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6) PRÁTICA DOCENTE UNIVERSITÁRIA VOLTADA ÀS RELAÇÕES ENTRE OS GÊNEROS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA

University teaching practice focused on gender relations in the initial training of Science and Biology teachers Práctica docente universitaria direccionada a las relaciones entre los géneros en la formación inicial de profesores de Ciencias y Biología Sandro Prado Santos

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Resumo: O artigo originou-se de uma experiência prática no espaço da sala de aula, em um curso de formação de professores de Ciências e Biologia. Essa foi realizada no âmbito da disciplina Educação, Saúde e Sexualidade. No módulo intitulado Sexualidade(s) e Gênero(s): desafio(s) nos espaços escolares, foi exibido o curta metragem: Boneca na Mochila, tal vídeo se torna interessante para o trabalho com os/as professores/as na medida em que permite problematizar as Relações entre os Gêneros no espaço escolar. A partir das discussões e debates relacionados ao vídeo, 13 futuros/as professores/as construíram narrativas sobre a continuidade da história que transcendesse o final do curta. Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo desvelar e analisar as concepções de Gênero desses futuros/as professores/as de Ciências e Biologia. Usando a abordagem metodológica de cunho qualitativo, analisamos as narrativas construídas por esses sujeitos. Para uma melhor interpretação, dividimos o conteúdo dos discursos em categorias de análise. Os resultados mostraram que futuros/as professores/as temem que meninos assumam a suposta identidade de gênero oposta a sua, concebendo como algo problemático e estranho, então precisa estar sob um policiamento e vigilância constante, demonstrando concepções de homofobia e misoginia. Entretanto, outros sujeitos não veem como problema quando um menino resolve transgredir os padrões hegemônicos masculinos, entendem que as crianças estão experimentando e descobrindo formas de brincar. Além disso, encontramos elementos para pensar a formação docente no âmbito das discussões das relações entre os gêneros. A partir dos resultados encontrados foi possível avaliar diferentes concepções de gênero dos/as licenciandos/as. Abstract:The article grew out of practical experience within the classroom, on a training course for teachers of Science and Biology. This was done within the discipline Education, Health and Sexuality. In the module titled Sexuality (s) and Genre (s), challenge (s) in school spaces, was shown the short film: Doll in Backpack, this video is interesting to work with the teachers as in that it allows discuss relations between the Genres in the school. From the discussions and debates related to the video, 13 future teachers constructed narratives about the continuity of history that transcended the end of the short. In this context, this paper aims to uncover and analyze the concepts of Gender future teacher of Science and Biology. Using a qualitative methodological approach, we analyze the narratives constructed by these subjects. For a better interpretation, we divided the content into categories of discourse analysis. The results showed that future teachers fear that the boys take the supposed gender identity opposite its conceiving as something problematic and strange, and then one must be under constant surveillance and policing, demonstrating concepts of homophobia and misogyny. However, other subjects do not see as a problem when a boy decides to transgress the hegemonic masculine standards, understand that children are experiencing and discovering ways to play. Furthermore, we find elements to think about teacher education in the discussions of gender relations. From the results, it was possible to evaluate different conceptions of gender in the licensees. Resumen: Este artículo se originó de una experiencia práctica en el aula, dentro del curso de formación de profesores de Ciencias y Biología. Esto se hizo dentro de la disciplina de Educación, Salud y sexualidad. En el módulo titulado Sexualidad(s) y Género(s): desafío(s) en los espacios escolares, el cual fue exhibido el cortometraje: “Boneca na Mochila (Muñeca en la Mochila)”, este vídeo se vuelve interesante para el trabajo con los/as profesores/as, pues permite problematizar las Relaciones entre los Géneros en el espacio escolar. A partir de las discusiones y debates relacionados 1

Docente do curso de Ciências Biológicas, Faculdade de Ciências Integradas do Pontal – FACIP/UFU. E-mail: [email protected] II Fórum Internacional Sobre Prática Docente Universitária Universidade Federal de Uberlândia – 2012

