um mecanismo indispensável à vida humana; é modelada, orientada, enriquecida e tornada possível graças ao acúmulo de experiências passadas dos membros da própria espécie. “O homem utiliza ferramentas que auxiliam os processos psicológicos da fala nas ações concretas” (ORLANDI, 1999, p. 30) Assim, fala-se a mesma língua, mas de modo diferente. Esse deslizamento, a metáfora, própria da ordem simbólica, é o lugar da interpretação, da ideologia. A língua é pensada em relação ao discurso: “como sistema sintático intrinsecamente passível de jogo e a discursividade como inscrição dos efeitos lingüísticos materiais na história” (PÊCHEUX,1995). O ser humano precisa da linguagem para interagir com o mundo, despertando processos internos de desenvolvimento social, pessoal e político. A linguagem permite esse contato não só com a cultura do país na qual pertence o indivíduo em questão, mas também, permite o contato com culturas de muitos outros povos e nações.

2.4 PERSUASÃO: O DISCURSO DOMINANTE

É importante verificar, na construção do discurso persuasivo, como se dá a organização e a natureza do signo lingüístico, pois é na inter-relação desses dois componentes que se constrói a frase, o período, o texto, isto é, o discurso. É através da unidade menor chamada signo que o "modo de articulá-lo, organizá-lo, poderá determinar as direções que o discurso irá tomar, inclusive de seu maior ou menor grau de persuasão". (HOGAN 1998, p.26) Para Citelli (2000), é possível afirmar a seguinte idéia a respeito do discurso persuasivo: Ele se apropria de signos marcados pela superposição. São signos que querem fazer se passar por sinônimos de "toda verdade" quando colocados como expressão de "uma verdade". Assim, não é difícil compreender que o discurso persuasivo faz uso de recursos retóricos, almejando convencer ou alterar atitudes e comportamentos já estabelecidos. Um outro artifício usado para persuadir é o vocabulário escolhido na elaboração do texto. "Isso nos leva a deduzir que o discurso persuasivo é sempre expressão de um discurso institucional". (CITELLI, 2000, p. 32) De acordo com o autor supracitado os discursos que utilizaram em nosso cotidiano individual, mesmo dotados de recursos composicionais, estilísticos, até muito originais, não deixam de trazer a socialiazação do signo, ou seja, as palavras utilizadas por nós revelam as

marcas das instituições de onde derivam. Para o autor: ao observarmos o signo, incorporamos preceitos institucionais que nem sempre se apresentam claramente a nós. É necessário, então, indagarmos um pouco mais sobre a natureza do discurso, enquanto pronto, para as falas institucionais. (CITELLI, 2000, p. 33)

Entende-se, desta forma, que persuasão é o poder, através do discurso, de transformar o irreal em uma realidade abstrata, capaz de transformar uma idéia pré-estabelecida. Ainda, para Citelli (2000), é possível afirmar que assim como a pele é colada ao corpo, o elemento persuasivo está colocado ao discurso. Em concordância com o mesmo autor (2000, p. 13),

...quem persuade leva o outro à aceitação de uma dada idéia. É aquele irônico conselho que está embutido na própria etimologia da palavra: Per+suadire=aconselhar. Essa exortação possui um conteúdo que deseja ser verdadeiro alguém "aconselha" outra pessoa acerca da procedência daquilo que está sendo enunciado. Persuadir, então, é sinônimo de submeter, e quem persuade leva o outro à aceitação de uma dada idéia.

Citelli (2000) lembra ainda que persuadir não é só coerção ou mentira. Também pode ser a representação de querer a adoção de certos comportamentos, nos quais os resultados finais mostram saldos socialmente positivos. A campanha de vacinação infantil, por exemplo, a qual traz uma preocupação persuasiva, os objetivos terminais norteiam para formação de atitudes resultam na melhoria da saúde das crianças.

Para existir persuasão é necessário que certas condições se façam presentes: a mais óbvia é a da livre circulação de idéias. Em uma ditadura, em um regime que censura, fica um pouco estranho falar em persuasão, visto que inexistem idéias em choque. Não há pluralidade de mensagens e, portanto, é possível que o discurso nem chegue a sua fase persuasiva permanecendo nos mais extratos civilizantes. (CITELLI 2000, p. 67)

O discurso do tirano é único: então, se está recoberto de mentiras ou enfados, ninguém sabe, ninguém viu. Ingedore G. Villaça Koch (apud Nicola, 2002, p.530) difere o ato de persuadir e de convencer quando escreve: ...enquanto o ato de convencer se dirige unicamente à razão, através de um raciocínio estritamente lógico e por meio de provas objetivas, sendo, assim, capaz de atingir um "auditório universal", possuindo caráter puramente demonstrativo e amteporal, o ato de persuadir, por sua vez, procura atingir a vontade, o sentimento do(s) interlocur(es), por meio de argumentos plausíveis ou verossímeis, e tem caráter ideológico, subjetivo, temporal, dirigindo-se, pois, a um "auditório particular": o primeiro conduz a certezas, ao passo que o segundo leva a interferência que podem levar esse auditório - ou parte dele - à adesão aos argumentos apresentados.

Para persuadir é necessário passar pelo convencimento, mas vai muito além disso. O ato persuasivo é muito maior, é objetivo, ideológico, particular. Como usa de uma linguagem cuidadosamente escolhida, com uma estrutura envolvente e bem organizada, ainda tem o intuito

de convencer o leitor. Segundo Orlandi (2003), ao notar funções sociais que a linguagem possui, a autora fundamenta que a partir da interação social, da qual a linguagem é expressão fundamental, o sujeito constrói sua própria identidade. Ainda, em conformidade com Orlandi(2003) e Brandão (2002), podemos ressaltar que por meio da ação, o ser humano tem acesso ao mundo físico-social, e na mesma linha sobre a ação que o ser humano exerce sobre o mundo, pois é por meio da atividade social que esse mundo será transformado em um significado, em conhecimento e linguagem. Pode-se notar, desta forma, que a linguagem está ligada ao fator que cada indivíduo possui do seu processo de pensamento. “O homem utiliza ferramentas que auxiliam os processos psicológicos da fala nas ações concretas”. (ORLANDI, 1999, p.30) O ser humano precisa da linguagem para interagir com o mundo, despertando processos internos de desenvolvimento social, pessoal e político. A linguagem permite este contato não só com a cultura do país ao qual pertence o indivíduo em questão, mas também permite o contato com culturas de muitos outros povos e nações. Entende-se, desta forma, que persuasão é o poder, por meio do discurso, de transformar o irreal em uma realidade abstrata, capaz de transformar uma idéia pré-estabelecida. Ainda, para Citelli (2000), é possível afirmar que assim como a pele é colada ao corpo, o elemento persuasivo está colado ao discurso. Em concordância com o autor supracitado: Quem persuade leva a outro à aceitação de uma dada idéia. E aquele irônico conselho que está embutido na própria etimologia da palavra: Per+suadire=aconselhar. Esta exortação possui um conteúdo que deseja ser verdadeiro: alguém “aconselha” outra pessoa acerca da procedência daquilo que está sendo enunciado.

Persuadir, então, é sinônimo de “submeter” e quem persuade a outro a aceitação de uma dada idéia. Citelli (2000) lembra ainda que persuadir não é coerção ou mentira. Também pode ser a representação de querer prescrever a adoção de certos comportamentos, nos quais os resultados finais mostram saldos socialmente positivos. A campanha da vacinação infantil, por exemplo, existe nesta propaganda institucional uma preocupação persuasiva, os objetivos terminais norteiam para a formação de atitudes que resultam na melhoria da saúde das crianças.

Para existir persuasão é necessário que certas condições se façam presentes: a mais óbvia é a da livre circulação de idéias. Em uma ditadura, em um regime que censura, fica um pouco estranho falar em persuasão, visto que inexistem idéias em choque. Não há pluralidade de mensagens e, portanto, é possível que o discurso nem chegue a sua fase persuasiva permanecendo nos mais baixos extratos civilizatórios. (CITELLI, 2000, p.67)

Vê-se que o discurso do tirano ou de um religioso então é único, então, se está recoberto de mentiras ou enfados, ninguém sabe ninguém viu. Aliás, Fioron (2000), na formação da sociedade, existem dois níveis de realidade: um de essência e um de aparência, ou seja, um é o

professado e o outro o superficial, o não visível e o fenomênico. Partindo do nível fenomênico da realidade, formam-se as idéias dominantes numa dada construção social.

Idéias essas que racionalizadas, explicam e justificam a realidade. E esse

conjunto de idéias e representações que servem para justificar e explicar a ordem social, as condições de vida do homem e as relações que ele mantém com o outro é o que chamamos de ideologia. Sendo ela elaborada a partir das formas fenomênicas da realidade, as quais ocultam a essência da ordem social, a ideologia é “falsa consciência ”. Pode-se notar, desta forma que a ideologia está ligada ao processo de formação social. “Se há inversão da realidade, a ideologia está contida no objeto, no social, não podendo, portanto, ser reduzida a consciência”. (FIORIN, 2000, p. 29) A sociedade precisa deste fundo ideológico para resultar sua manifestação e implicação enquanto formação social.