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al vídeo, 13 futuros/as profesores/as construyeron narrativas sobre la continuidad de la historia que trascendiera al final del corto. En ese contexto, el presente trabajo tiene como objeto desvelar y analizar las concepciones de Género de esos futuros/as profesores/as de Ciencias y Biología, usando el abordaje metodológico de cuño cualitativo, analizamos las narrativas construidas por esos sujetos. Para una mejor interpretación, se dividió el contenido de los discursos en categorías de análisis. Los resultados mostraron que los futuros/as profesores/as temen que niños asuman la supuesta identidad de género opuesta a la suya, concibiéndolo como algo problemático y raro, entonces necesita estar bajo vigilancia constante, demostrando concepciones de homofobia y misoginia. Entretanto, otros sujetos no ven como problema cuando un niño resuelve transgredir los padrones hegemónicos masculinos, entienden que los niños están experimentando y descubriendo formas de jugar. Además, encontramos elementos para pensar la formación docente en el ámbito de las discusiones de las relaciones entre los géneros. A partir de los resultados encontrados, fue posible evaluar diferentes concepciones de género de los/as licenciandos/as, siendo así, como práctica evaluativa de la disciplina, se estructuraron acciones pedagógicas en el sentido de problematizar los estereotipos y prejuicios sexistas que sobrepasan las relaciones de género. Esperamos que ese estudio pueda contribuir en la formación inicial y continuada de profesores/as y que esos puedan encontrar muchas preguntas para ser discutidas y profundizadas.

Introdução

Pesquisas na área acadêmica que estudam, discutem, refletem e problematizam a temática sexualidade tem mostrado o quanto às questões sexuais permeiam o cotidiano escolar, bem como a relevância de trabalhá-las nos conteúdos em sala de aula (BRITZMAN, 1996; LOURO, 2007; MEYER; SOARES, 2004). Nesse sentido, uma complexa e profícua produção acadêmica vem ressaltando a impossibilidade de se ignorar a sexualidade quando se busca analisar e compreender questões educacionais, ou seja, parece impossível separar a escola de tudo isso, uma vez que, “tem se apresentado como um instrumento de normalização e disciplinamento dos gêneros e das sexualidades, legitimando rígidos padrões definidores do masculino e do feminino em nossa cultura” (FURLANI, 2011, p. 120). Segundo Louro (1997) se a escola é uma instituição social ela está, obviamente, envolvida com as formas culturais e sociais de vivermos e constituir nossas identidades de gênero e nossas identidades sexuais, configurando em um espaço sexualizado e generificado. Diante desses apontamentos, percebemos a relevância da temática sexualidade e relações entre os gêneros na formação inicial dos/as futuros/as professores/as. Daí a necessidade dos cursos de formação contemplarem essas temáticas em seus currículos, uma vez que, estão “presentes cotidianamente no espaço escolar, sendo papel da escola tratá-las” (LEÃO; RIBEIRO, 2009, p. 7). Deste modo, segundo os/as autores/as supracitados/as,

(...) é preciso que os professores sejam devidamente preparados, isto é, tenham acesso ao conhecimento científico acerca deste assunto. Esta necessidade é reforçada pelo fato de que na prática pedagogia, por meio de palavras, olhares, atitudes, educadores podem desorientar ou orientar seus alunos (p.7). II Fórum Internacional Sobre Prática Docente Universitária Universidade Federal de Uberlândia – 2012

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Nessa perspectiva, percebemos, em consonância com nossa área de formação, a ausência de formação inicial dos/as educadores/as de Ciências e Biologia acerca da Sexualidade e Relações entre os Gêneros, visto que essa temática não é tratada como obrigatoriedade no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, nosso espaço da pesquisa. Entretanto, prevê como opção a disciplina específica sobre sexualidade no currículo de formação dos profissionais que depois se tornarão professores na Educação Básica (SILVA, 2011, grifo nosso). A disciplina Educação, Saúde e Sexualidade no referido curso tem como objetivo geral: compreender o significado bio-histórico-social do Corpo, Gênero e da Sexualidade na construção identitária do sujeito, bem como analisar suas inter-relações com a escola e o Ensino de Ciências e Biologia. Em uma experiência prática na referida disciplina em específico no módulo intitulado Sexualidade(s) e Gênero(s): desafio(s) nos espaços escolares exibimos um curta metragem do diretor Reginaldo Bianco “Boneca na Mochila”, tal vídeo se torna interessante para o trabalho com os/as professores/as na medida em que permite problematizar as Relações entre os Gêneros no espaço escolar. A partir das discussões e debates acerca do vídeo, solicitamos que os/as licenciandos/as tecessem considerações do mesmo e construíssem, de acordo com suas concepções, uma continuidade da história que transcendesse o final do curta, permitindo identificar, por meio das narrativas, concepções de gênero, configurando o objetivo do presente artigo. Sendo assim, temos como objetivo desvelar e analisar as concepções de Gênero de futuros/as professores/as de Ciências e Biologia.