3. IDEOLOGIA

É por meio da linguagem que se expressa as idéias, os pensamentos a as interações, é por ela que se estabelecem relações interpessoais anteriormente inexistentes e se influência o outro, alterando suas representações da realidade, da sociedade e o rumo de suas ações. Como afirma Henry (1994, p. 188) " o sujeito é sempre e ao mesmo tempo sujeito da ideologia e o sujeito do desejo inconsciente e isso tem a ver com o fato de nossos corpos serem atravessados pela linguagem antes de qualquer cogitação". Na formação da sociedade, conforme Fiorin (2000), existem dois níveis de realidade: um de essência e um de aparência, ou seja, um é o professado e o o outro o superficial, o nãovisível e o fenomênico. Partindo do nível fenomênico da realidade, formam-se as idéias dominantes numa dada construção social. Para esse autor, idéias essas que, recionalizadas, explicam e justificam a realidade. É esse conjunto de idéias e representações que servem para justificar e explicar a ordem social, a ideologia é "falsa consciência". Pode-se notar, desta forma, que a ideologia está ligada ao processo de formação social e sua conduta resulta num conjunto de idéias que justifica a ordem social. Se há inversão da realidade, a ideologia está contida no objeto, no social, não podendo, portanto, ser reduzida a consciência" (FIORIN, 2000, p.29) A sociedade precisa deste fundo ideológico para resultar sua manifestação e implicação enquanto formação social. Por um lado, quando há consciência de que as idéias são produtos de um contingente social-histórico, descobre-se como compreender a sociedade. Conscientes ou não desse intercâmbio entre discurso e a história, produz-se uma ideologia. Segundo Fiorin (2000), podemos afirmar que não existe conhecimento neutro, sendo que ele sempre expressa o ponto de vista de uma base sobre a realidade. Qualquer conhecimento está comprometido com os interesses da sociedade, dando assim uma dimensão mais ampla ao conceito de ideologia, sendo ela uma "visão de mundo", ou seja, o ponto de vista de uma classe social sobre a realidade. Há visões de mundo presas às formas fenomênicas da realidade e outras que a ultrapassam, indo até a essência. Nem toda ideologia é, portanto, "falsa consciência". Numa perspectiva histórica, há aquelas que são consciência invertida da realidade e aquelas que não o são. (FIORIN, 2000), p. 29) Sendo assim, verifica-se que não há uma separação entre ciência e ideologia, pois esta, mesmo como "falsa consciência", constrói-se a partir da realidade, porém de suas formas fenomênicas. Assim, fala-se a mesma língua, todavia fala-se diferente. Esse deslizamento, a metáfora, própria da ordem simbólica é o lugar da interpretação da ideologia. É assim que a língua é pensada em relação ao discurso "como sistema sintático intrinsecamente passível de jogo e a discursividade como inscrição dos efeitos lingüísticos materiais na história.

4. FORMAÇÕES IDEOLÓGICAS E DISCURSIVAS

Fiorin (2000) escreve que uma formação tem que ser entendida como a visão de mundo de determinada classe social, ou seja, um conjunto de representações, idéias que determinada classe tem sobre o mundo, e como não existem idéias fora do quadro de linguagem, essa visão de mundo não existe desvinculada da linguagem. Sendo assim cada formação discursiva é um conjunto de termos e de figuras materializadas de uma da visão de mundo. É com essa formação discursiva assimilada que o homem constrói seus discursos, que ele reage lingüisticamente aos acontecimentos. Por isso, o discurso é mais o lugar da reprodução do que o da criação (FIORIN, 2000, p. 31)

Então visando à ideologia dentro do quadro de linguagem é relevante sua conexão. “Dizer que não há idéias fora dos quadros da linguagem implica afirmar que não há pensamento sem linguagem; que existem processos mentais que fogem ao nível puramente lingüístico, porém, depois de certa idade o pensamento vem a ser predominantemente conceptual, não existindo este sem uma linguagem. Tornando-se claro que há indisiociabilidade entre linguagem e pensamento, não se apresentando jamais de forma pura, não podendo dissociar a linguagem do pensamento. (FIORIN, 2002, p.33) Para o mesmo autor as formações ideológicas presentes em determinada formação social determinam formações discursivas, estas materializam aquelas, estabelecendo um conjunto de temas e de figuras com que o “indivíduo” fala do mundo interior e exterior. “Os estudos lingüísticos devem fugir de duas ilusões: a total autonomia da linguagem e suas reduções à ideologia”. (FIORIN, 2000, p.76)

5. METODOLOGIA

O tipo de estudo realizado foi discursivo e explicativo com o propósito de melhor compreender a linguagem aplicada no livro A Revolução dos Bichos. Através dela procurou-se a presença da manipulação, pois se sabe que ela se encontra na palavra, no discurso. Pode-se constatar que o autor do livro demonstra através de um emaranhado de situações e diálogos, de como a linguagem pode ser manipuladadora e tornar-se favorável àqueles que a ela tem controle. Como o objetivo geral é constatar se a linguagem utilizada pelos personagens na obra A Revolução dos Bichos é manipuladora ou não, selecionou-se o corpus, para posterior análise.

6. ANÁLISE - ENFIM, ANALISANDO A REVOLUÇÃO

Segundo o filósofo Michel Pêcheus (1995), os discursos estão recheados de palavras vazias, desprovidas de real observância, vedando a capacidade de refletir sobre o que se pensa e o que realmente se quer enquanto discurso. Isso se faz pelas estratégias usadas na linguagem para o convencimento do leitor, criando efeitos de sentido, de verdade ou de realidade. O resultado disso é que grande massa absorve esses discursos, pois não tem o discernimento para analisar o que está escrito ou o que está sendo dito o não dito ato falho. É o que acontece com os animais de “A Revolução dos Bichos” que, por não terem discernimento, são manipulados por Garganta. A citação abaixo nos mostra como ele, por dizerse mais inteligente, acaba convencendo os camaradas de que os porcos realmente necessitam comer frutas e leite. Ele usa pesquisas cientificas para comprovar a importância desses alimentos para os porcos e a ameaça da volta do granjeiro Jones, para que os animais, amedrontados, concordem com tal ato de egoísmo, em detrimento da alimentação dos demais animais da fazenda. Como já foi visto na fundamentação teórica, vamos acompanhar mais um recorte obra em estudo da página 30: "...nosso único objetivo em ingerir essas coisas é preservar nossa saúde. O leite e a maçã (está provado pela ciência, camaradas) contêm substâncias absolutamente necessárias à saúde dos porcos. Nós, porcos, somos trabalhadores intelectuais. A organização e a direção dessa granja repousam sobre nós. Dia e noite velamos por nosso bem-estar. É por vossa causa que bebemos aquele leite e comemos aquelas maças. Sabeis o que sucederia se os porcos falhassem em sua missão? Jones voltaria! Sim Jones voltaria". No livro, “A Revolução dos Bichos”, os líderes usam muito da persuasão para convencer os outros bichos. Conforme afirma kevin Hogan (1998, p.20), “a persuasão é a capacidade de induzir crenças e valores nas demais pessoas, influindo em seus pensamentos e em suas ações através de estratégias específicas. Isso está presente, visivelmente, no personagem porco - líder Abája (como era chamado), o mais velho da granja. O velho Major, com toda a sua experiência e com seu poder persuasivo, conseguiu convencer a todos os outros bichos do mal que lhes fazia o bicho-homem. Dizia ele que o dono da granja, Sr. Jones o explorava; que a vida dele era miserável, trabalhosa e curta. Para convencer os camaradas, expunha sua revolta contra o homem e fazia com que cada animal refletisse a respeito de suas curtas vidas. Diz ele: “nascemos, recebemos o mínimo de alimento necessário para continuarmos respirando, e os que podem trabalhar o fazem até a última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade” ( p.?) Além de trabalhar como escravos, não sabiam sequer o que é lazer e não tinham direito algum à felicidade. Para deixar os companheiros ainda mais indignados com a crueldade de Sr. Jones, o Major lembrava-os dos filhotes que foram vendidos logo ao completar a idade de um ano, que seriam a alegria de égua em sua velhice. Completou ainda, em seu discurso, que o homem era o único ser que consumia sem produzir. Não dava leite, não punha ovos e era fraco demais para