Relações de gêneros: uma perspectiva histórica e cultural Os estudos de Gênero são relativamente recentes, sobretudo no campo da Educação. No território brasileiro este termo começou a ser utilizado na década de 1980, especialmente pelos movimentos sociais feministas. Nessa direção, o conceito Gênero “surge através desses movimentos políticas sociais com o intuito de distinguir Gênero de sexo” (LOURO, 1997, p.21). Baseado somente nas características sexuais predominou, por muitos séculos, o discurso do determinismo biológico, que respaldava práticas baseadas nas diferenças sexuais. Segundo, Scott (1995) “desta maneira se fez necessário a criação do termo gênero, com o intuito de ressaltar o caráter fundamentalmente social das distinções baseadas no sexo”. (p.72). Segundo Auad (2006) Gênero refere-se a um conjunto de representações construídas em cada sociedade, ao longo de sua história, para atribuir significados, símbolos e diferenças para cada um dos sexos. Com isso, percebemos que aprendemos e construímos as identidades do que é ser homem e mulher e essa aprendizagem se processa em diversas instituições sociais em tempos e lugares específicos (MEYER; SOARES, 2008). Para Louro (1997) os sujeitos se fazem homem e mulher num processo contínuo, construído em práticas sociais masculinizantes e feminilizantes, então o conceito de Gênero se firma, pois II Fórum Internacional Sobre Prática Docente Universitária Universidade Federal de Uberlândia – 2012

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(...) obriga aquelas/es que o empregam a levar em consideração as distintas sociedades e os distintos momentos históricos de que estão tratando. Afasta-se de (ou se tem a intenção de afastar) proposições essencialistas sobre os gêneros; a ótica está dirigida para um processo, para uma construção, e não para algo que exista a priori (p. 23).

Esse conceito passa a reforçar a necessidade de se pensar que há muitas formas de sermos mulheres e homens, acentuando que essas representações são diversas, ao longo do tempo, ou no mesmo tempo histórico, nos diferentes grupos e segmentos sociais (MEYER; SOARES, 2008). De acordo com os aspectos conceituais de Gênero assumidos no trabalho, indicamos: nós aprendemos a ser homens e mulheres (TEIXEIRA; DUMONT, 2009, grifos nosso). Em consonância com Seffner (2008) destacamos que “homens não nascem prontos, não nascem violentos, nem saem da barriga da mãe sedentos de poder, nem dispostos a usar o sexo como arma contra as mulheres. Os homens são ensinados, dia a dia, em nossa sociedade, a serem assim” (p.15). Se Gênero é construído nas instituições sociais, destacamos que a escola se constitui em um espaço generificado, em que “gestos movimentos e sentidos são produzidos e incorporados por meninas e meninos e tornam-se parte de seus corpos. Ali se aprende a olhar, se aprende a ouvir, a falar e a calar, se aprende a preferir”. (LOURO, 1997, p.61). Trabalhar a temática das Relações de Gênero dentro do ambiente escolar é tão necessário como trabalhar qualquer conteúdo tradicional, fato reconhecido e legitimado por documentos oficiais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), sobretudo os referentes aos Temas Transversais.

Educação de meninos e meninas a partir dos estudos de gênero Segundo Furlani (2011, p.119) a “Educação Sexual, a partir da educação infantil, pode articular os estudos das relações de gênero com o processo de formação das crianças e jovens”. Cruz (2003) ressalta que a educação sexual no âmbito da Educação Infantil pode configurar-se como um espaço privilegiado para articular-se o debate dessas áreas de conhecimento com a temática da infância. O desenvolvimento deste campo de estudos pode contribuir para a melhoria da qualidade da Educação Infantil e para que se possa diminuir a perspectiva “adultocêntrica”, para que “as crianças” sejam meninos e meninas com direito à própria sexualidade. A sexualidade e as relações de gênero são construídas e aprendidas como parte integrante do desenvolvimento da personalidade, capazes de interferirem na alfabetização e no desempenho escolar. A escola não pode ignorar essa dimensão do ser humano e precisa investir na formação de professores/as para dar conta da tarefa (SUPLICY, et al, 1994). A escola não é neutra nas construções/relações de gênero, ela participa sutilmente da construção da identidade de gênero e de forma desigual. E essa construção inicia-se desde as primeiras relações da criança no ambiente coletivo da Educação Infantil (FINCO, 2003). II Fórum Internacional Sobre Prática Docente Universitária Universidade Federal de Uberlândia – 2012