puxar o arado. Os bichos da granja jamais haviam pensado a respeito. Tão grande foi o poder de persuasão do velho Major, que todos os animais aderiram à revolução. Na obra “Linguagem e persuasão” Citelli (1998) consta que quem persuade leva o outro à aceitação de uma dada idéia. Diz ainda que seja possível que esse não esteja trabalhando com a verdade, mas com a verossimilhança. Num trecho da obra em estudo, podemos traçar um paralelo com a afirmação feita. Analisaremos o momento em que Napoleão toma posse do cargo de líder, criado por ele próprio. Esse, cercado por cães ferozes, criados às escondidas por ele, por meio de graves acusações feitas a Bola-de-Neve, consegue o titulo para liderar a granja, então explica aos demais animais: “camaradas – tenho certeza de que cada animal compreende o sacrifício que camarada Napoleão faz ao tomar sobre seus ombros mais esse trabalho”; e completou: “suponhamos que tivésseis decidido seguir Bola-de-Neve com suas miragens de moinho de vento” – logo Bola–de-Neve, que como sabemos não passava de um criminoso! Como nenhum animal tenha se manifestado em defesa de Bola-de-Neve, Garganta revidou com: “por certo, camaradas, não quereis que Sr. Jones volte a governar a granja”. Com isso todos se convenceram de que Garganta tinha razão. No capítulo VII da obra de George Orwel, fica bem clara a presença do autoritarismo, dentro do discurso persuasivo. Garganta anunciou às galinhas que entregassem seis ovos, já que Napoleão havia fechado um contrato com o Sr. Whymper (vizinho) de quatrocentos ovos por semana. Ao se rebelarem pondo os ovos acima do telhado para que esses escorregassem e se quebrassem, o líder Napoleão cortou a ração das frangas e declarou que o bicho que desse a elas um só grão seria morto. Como se vê, a autoridade, quando exercida por meio de ameaça, como se tem em um regime de ditadura (CITELLI, 2000), “fica um pouco estranho falar em persuasão, visto que inexistem idéias em choque”. É o que acontece na granja, ninguém questiona, apenas obedece. Uma outra forma de persuasão ocorreu no mesmo capítulo, quando Sansão, por excesso de trabalho, chega à beira da morte e necessita de cuidados. Napoleão mandou o burro para o carniceiro e um dos animais conseguiu ler o letreiro do caminhão do matadouro. Para defender Napoleão, Garganta, com o dom de persuadir como ninguém, explica aos bichos que o caminhão fora comprado pelo hospital de Willingdon. Mais uma vez ele manipula os animais, usando de fingimento, ao cortar-lhes a cena comovente a que assistira no leito de morte de Sansão. Dizia-lhes ser a cena mais triste de sua vida, erguendo a pata e deixando cair uma lágrima. Mente ao dizer que Sansão quase em voz falou-lhe em seu leito de morte: “Napoleão tem sempre razão! Viva a granja dos bichos! Avante camaradas, em nome da revolução!”. Diante de tamanha comoção, os bichos logo se convenceram do engano que cometeram ao crer que seu camarada fora levado ao carniceiro. E assim era, cada vez que qualquer animal tentava pensar criticamente e ter opinião própria. Napoleão e Garganta, com tão grande poder de persuadir, manipulava toda a granja. Toda e qualquer mudança implica preparar o terreno onde as mesmas ocorrerão, a fim de que as idéias fertilizem e dêem o fruto esperado. Para tanto, há de se esperar o momento certo para a ação. Neste instante tudo concorrerá para o sucesso do empreendimento. No cenário da

obra em estudo, a situação era propícia a uma mudança, oportunidade que o velho Major não desperdiçou.

“Sr. Jones, proprietário da Granja Solar, fechou o galinheiro à noite, mas estava bêbado demais para lembrar-se de fechar também as vigias”. (p.9) “Afinal, a revolução ocorreu muito mais cedo e mais facilmente do que se esperava. Jones fora, no passado, um patrão duro, porem eficiente. Agora estava em decadência. Desestimulado com a perda de dinheiro numa ação judicial, dera para beber bastante além do conveniente. Às vezes passava dias inteiros recostado em sua cadeira de braços, na cozinha, lendo os jornais, bebendo e dando a Moisés cascas de pão molhadas na cerveja. Seus peões eram vadios e desonestos, o campo estava coberto de erva daninha, os galpões necessitavam de telhas novas, as cercas estavam abandonadas e os animais andavam mal alimentados” (p. 19). “Junho chegou, e o feno estava quase pronto para o corte. No dia 23 de junho, um sábado, Jones foi a Willingdon e bebeu tanto no Leão vermelho, que só regressou ao meio-dia de domingo. Os homens ordenharam as vacas de manhã cedo e saíram para caçar lebres, sem se preocuparem com a alimentação dos animais. Ao voltar, Jones foi dormir no sofá da sala com o News of the World sobre o rosto; portanto, ao cair da tarde, os animais ainda não haviam comido. Aquilo dói insuportável”. (p. 19) Toda luta deve ter uma causa com um objetivo a ser alcançado. Para o alcance desse propósito, tudo se justifica. Para os bichos da fazenda isso era necessário.