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Uma possibilidade de prática docente que contribui na construção do conceito de gênero no espaço escolar na educação de meninos e meninas é o entendimento que a igualdade de gênero começa com a disponibilidade de brinquedos infantis, “sem restrição ou qualquer segregação de acesso baseado no sexo da criança” (FURLANI, 2011, p. 120, destaque da autora). O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) adverte contra a legitimação de identidades de gênero estereotipadas, sugerindo que as crianças brinquem com “as possibilidades relacionadas tanto ao papel de homem como ao da mulher” (BRASIL, 1998, p. 41, grifo nosso). Neste sentido, segundo Furlani (2011), a classificação entre “brinquedos de menina” e “brinquedos de menino” representa uma barreira ao conhecimento e ao desenvolvimento das habilidades que o brinquedo proporciona e desenvolve. Nesta perspectiva, Biagio (2005) enfatiza “por que meninos têm de jogar bola e só meninas brincam de casinha?” (p. 33) e aponta que a escola pode ajudar a criança a se libertar dessas amarras e a desenvolver plenamente suas capacidades. Nesse contexto, apresentamos alguns questionamentos:

O que perturba tanto os adultos quando uma criança resolve brincar, se fantasiar, usar roupas, encenar, assumir a suposta identidade de gênero oposta a sua? Mas por que pais e mãe, professores e professoras temem por permitir essa transgressão de fronteiras, essa invasão de atividades no brinquedo? O que está em jogo? Se considerarmos que os brinquedos infantis promovem a aquisição de conhecimentos, atitudes e habilidades, além de promoverem a socialização das crianças, nos preocupar quando uma criança resolve usurpar esses padrões hegemônicos não seria uma contradição educacional? O que, efetivamente, amedontra os adultos? (FURLANI, 2011, p. 121). No entendimento da autoria (p. 121), no qual comungamos, “é a relação automática que fazemos entre os brinquedos infantis e a formação da identidade sexual da criança, isto é, que o brinquedo explicita e constrói a orientação sexual da criança”. Enquanto os adultos explicitarem “pânico pedagógico” diante de um menino “que se fantasia de bailarina e desliza um batom vermelho em seus lábios, estão demonstrando sua homofobia e sua misoginia” (FURLANI, 2011, p. 121). Além disso, a autora ressalta que:

Enquanto ser homossexual, gay, lésbica, travesti, transexual, transgênero for algo considerado negativo em nossa cultura, pais e mães, professores e professoras se sentirão muitos desconfortáveis em permitir que menino e meninas brinquem, livremente, com seus brinquedos (p. 121).

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Tendo por base essas indagações e ideias, realizamos um diálogo/conversa com futuros/as professores/as de Ciências e Biologia a partir do vídeo “Boneca na Mochila”. A problemática da produção está voltada para a angústia de uma mãe que é chamada na escola por que seu filho foi pego com uma boneca. Este acontecimento ganha grandes proporções, pois chega aos ouvidos da imprensa que faz uma ampla reportagem sobre o assunto, entrevistando ouvintes por telefone. Esses ouvintes têm opiniões diversas sobre a temática. Enquanto isso, mostra-se a aflição da mãe do menino que toma um táxi para ir a escola e acompanha pelo rádio todo o “estardalhaço” que se faz sobre o assunto estabelecendo diálogo com o taxista (CARVALHO; CASAGRANDE, 2008). Por meio deste filme pôde-se analisar como, muitas vezes por desconhecimento ou despreparo, pode-se fazer algo pequeno ganhar grandes proporções e prejudicar pessoas inocentes. Esta atividade possibilita que os/as participantes reflitam sobre a ação da professora, da diretora, da imprensa, do taxista que representa a população e da mãe diante do ocorrido (CARVALHO; CASAGRANDE, 2008).