“Retire-se da cena o Homem, e a causa principal da fome e da sobrecarga de trabalho desaparecerá para sempre”. (p.12) Uma batalha só tem início mediante o levantar de um líder. Na escolha desse personagem, buscar-se-á alguém com os pré-requisitos inerentes aos líderes, necessários à garantia de movimentação de toda a massa de manobra, a qual o seguirá sem pestanejar. Terá que ser reconhecido pelos seus liderados e possuir inteligência e sabedoria nas ações, deverá saber usar a linguagem de maneira a convencer. Características como essas eram vistas em Jamor, e de linguagem ele entendia bem. Como nos faz compreender Orlandi (2003), ela, a linguagem, é um fator importante para o desenvolvimento mental, pois exerce uma função que organiza e planeja o pensamento. Compreende-se, assim, que ela tem uma função social e comunicativa. Assim, somos manipulados por ela. “ O velho Major (chamavam-no assim, muito embora ele houvesse comparecido a exposição com o nome de “Beleza de Willingdon”) gozava de tão alto conceito na granja, que todos estavam dispostos a perder uma hora de sono só para ouvi-lo” “....com um ar sábio e benevolente...”. (p.9) Não é possível conduzir toda uma massa de seguidores senão pelo profundo conhecimento do contexto vivenciado, ser possuidor de forte oratória e capacidade argumentativa. Deve ser claro e preciso na exposição da causa e demonstração das estratégias a serem executadas. Deve ser crítico, expondo todas as questões, provocando o questionamento do grupo e demonstrando todos os fatos geradores da situação, bem como os fatores ameaçadores que devem ser suprimidos. Em tudo há que ter a concordância plena de todos a ponto de a situação ser vista com unanimidade, quando carente de mudanças. Com argúcia e sagacidade terá que convencer a todos a se engajarem na luta, produzindo em suas mentes uma visão futurística dos resultados, de modo a todos desejarem a sua antecipação.

“ A tarefa de instruir e organizar os outros recaiu, naturalmente, sobre os porcos reconhecidamente os mais inteligentes entre os animais” (p. 17). “Napoleão era um cachaço Berkhire, de aparência ameaçadora, o único Berkshire da fazenda, pouco falante, mas com a reputação de possuir grande força de vontade” (p. 17). “Bola-de-Neve era mais ativo do que Napoleão, de palavra mais fácil e mais imaginoso...”. (p. 17). “...Garganta, de bochechas redondas, olhos sempre piscando movimento lépidos e voz aguda. Manejava a palavra com brilho e, quando discutia algum ponto mais difícil, tinha o hábito de dar pulinhos de um lado para o outro e abanar o rabicho, o que era assaz, persuasivo...capaz de convencer que o preto era branco”. (p.17). Citelli (2000, p. 13) explica muito bem a persuasão. Para ele “quem persuade leva o outro à aceitação de uma dada idéia”. É aquele irônico conselho que está embutido na própria etimologia da palavra: per+suadire=aconselhar. Essa exortação possui um conteúdo que deseja ser verdadeiro: alguém “aconselha” outra pessoa acerca da procedência daquilo que está sendo enunciado”. Portanto, aquele que faz uso da persuasão leva o outro à aceitação de uma dada idéia. Na escolha das estratégias, algumas ferramentas facilita no convencimento das idéias e apressa o resultado. Tudo o que puder ser internalizado pelas massas gerará um comportamento uniforme, muito importante nessa hora. Estratégias de ação devem ser colocadas em prática, revistas e corrigidas para se evitar surpresas e acidentes de percurso. Trabalhar o lado emotivo sempre foi a ferramenta mais eficaz na manipulação de massas, pois quando alcançados, o grupo fica totalmente a mercê de seu líder. Major mostrou-se exímio no manejo dessas ferramentas em seu discurso. Assim explica Fiorin (2000, p. 31): “é com essa formação discursiva assimilada que o homem constrói seus discursos, que ele reage lingüisticamente aos acontecimentos. Por isso, o discurso é mais o lugar da reprodução que o da criação.”. “O canto levou os animais a mais externa excitação. Antes de o Major chegar ao fim, já haviam começado a cantar por conta própria. Até os mais estúpidos pegaram a melodia e algumas palavras; os mais espertos, como os porcos e os cachorros, decoraram a canção em poucos minutos. Então, depois de alguns ensaios preliminares, toda a granja atacou “Bichos da Inglaterra”, em formidável uníssono. As vacas mugiam a canção, os cachorros latiam-na, as ovelhas baliam-na, os cavalos relinchavam-na, os patos grasnavam-na. Tal foi o enlevo, que cantaram de ponta a ponta, cinco vezes sucessivamente e teriam continuado a noite inteira se fossem interrompidos”. (p, 16) “Esses três haviam organizado os ensinamentos do Major num sistema de pensamento a que deram o nome de Animalismo. Várias noites por semana, depois que Jones dormia, realizavam reuniões secretas no celeiro e expunham aos outros os princípios do Animalismo”. (p. 17) Nem tudo são flores! O líder certamente terá alguns percalços no caminho de seus objetivos. Convencer pessoas pode gerar antagonismos e colocar em risco as intenções dos estrategistas, arriscando o sucesso do objetivo. As ameaças devem ser identificadas e tratadas antes d e os planos serem colocados em execução. A confiança é primordial para a garantia de vitória. No universo da fazenda, isso não foi diferente. “A votação foi realizada imediatamente e conclui-se, por esmagadora maioria, que os ratos eram camaradas. Houve apenas quatro votos contra, dos três cachorros e do gato que, depois se descobriu votara pelos dois lados”. (p. 13-14) “De início, encontraram certa apatia e muita estupidez. Alguns animais mencionaram o