Procedimentos metodológicos Trata-se de uma pesquisa com abordagem metodológica de cunho qualitativo, almejando a interpretação oriunda das concepções de gênero dos sujeitos envolvidos na pesquisa. Essa está embasada nos pressupostos metodológicos da Pesquisa Qualitativa em Educação que segundo estudos de Mazzotti e Gewandsznajder (2001). O público-alvo composto por 13 futuros/as professores/as de Ciências e Biologia, graduandos/as do 10º período do curso de Ciências Biológicas de uma universidade pública federal mineira do município de Ituiutaba/MG e regularmente matriculados/as na disciplina Educação, Saúde e Sexualidade no 2º semestre de 2011. Esses sujeitos serão identificados por nomes fictícios como forma de mantê-los/as no anonimato. Para pesquisarmos as concepções de Gêneros, realizamos uma atividade prática na referida disciplina, por meio da exibição de um curta metragem intitulado “Boneca na Mochila”. A partir das discussões e debates acerca do vídeo, os/as licenciados/as construíram uma narrativa acerca dos sentidos que atribuem ao vídeo, bem como a continuidade da história que transcendesse o final do curta. Os dados coletados foram analisados a partir de técnicas específicas de análise de conteúdo (BARDIN, 2010) e discutidos a partir do referencial teórico adotado. A partir dos resultados encontrados, trabalhamos no módulo “Sexualidade(s) e Gênero(s): desafios no espaço escolar”, da disciplina Educação, Saúde e Sexualidade, com a estruturação de ações pedagógicas no sentido de problematizar os estereótipos e preconceitos sexistas que perpassam as relações de gênero.

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Resultados Para uma melhor interpretação, agrupamos os dados coletados por meio das narrativas, dividimos o conteúdo expressivo dos discursos dos/as futuros/as professores/as em categorias de análise, dentre as quais, destacamos nesse trabalho: Menino brinca de Boneca? Descobertas e

experimentações da criança; Menino brinca de boneca? Alguns elementos para pensar a formação docente que serão apresentadas nesse trabalho.

Menino brinca de boneca? Descobertas e experimentações da criança Segundo Silva (2008, p. 90) “as escolas estão repletas de meninas que brincam com carrinhos, bonecos de jogos de guerra e meninos que preferem brincar de casinha e com as bonecas”. Isso pode se constituir num problema, conforme percebemos em alguns discursos dos/as futuros/as professores/as, ou não como veremos a seguir. Corroboramos com Furlani (2011) quando a autora considera que os brinquedos infantis promovem a aquisição de conhecimentos, atitudes e habilidades, além de promoverem a socialização das crianças. Neste contexto deveríamos disponibilizá-los sem restrição ou qualquer segregação de acesso baseada no sexo da criança. Essas ideias estão em consonância com os discursos de alguns sujeitos da pesquisa, que entendem o brincar de boneca como: descobertas, experimentação e direito: “Tive um diálogo com os pais e expliquei que ele é apenas uma criança que e está descobrindo novas coisas.” (Paula, 2011).

O filho tem todo o direito de brincar e experimentar com o que ele quiser: boneca, carrinho, bola e etc. que a escola não tem o direito de proibir o filho dela de brincar com isso ou aquilo (Lia, 2011).

Nesse contexto, devemos nos atentar, como reforça Finco (2003) que “as crianças, capazes de múltiplas relações, estão a todo o momento experimentando formas de brincadeira, buscando novos prazeres, fazendo coisas movidas pela curiosidade e vontade de conhecer o mundo.” (p. 96)

Nesta perspectiva, percebemos que alguns sujeitos não vêem como problema quando um menino resolve transgredir os padrões hegemônicos masculinos: “Eu falaria na escola que era só um brinquedo qualquer que meu filho sentiu vontade de brincar e que não existe nenhum problema quanto a isso.” (Rose, 2011). Destacam que: “o problema é nosso julgamento adulto que vê maldade em tudo, e não na criança.” (Maria, 2011), e dessa forma aconselham: “conversar com o filho e em momento algum discriminá-lo ou proibi-lo sobre o que estava acontecendo.” (Élida, 2011). Esses posicionamentos encontram respaldo em Drumond (2010), quando a autora enfatiza que:

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Nas brincadeiras, as crianças transgridem as convenções sociais quando não são podadas pelos adultos. Os meninos também brincam de boneca, levam o bebê para passear de carrinho; brincam de casinha com as meninas e preparam comidinhas saborosas. Estas situações são cotidianas nas creches e pré-escola, e demonstram que as crianças pequenas ainda não foram totalmente tomadas por uma sociedade heteronormativa, que define um único modelo de feminino e de masculino ou de mulher e de homem, de menina e de menino (p.4).

Tal afirmativa corrobora, também, alguns discursos dos/as futuros/as professores/as quando esses não estabelecem uma relação automática entre os brinquedos infantis e a formação da orientação sexual da criança:

Ela disse também que o brinquedo que a criança usa para se divertir não influencia na sua orientação sexual, já que esse não tem idade para saber o que quer e que a escola não está preparada para lidar com essas situações (Lia, 2011).

O que tinha acontecido com o filho era uma forma de expressar/brincar, mas não necessariamente que ele queria ser mulher ou gay, pois homens também podem cuidar de crianças, e nem por isso ele se torna gay ou homossexual, pois a orientação sexual vai além desse parâmetro (Lourdes, 2011).

Esses discursos remetem aos dizeres de Finco (2003, p.98), em que a autora destaque que “é importante que se compreenda que o fato de um menino brincar com uma boneca (...) não significa que ele terá uma orientação homossexual”.

Menino brinca de boneca? Alguns elementos para pensar a formação docente Segundo Finco (2003, p.99) “apesar de estas questões estarem implícitas no dia-a-dia da escola, permeadas nas práticas pedagógicas, ainda estão longe das discussões nos cursos de formação do professor” conforme percebemos a seguir:

A mãe foi pegar seu filho que estava bastante assustado, levou-o para casa e no caminho, explicou para ele que os profissionais da escola ainda não estavam preparados para encarar aquela situação e que era para ele se tranquilizar quanto à questão da boneca, pois ele não era anormal por isso (Carlos, 2011).

A autora ainda menciona que “pouco se discutem as questões de gênero no âmbito das reuniões pedagógicas” (p.99), por isso um sujeito relata que: “O filho sentiria desacolhido e

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desesperado em um local onde deveria se sentir amparado, a escola, os professores e a coordenação da escola sem saber o que fazer, como agir e o que dizer para a mãe e para a criança.” (Ana, 2011). Tais discursos dessa categoria nos apontam que as relações entre os gêneros permeiam sutilmente as práticas pedagógicas do/a professor/a, sendo assim os cursos de licenciatura precisam promover a formação docente auxiliando-os/as na desestigmação de gêneros para que “possamos enxergar as múltiplas formas de ser menino e de ser menina que as categorizações não nos deixam ver.” (FINCO, 2003, p. 100). Assim, de acordo com a mesma autora, “estaremos dando a esses meninos e meninas a possibilidade de serem eles mesmos e percorrem novos caminhos, vivendo a infância com sua inteireza, em sua plenitude.” (p. 100).

Considerações finais Nas narrativas construídas a partir do vídeo “Boneca na mochila” observamos que futuros/as professores/as de Ciências e Biologia demonstraram temer que meninos assumissem a suposta identidade de gênero oposta a sua. Dessa forma, concebem que menino brincar com boneca seria algo problemático e estranho, então precisam estar sob um policiamento constante, para que cada um seja mantido em seu lugar. As transgressões devem ser permanentemente observadas e combatidas através da vigilância das escolas, dos pais e pelo preconceito e rejeição dos colegas, demonstrando nessas concepções homofobia e misoginia. Os resultados apontaram que alguns futuros/as professores/as, apresentam um discurso normatizador que acabam impedindo outras possibilidades, sociais e afetivas, para as expressões de gênero e para as muitas formas de ser menino. Entretanto, outros sujeitos não vêem como problema quando um menino resolve transgredir os padrões hegemônicos masculinos, entendem que a todo o momento as crianças estão experimentando formas de brincadeira, buscando novos prazeres, fazendo coisas movidas pela curiosidade e vontade de conhecer/descobrir o mundo. Compreendem também que o fato de um menino brincar com uma boneca não significa que ele terá uma orientação homossexual. No discurso de alguns futuros/as professores/as encontramos elementos para pensar a formação docente no âmbito das discussões das relações entre os gêneros, tais como: falta de preparação e amparo de alguns profissionais da escola para lidar com essas questões que estão implícitas no dia a dia da escola e permeadas nas práticas pedagógicas. Com o objetivo de desvelar e analisar as concepções de Gênero de futuros/as professores/as de Ciências e Biologia, bem como a relevância de discussão da temática “Relações de Gênero” na formação docente inicial e continuada é que apresentamos este estudo, acreditando que professores/as e futuros/as professores/as possam encontrar muitas questões para serem discutidas e aprofundadas.

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