dever de lealdade para com Jones, a quem se referiam como o “dono”, ou fizeram comentários elementares do tipo: Seu Jones nos alimenta. Se ele fosse embora, nós morreríamos de fome.” (p.18) “Bola-de-Neve era mais ativo do que Napoleão, de palavra mais fácil e mais imaginosa, porém não gozava da mesma reputação quanto a solidez do caráter”. (p. 17) Tudo planejado, revisto e confirmado deve-se aguardar o momento exato para deflagra-se a ação. Nesta ocasião devem ser checadas todas as possibilidades de erro, de forma que haja certeza de vitória, pois é aqui que se comprova a eficácia da argumentação e convencimento do grupo na obtenção dos resultados desejados. Aqui não se pensa, apenas a idéia do líder funciona e é tida como a mais pura verdade. O benefício alcançado é para todos. Todos serão vitoriosos, está muito claro este argumento no momento da rebelião. “Que haja entre nós uma perfeita unidade, uma perfeita camaradagem na luta. Todos os homens são inimigos, todos os animais são camaradas”. (p.13) “Num instante, ele e seus homens estavam no depósito com os chicotes na mão, batendo a torto e a direito. Isso ultrapassou a tudo quanto os animais famintos podiam suportar. De comum acordo, muito embora nada tivesse sido anteriormente planejado, lançaram-se sobre seus verdugos. Jones e os homens viram-se de repente marrados e escoiceados por todos os lados. A situação lhes fugira ao controle. Jamais haviam visto os animais portarem-se daquela maneira, e a súbita revolta de criaturas a quem estavam acostumados a surrar e maltratar à vontade, apavorou-os. Em poucos instantes desistiram de defender-se e deram o fora. Um minuto depois, os cinco voavam pela trilha rumo à estrada principal, com os bichos a persegui-los triunfantes”. (p.19-20) Como afirma Fiorin (2000), existem dois níveis de realidade: um de essência e um de aparência, ou seja, um é o professado e o outro o superficial, o não visível e o fenomênico. Fica evidente ainda uma formação ideológica quando se faz necessário criar os sete mandamentos para a restauração de como agir os novos donos da fazenda. “Explicaram que, segundo os estudos que tinham feito nos últimos 3 meses, era possível resumir os princípios do animalismo em sete mandamentos”. (p.48) Segundo Fiorin(2000), uma formação de ideologia tem que ser entendida como uma visão do mundo de determinada classe social, ou seja, um conjunto de representações ideais que determinada classe social tem sobre o mundo, e como não existem idéias fora do quadro de linguagem, essa visão de mundo não existe desvinculada da linguagem. Sendo assim, cada formação discursiva é um conjunto de termos de figuras materializantes de uma dada visão de mundo. Partindo ainda do ponto de vista de que se infere a manipulação desde os primeiros discursos até seus precursores, dispõe-se de uma série de jogadas e atos manipuladores, ou seja, cada personagem animal tem seu texto e pretexto para manipular. Um exemplo bem claro é a vaca Mimosa, sempre cheia de desculpas no que se refere a trabalhar. “Com o passar do inverno, Mimosa tornava-se mais e mais importuna, todas as manhãs atrasava-se para o trabalho e desculpava-se de dores misteriosas, embora gozasse de excelente apetite. A qualquer pretexto largava o trabalho e ia para o açude, a beira do qual permanecia admirando sua própria imagem refletida na água”. (p. 69) Essa linguagem manipuladora é cercada por um fundo ideológico que cada personagem denota de forma própria, e sua visão pode ser voltada ao bem ou não, dependendo do que se queira atingir.

Na realidade, é o produto da subjetividade, da sociedade que determina o modo de agir, pois os discursos estão recheados de palavras vazias, desprovidas da real observância, vedando a capacidade crítica de refletir sobre o que se pensa e o que realmente se quer expor enquanto discurso. Vê-se bem claro a persuasão com que os porcos comandavam. Napoleão, com todo seu discurso embasado em benefício próprio, conduz de forma inerente todos os animais da fazenda, tornando-se ainda mais próximo do homem. “Domingo de manhã, quando os bichos se reuniram para receber as ordens de Napoleão anunciar sua decisão de implantar uma nova política. A partir daquele dia, a Granja dos Bichos passaria a comercializar com a vizinhança, naturalmente sem qualquer objetivo de lucro, mas com o fim único de obter algumas mercadorias urgentemente necessárias” (p.72) Encontra-se aí um discurso que se faz manipulador e ainda conduz o próprio indivíduo que faz o discurso se manipular. Como afirma Fiorin (2002), “ o enunciador é o suporte da ideologia, de discursos que constituam a matéria-prima com que elabora seu discurso. Seu dizer é a reprodução inconsciente do dizer do seu grupo social”. Quer dizer, o homem não é livre para se expressar, é reflexo da sociedade em que está incluso. Com a construção do moinho e a morte de Sansão, o leitor é submetido a um mundo de idéias próprias de como se vê a realidade, essa é encarada agora de maneira diferente e o discurso parsuasivo já não é tão contagiante, a linguagem manipuladora agora se remete a fatos inevitáveis. Ainda assim só alguns se dão conta da realidade em volta. “De certa maneira, parecia como se a granja se houvesse tornado rica sem que nenhum animal tivesse enriquecido, exceto, é claro, os porcos e os cachorros”. (p.90) “Mesmo assim os bichos nunca perdiam a esperança mais ainda, jamais lhes faltava nem por instantes o sentimento de honra, pelo privilégio de serem membros da Granja dos Bichos, que continuava a ser única em todo o condado, em toda Inglaterra”. (p.91) Como afirma Fiorin (2002, p. 42), a linguagem reside no intermediário da produção e reprodução cultural e ideológica, combinando elementos na sua tarefa de comunicar. É por intermédio dela que se constrói a realidade, adquirem-se os padrões culturais e as identidades.

Ela significa reflexo das práticas sociais, ao mesmo tempo em que é determinada e determinante, pois cria uma visão de mundo, fazendo do discurso sugerido a maneira mais conveniente da realidade, ocasionando e formando a consciência humana.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho teve como objetivo principal comprovar o poder que a persuasão exerceu na linguagem usada na obra “A Revolução dos Bichos”, de George Orwel. A escolha desse corpus deve-se a valor que essa fábula apresenta na literatura e a repercussão que tem a persuasão no nosso mundo atual. A obra de Orwel mostra-nos como o poder transforma as pessoas, (bichos) trazendo à tona sentimentos e desejos antes não imaginados. Para tanto, os lideres da obra “A Revolução dos Bichos” usaram a persuasão como sua maior aliada. Por meio dela, os lideres manipularam todos os animais da Granja, convencendo-os de que eles seriam a única saída. A persuasão está presente na obra do início ao fim, o que comprova a hipótese levantada no tema: “a linguagem utilizada pelos personagens na obra “A Revolução dos Bichos” está a serviço da manipulação ou não?” Assim, de acordo com a análise fundamentada em vários teóricos, percebe-se que a linguagem é impregnada de ideologia, a qual tende a interferir ma mente das pessoas, e através da persuasão manipulá-las. Esse estudo não pretende ser absoluto, espera-se que novas pesquisas sejam feitas quanto à linguagem persuasiva na obra em análise. Sabe-se das inúmeras possibi8lidades que um texto oferece, principalmente, quando essa obra é uma fábula e de tão importante escrito. O cenário é de guerra, o ano é de 1945, o homem encontrava-se oprimido, querendo livrar-se das amarras da dominação. Mas como erguer abertamente uma “bandeira branca” em meio a tantos destroços? É neste cenário que Orwel ergue, manifestando seu grito de libertação, fazendo da linguagem a arama que traz às claras o ambiente de dominação exercida em nome da liberdade.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 2000. FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ática, 2000. HENRY. P. “Sujeito, Sentido, Origem”, in Discurso Fundador, Pontes, Campinas, 1994. HOGAN, Kelvin. A Psicologia da Persuasão. Rio de Janeiro: Rcord, 1998. LYOSN, John. Linguagem e lingüística: uma introdução. São Paulo, Santuário, 1987. NICOLA, José de. TERRA, Ernani e CAVALLETE, Floriana Toscano. Português para o Ensino Médio. 1ª ed. São Paulo: Scipione, 2002. ORLANDI, Eni Puccilelli. Análise do discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Fontes, 2003. ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. Porto Alegre: Globo, 2001. PÊCHEUX, M. Discurso: Estrutura ou Acontecimento. Campinas: Pontes, 1995.